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27 de Janeiro de 2011 às 11:54

"What you export matters"

O nível de exportações determina o nível de consumo sustentável.

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O que exportamos marca também a produtividade e os salários que podemos ter. A evolução das exportações que se está a verificar é, assim, muito positiva e muito importante.

1. - Numa pequena economia aberta, a evolução do volume de exportações é um bom indicador da evolução futura do nível de consumo que esta pode sustentar. Isto acontece por uma parte importante da procura ser dirigida a bens importados. A menos que esta parte diminua, para sustentar aumentos de consumo tem de haver um aumento proporcional das exportações.

Os anos 90 e os primeiros anos do novo século dão uma prova clara de que esta igualdade não tem de se verificar no curto prazo. No curto e médio prazo o consumo pode crescer acima da capacidade exportadora do País. O nível de endividamento a que a sociedade portuguesa chegou, e a inevitável correcção que tem agora de fazer, são prova de que esta igualdade tem de se verificar no longo prazo.

De facto, estando o País plenamente inserido no mercado global, o nível de consumo que os portugueses podem manter daqui a uma década será determinado pela capacidade que estes tenham de exportar, pois serão as exportações que vão pagar a parte crescente da sua despesa feita em bens importados, num mundo em que a queda de fronteiras e a tecnologia estão a tornar mais aberta uma parte maior da economia.

O gráfico apresentado em cima mostra de forma clara que estas ideias, que se podem aplicar a qualquer pequena economia aberta, são relevantes para o caso português. De facto, os dados do quadro sugerem que os períodos de convergência de Portugal com os países europeus foram sempre precedidos de períodos em que a capacidade exportadora aumentou.

O facto de as exportações terem crescido, em 2010, ao ritmo mais acelerado desde o início do novo século é não só positivo mas também um facto muito relevante, por indicar que o País está simultaneamente a recuperar capacidade de crescimento económico e a corrigir o desequilíbrio externo que a nossa economia apresenta há mais de uma década.

2.- Por outro lado, o País não só está a exportar mais, está também a exportar bens e serviços diferentes. Hoje, as principais exportações portuguesas são máquinas, material de transporte, material eléctrico e indústria química. São também exportações de serviços, nas quais se tem destacado o crescimento de exportações de serviços tecnológicos, com as exportações de informática, de serviços de engenharia ou de direitos de patentes a crescerem a um ritmo muito superior à média.

Esta alteração da estrutura de exportações e da especialização pode ser determinante para o potencial de crescimento futuro da economia portuguesa.

A literatura recente tem colocado forte ênfase na forma como a especialização pode afectar o potencial de crescimento futuro dos países. Ricardo Hausmann, Jason Hwang e Dani Rodrik estão entre os autores que mais contribuíram para colocar esta questão na agenda.

Estes autores afirmam que o tipo de bens em que um país se especializa tem implicações na sua "performance" económica futura, salientando que uma evolução da especialização no sentido do aumento do peso das exportações de bens mais sofisticados (bens exportados pelos países mais desenvolvidos) está associada a maiores ganhos de produtividade. "What you export matters" é o título de um dos seus "papers", de que aqui me apropriei (1).

Os resultados divulgados por estes autores sugerem que os ganhos que os países podem obter com a globalização dependem muito da capacidade de os países alterarem a sua especialização no sentido de se posicionarem como exportadores de bens e serviços mais sofisticados, isto é, mais próximos dos que os países mais desenvolvidos exportam.

A evolução da especialização portuguesa na última década e meia foi claramente nesse sentido.
Verificou-se um forte aumento do peso das exportações de bens de média e alta tecnologia e aumentou fortemente a componente dos serviços. Em resumo, verificou-se uma forte convergência da estrutura de exportações portuguesa com a estrutura média dos países mais desenvolvidos.

Tal como uma empresa não cresce quando está em remodelação, mas se prepara melhor para crescer nos anos seguintes, a alteração da estrutura de exportações não gerou crescimento enquanto aconteceu a ritmo acelerado. Pelo contrário, a alteração significou destruição de produção nuns sectores e crescimento noutros. No entanto, no final, a alteração já verificada e as mudanças em curso deixaram o País numa posição diferente, com uma inserção na economia global que permite a Portugal estar já a ter maiores ganhos de produtividade e a garantir que no futuro pode ser competitivo com níveis salariais mais elevados.





(1) http://www.hks.harvard.edu/var/ezp_site/storage/fckeditor/file/pdfs/centers-programs/centers/cid/publications/faculty/wp/123.pdf

Universidade do Minho
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