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Transforme o isolamento em produtividade

Se nos pedissem para imaginar no início do mês de Março que o nosso estilo de vida mudaria de forma radical pouco tempo depois, provavelmente não acreditaríamos. Pois é, mas assim foi. E a ilusão de controlo que tínhamos foi destruída por um inimigo que nem conseguimos ver a olho nu.

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O nosso estilo de vida mudou. Mas mudou por quanto tempo? Por 2 meses? Será? E quando regressarmos à nossa forma "passada" de trabalhar, as coisas voltarão a ser o que eram? Bem, o tempo o dirá, mas há quem antecipe uma mudança de paradigma social e organizacional relacionada com o COVID-19 e, se assim for, o "antigo" normal evaporou-se. Claro, muitos de nós poderão deixar o teletrabalho e voltar para as empresas, mas com novos recursos, com a noção de que existem outras possibilidades de cooperação, interação e de resolução de problemas críticos, conscientes que fomos fortemente estimulados a explorar através do canal virtual, em tempos de quarentena.

 

Eu duvidava da eficácia do ensino à distância, confesso. Porém, quando verifiquei que numa semana apenas, a Universidade onde trabalho conseguiu colocar todos os Professores a dar aulas à distância, com a eficácia possível, comecei a levantar novas questões. Esforcei-me por fazer a minha própria transformação digital e aprendi novos recursos em conjunto com os meus alunos. Hoje, não sou o mesmo que era no início de Março, não no plano dos meus valores pessoais, mas no plano das minhas competências, enquanto docente, formador e coach. A consciência de que é exequível dar aulas e formação à distância, de uma forma eficaz, foi reforçada pelos pedidos de diversos alunos para que as aulas se mantivessem no regime e-learning, mesmo que a quarentena termine antes do final do semestre. Se quero escolher entre o e-learning e o presencial? Não quero! Gosto dos processos de cocriação que desenvolvo nas minhas aulas presenciais e da interação viva que estabeleço com os meus alunos. Penso, porém, que não temos que escolher, trata-se de um "e", operarmos com mais uma opção no processo ensino-aprendizagem, que já fez a diferença na vida de muitos e que, caso não existisse a tecnologia necessária para o e-learning e para o teletrabalho, teríamos tido uma quarentena muitíssimo mais pobre e improdutiva.

 

Como podemos então ser mais produtivos, no já apelidado "novo normal", em que o trabalho à distância tenderá a ser uma realidade cada vez mais presente?

Para se dar resposta a esta questão, é importante começar por partilhar que, de acordo com um estudo recente da FYI, 96% das pessoas que trabalham remotamente recomendam esta forma de colaboração a um amigo, ou seja, estão muito satisfeitas. Os três principais fatores que contribuem para este elevado nível de satisfação são: liberdade e flexibilidade, ausência de deslocações casa trabalho e o aumento da produtividade. No entanto, também são apontados desafios. Sendo que a comunicação é o principal. A oportunidade passa então, essencialmente, por reaprendermos a comunicar e a reduzir o espaço que nos separada uns dos outros através do espaço virtual. O acelerado desenvolvimento das novas tecnologias tem vindo a apoiar, cada vez mais, a eficácia do processo de comunicação, no entanto, existe uma parte que nos compete continuar a desenvolver enquanto seres humanos. Para dar um exemplo, na última aula que facilitei na Universidade, desafiei-me a utilizar a maioria das ferramentas que a plataforma de ensino tinha à nossa disposição (quadro interativo, partilha de écran, pools, divisão em grupos, etc.) e posso confessar-vos que obtive um excelente feedback dos alunos acerca da dinâmica que foi criada.

 

As ferramentas existem, e cada vez mais serão suportadas por tecnologia de última geração, e nessa medida somos convidados a assumir a responsabilidade de as explorarmos, aprendermos novos recursos e retirarmos, se possível, o melhor dos dois mundos (presencial e online). A produtividade no trabalho à distância também pode ser alavancada com a criação de rotinas, que todos conhecem lá em casa, o estabelecimento de fronteiras claras entre o trabalho e a vida pessoal, a criação de um espaço remoto de trabalho que nos agrade, a utilização de regras de etiqueta nas nossas videocalls e, naturalmente, com o cultivar do nosso bem-estar (exercício, meditação, nutrição adequada, descanso, manutenção de relacionamento saudáveis com os nossos amigos, familiares, colgas, etc.). O futuro é uma incógnita, mas é possível abraçarmos a mudança e, com criatividade, estarmos mais preparados para o "novo" normal que já é uma realidade.

 

Afinal, em teletrabalho, tal como no trabalho em contacto com outros, a produtividade depende de si. O desafio é, pois, continuar produtivo e criativo no atual enquadramento.

 

António Sacavém

Professor Auxiliar da Universidade Europeia, Professor Auxiliar Convidado do IPAM e Docente Convidado no Leadership Lab da Católica-Lisbon School of Business and Economics. Partner da António Sacavém Communication Academy.

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