Opinião
Perder o Norte
Poucas matérias geram mais consenso do que a necessidade de melhorar o sistema estatístico nacional. Também são reconhecidas as dificuldades financeiras do INE, que quase chegaram ao caricato dos «salários em atraso».
Poucas matérias geram mais consenso do que a necessidade de melhorar o sistema estatístico nacional. Também são reconhecidas as dificuldades financeiras do INE, que quase chegaram ao caricato dos «salários em atraso». Mas assumir que o redimensionamento e o rejuvenescimento dos quadros deve ser feito encerrando as quatro delegações regionais, um processo que de uma assentada permitirá reduzir 280 dos actuais 800 postos de trabalho, só pode ser classificado como solução de facilidade.
É ignorar a contribuição que as direcções desconcentradas deram ao desenvolvimento de produtos estatísticos apropriados às necessidades das regiões onde se inserem.
O propalado modelo da «concentração geográfica», de que fala a auditoria da Roland Berger mas que é sobretudo um pressuposto de quem lhe encomendou o trabalho, vem à revelia das tendências actuais, em que o próprio Governo tem dado alguns sinais de vontade política de descentralizar. Sob pena de, a prazo e em nome da eficiência, acabar tudo transferido para Madrid ou até para Bruxelas.
Mesmo que a opção fosse a redução das direcções regionais a pequenos pólos estatísticos, com a retirada da coordenação de projectos nacionais dar-se-ia uma machadada nas competências das respectivas regiões.
Por experiência própria, sei que a Direcção Regional do Norte do INE teve na década de 90 apreciável dinamismo e produziu produtos estatísticos mais finos do que aqueles que alguma vez tinham saído do INE. Mérito de quem a dirigiu e sobretudo percepção do terreno. Foi esse o objectivo, aliás, que norteou o então ministro do Planeamento Valente de Oliveira na definição do actual modelo. Reduzir tudo isto, na melhor das hipóteses, a pequenas estruturas meramente operacionais, é sinal de que quem tutela matéria tão sensível quanto a do sistema estatístico nacional perdeu o Norte. E está também a fazer perder o país.