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26 de Novembro de 2000 às 15:07

«QI, QE, QES e outros Q's»

Ninguém questiona hoje que a neurociência é um dos temas mais fascinantes da nossa época e por certo do futuro.

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Ninguém questiona hoje que a neurociência é um dos temas mais fascinantes da nossa época e por certo do futuro.

Mais do que na sua importância do ponto de vista científico, é na sua aplicabilidade ao nível organizacional que nos interessa reflectir, não só no que diz respeito à aprendizagem, mas acima de tudo no que concerne ao desempenho das pessoas.

No início do Século XX, o QI - Quociente de Inteligência, visto como a nossa inteligência intelectual ou racional para resolver problemas e situações, tornou-se, no meio académico, um dos  temas da actualidade. Posteriormente, o QI passou a ser usado como o principal indicador empregue em processos de selecção e predictor de desempenhos e de aprendizagem. Com o andar dos tempos, verificou-se contudo que nem sempre os mais “inteligentes” eram os que conseguiam melhores resultados e integração ao nível organizacional.

Com o aproximar do final do Século, António Damásio em 1994 com o seu “Erro de Decartes” e Daniel Goleman em 1996 com a sua “Inteligência Emocional” fazem surgir o QE – Quociente ou Inteligência Emocional à qual é dada tanta ou mais importância como ao “velho” QI. Do ponto de vista social e organizacional a IE surge assim como a nossa capacidade para identificar e reconhecer os sentimentos próprios e dos outros. É a responsável, entre outros aspectos, pela empatia, motivação e capacidade para responder adequadamente ao prazer e à dor. É, segundo Goleman,  a condição básica para aplicar correctamente o nosso QI. Se as nossas zonas cerebrais que processam as emoções estiverem afectadas, por certo que pensaremos e agiremos de forma correcta.

Com o início do novo Século, alguns cientistas começam a apresentar a existência de um novo Q, a que chamaram por enquanto QES ou Quociente Espiritual, o qual está associado à necessidade humana de resolver os problemas existenciais e onde são colocadas as nossas vidas e acções num contexto mais profundo e com significado.

Nesta perspectiva a IES é caracterizada como o integrador último do QI e QE, nesta busca incessante do ser humano pelo conhecimento de si próprio. Estão neste percurso uma vez mais Damásio, com o “Conhecimento de si” e Zohar, com “Connecting with our Spiritual Intelligence”. A IES faz de nós os seres holísticos que somos, quer do ponto de vista intelectual, quer emocional e espiritual. E uma vez mais a presença destes domínios faz-se sentir no dia a dia, quer na nossa vida privada, quer organizacional.

Algumas características de uma IES elevada incluem um grau elevado de auto-conhecimento, a capacidade para enfrentar o sofrimento, a relutância em causar mal desnecessário, a tendência para ver interligações, e a facilidade para trabalhar com o não convencional.

Noutro percurso concorrente com a procura de níveis superiores de inteligência, outras questões vêem intrigando os investigadores, nomeadamente perceber as razões pelas quais pessoas com baixo QI conseguem encontrar  formas engenhosas de resolver problemas e ultrapassar obstáculos. Chama-se a esta forma de inteligência, Inteligência Tácita e está associada ao que muitas vezes apelidamos de “Bom Senso”. Para os que têm preocupações de Gestão em geral e de Recursos Humanos em particular, é óbvio que seria excelente dispor de metodologias e instrumentos que permitissem despistar em processos de selecção, ou de promoção, colaboradores com elevados indicadores de IT. O psicólogo Robert Sternberg, da Universidade de Yale, que se tem assumido como um dos pioneiros da investigação neste domínio, não tem “papas na língua” ao afirmar que o QIT é um melhor predictor de “job performance” do que o QI. Neste sentido, começaram a ser desenvolvidos os primeiros testes para medir esta nova forma de inteligência, que para já passa por determinar a capacidade para aprender com os erros, gerir situações de mudança, e trabalhar com informação incompleta.

Estamos ainda no princípio desta nova área da neurociência, com impacto directo na Performance Humana e no Comportamento Organizacional. Aguardemos pois “cenas dos próximos episódios” desta fascinante série.

 

José Aires da Silva

Director Geral - Tracy Human Performance

Grupo Tracy International

ana.rita@tracy-international.pt

www.tracy-international.pt

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