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Presidente deve presidir

Durão Barroso não tinha outra alternativa, senão desafiar o Parlamento Europeu, entrar num jogo de elevadíssimo risco e «segurar» o inenarrável senhor Buttiglione na «sua» Comissão. Se há uma lista das maiores imbecilidades na União Europeia, o processo d

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Há um princípio na liderança, seja qual for a circunstância ou o local, seja na empresa, no país ou numa União de Estados, que é elementar e inegociável: um líder escolhe a sua equipa.

Pois a União Europeia faz tudo ao contrário. Foi pelo politicamente correcto, optou pelo equilíbrio de poderes e ignorou olimpicamente a pergunta essencial: e funciona?

Não é de agora, mas o presidente da Comissão Europeia continua a «fingir» que escolhe os seus comissários. Na verdade, limita-se a dizer «sim» ou «não» a cada um dos nomes, que cada Governo, de cada país, entende designar.

Foi assim que o senhor Buttiglione caiu no prato da sopa do doutor Barroso. Porque há um país que decidiu confiar os seus destinos a um desastre superior, que dá pelo nome de Sílvio Berlusconi.

A aberração não fica por aqui. E esta é mais recente. Mesmo que o presidente da Comissão diga «sim», os eurodeputados podem dizer «não». É democrático. Um Parlamento com poderes. Tantos poderes que lhe basta dizer «não» a um, que é o que está a acontecer com o italiano, para mandar toda a equipa abaixo.

Como é óbvio esta perversão de regras não surge por acaso. Ela é consequência directa de uma esclerose geral do modelo europeu, há muito detectada, mas também nunca resolvida.

A União Europeia é uma federação a sério para criar uma moeda. Tenta harmonizar políticas, nomeadamente a orçamental. Avança, inclusivamente, com um projecto de Constituição comum, que culmina um lento mas progressivo caminho na uniformização de leis entre os Estados. Depois não tem conteúdo político.

Isto não é sustentável, seja qual for o desfecho da crise Barroso no fim da manhã de hoje. Um chumbo do Parlamento Europeu abre uma crise sem precedentes, porque a Comissão submerge e o Conselho é desafiado.

Mas se Barroso e a sua equipa passarem rés-vés por Estrasburgo, o problema de fundo persiste. E ainda ganhamos um comissário europeu da Justiça que manda os homossexuais para a igreja expiar pecados e as mulheres lavarem pratos na cozinha.

Não é, obviamente, um folclore destes que vai hoje a votos. É um embuste chamado União.

Que é comandada por um Conselho, em que os chefes de Governo se reúnem nos intervalos dos problemas domésticos. Que tem um Parlamento que nasce de umas eleições em que quase ninguém vota.

E, por fim, uma Comissão. Presidida por um verbo de encher ou, como se está a ver, por um candidato à morte. Aceitar o senhor Buttiglione foi um erro de avaliação lamentável. Barroso, mestre na arte da sobrevivência, optou por não o substituir sob pressão. Prefere morrer de um golpe só do que ficar a morrer aos bocadinhos.

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