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09 de Outubro de 2006 às 13:59

Os "tucanos"

Por causa de um pássaro, Lula da Silva arrisca o impensável: perder as eleições no Brasil. O pássaro é o símbolo de um partido. Os seus membros são apelidados de "tucanos".

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Geraldo Alckmin é, agora, o "tucano" de serviço.

O PSDB, o partido de Alckmin, nasceu em 1988 a partir de uma dissidência do PMDB e da desilusão das políticas de José Sarney. Esta dissidência foi encabeçada por Fernando Henrique Cardoso, ex- -Presidente, à época Senador, Mário Covas e José Serra e no meio do grupo já constava o nome de Geraldo Alckmin. Trata-se, a todos os títulos, de grandes figuras da política brasileira, que por cá são pouco conhecidos por andarmos atentos às novelas e a pouco mais que chegue do Brasil e também por acharmos que dos políticos brasileiros pouco mais há a esperar que palavras barrocas e balofas. O PSDB juntou, então, uma série de correntes do pensamento político, numa confluência (há quem lhe chame amálgama) que o situou no centro (pois então), o que lhe permite inclinar-se para o centro-esquerda quando é preciso e para o centro-direita quando é necessário. Um potencial ganhador, portanto.

Do outro lado, instalado no Planalto, estava o PT de Lula. Instalado como estava deixou correr, confiante. Lula representa, porventura, um determinado modelo da idiossincrasia brasileira – escalar os lanços do poder com a inspiração do momento sem uma ponta de preparação e sem objecto de patamares criteriosos de avaliação. No caso concreto, a isto somou uma série de erros detectados "a posteriori". Tendo fugido a custo do escândalo do "mensalão", fugiu a seguir aos debates na campanha. Centrou os contactos de rua nos pobres mais pobres do país, reconfortando-se a si próprio pelo facto de no mandato ter permitido a obtenção de tanto dinheiro pelos mais ricos dos ricos. E como se não bastasse viu a sua imagem envolvida, ainda que indirectamente, no escândalo da compra, por 1,7 milhões de reais, de um dossiê contra políticos. Quais ? Os "tucanos", precisamente. A sensação do último ano e meio de que valia tudo desde que não se provasse uma ligação directa de Lula a casos de corrupção, foi ampliada de forma descomunal por este último escândalo. Ocorre que a todos os erros se veio somar um último que lhe ia sendo fatal – e veremos se não será. Lula ignorou olimpicamente a classe média brasileira. Aquela classe que "tem de pagar renda e plano de saúde" e o pequeno empresariado responderam nas urnas. De tal maneira que Lula foi derrotado nos Estados do sul e em S.Paulo e no Centro-Oeste onde se concentram os empresários do agronegócio. Ao invés, Alckmin dirigiu-se à classe média e teve e tem o apoio do "establishement" industrial agrupado na Fiesp – que é a federação das indústrias de S. Paulo. A conclusão a retirar da primeira volta é, assim, muito simples: ter o apoio dos ricos mais ricos e dos pobres mais pobres não chega para ganhar. E no subconsciente dos indecisos terá pesado a convicção de que, afinal, os "tucanos" não são os sopranos. Nem são de menosprezar como, por evidente falta de preparação, a vários níveis, não só políticos, Lula se comportou para com eles. Mais um erro, desta vez de personalidade.

O que ocorrerá na segunda volta pertence, por agora, ao domínio dos prognósticos. E eles são reservados. Certo é, apenas, o aumento da polarização. De resto, tudo depende de como o eleitorado avalia a credibilidade dos dois candidatos e dos apoios que recolherem (sendo que alguns são verdadeiros tiros nos pés). E da capacidade de influência sobre os eleitores das pressões em nome do Mercosul que os argentinos se esforçam por agitar. Hoje, as eleições não se confinam a um país e já não cabem nele. Nem as eleições nem as suas consequências. E a este nível parece claro que, agora ou mais tarde, o tucano voltará a voar.

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