Opinião
«QI, QE, QES e outros Q's»
Ninguém questiona hoje que a neurociência é um dos temas mais fascinantes da nossa época e por certo do futuro.
Ninguém questiona hoje que a neurociência é um dos temas mais fascinantes da nossa época e por certo do futuro.
Mais
do que na sua importância do ponto de vista científico, é na sua
aplicabilidade ao nível organizacional que nos interessa reflectir, não só no
que diz respeito à aprendizagem, mas acima de tudo no que concerne ao
desempenho das pessoas.
No
início do Século XX, o QI - Quociente de Inteligência, visto como a nossa
inteligência intelectual ou racional para resolver problemas e situações,
tornou-se, no meio académico, um dos temas
da actualidade. Posteriormente, o QI passou a ser usado como o principal
indicador empregue em processos de selecção e predictor de desempenhos
e de aprendizagem. Com o andar dos tempos, verificou-se contudo que nem sempre
os mais “inteligentes” eram os que conseguiam melhores resultados e integração
ao nível organizacional.
Com o aproximar do final do Século, António Damásio em 1994 com o seu “Erro de Decartes” e Daniel Goleman em 1996 com a sua “Inteligência Emocional” fazem surgir o QE – Quociente ou Inteligência Emocional à qual é dada tanta ou mais importância como ao “velho” QI. Do ponto de vista social e organizacional a IE surge assim como a nossa capacidade para identificar e reconhecer os sentimentos próprios e dos outros. É a responsável, entre outros aspectos, pela empatia, motivação e capacidade para responder adequadamente ao prazer e à dor. É, segundo Goleman, a condição básica para aplicar correctamente o nosso QI. Se as nossas zonas cerebrais que processam as emoções estiverem afectadas, por certo que pensaremos e agiremos de forma correcta.
Com o início do novo Século, alguns cientistas começam a apresentar a existência de um novo Q, a que chamaram por enquanto QES ou Quociente Espiritual, o qual está associado à necessidade humana de resolver os problemas existenciais e onde são colocadas as nossas vidas e acções num contexto mais profundo e com significado.
Nesta
perspectiva a IES é caracterizada como o integrador último do QI e QE, nesta
busca incessante do ser humano pelo conhecimento de si próprio. Estão neste
percurso uma vez mais Damásio, com o “Conhecimento de si” e Zohar, com
“Connecting with our Spiritual Intelligence”. A IES faz de nós os
seres holísticos que somos, quer do ponto de vista intelectual, quer emocional
e espiritual. E uma vez mais a presença destes domínios faz-se sentir no dia a
dia, quer na nossa vida privada, quer organizacional.
Algumas
características de uma IES elevada incluem um grau elevado de auto-conhecimento,
a capacidade para enfrentar o sofrimento, a relutância em causar mal desnecessário,
a tendência para ver interligações, e a facilidade para trabalhar com o não
convencional.
Noutro
percurso concorrente com a procura de níveis superiores de inteligência,
outras questões vêem intrigando os investigadores, nomeadamente perceber as
razões pelas quais pessoas com baixo QI conseguem encontrar
formas engenhosas de resolver problemas e ultrapassar obstáculos.
Chama-se a esta forma de inteligência, Inteligência Tácita e está associada
ao que muitas vezes apelidamos de “Bom
Senso”. Para os que têm preocupações de Gestão em geral e de Recursos
Humanos em particular, é óbvio que seria excelente dispor de metodologias e
instrumentos que permitissem despistar em processos de selecção, ou de promoção,
colaboradores com elevados indicadores de IT. O psicólogo Robert Sternberg, da
Universidade de Yale, que se tem assumido como um dos pioneiros da investigação
neste domínio, não tem “papas na língua” ao afirmar que
o QIT é um melhor predictor de “job performance” do que o QI.
Neste sentido, começaram a ser desenvolvidos os primeiros testes para medir
esta nova forma de inteligência, que para já passa por determinar a capacidade
para aprender com os erros, gerir situações de mudança, e trabalhar com
informação incompleta.
Estamos
ainda no princípio desta nova área da neurociência, com impacto directo na
Performance Humana e no Comportamento Organizacional. Aguardemos pois “cenas
dos próximos episódios” desta fascinante série.
José Aires da Silva
Director Geral - Tracy Human Performance
Grupo
Tracy International
ana.rita@tracy-international.pt
www.tracy-international.pt