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Isabel Meirelles 16 de Fevereiro de 2006 às 15:08

O poder gera poder

Verificar o que acontece noutros Estados-membros da União Europeia em matéria de política interna e de eleições, dá-nos uma perspectiva diferente, no mínimo mais optimista e clarividente, em relação ao que se passa em Portugal.

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Verificar o que acontece noutros Estados-membros da União Europeia em matéria de política interna e de eleições, dá-nos uma perspectiva diferente, no mínimo mais optimista e clarividente, em relação ao que se passa em Portugal.

Estou a referir-me às eleições legislativas em Itália marcadas para os dias 9 e 10 de Abril, cuja campanha eleitoral arrancou esta semana e que põe em confronto duas formações do centro, a saber, uma do centro direita liderada pela coligação do Primeiro Ministro Sílvio Berlusconi e outra do Centro Esquerda dirigida pelo antigo presidente da Comissão Europeia Romano Prodi.

Estes velhos adversários políticos, disputam, novamente o poder, embora em circunstâncias diferentes, num país debilitado economicamente, com défices morais, de competitividade e financeiros, que fazem soar alertas comunitários que não apenas aqueles decorrentes dos compromissos adoptados no âmbito do Pacto de Estabilidade e Crescimento.

Prodi chefiou, entre Abril de 1996 e Novembro de 1998, a coligação Oliveira, a única genuinamente de esquerda desde a queda do regime fascista de Mussolini, a qual derrotou, surpreendentemente, Berlusconi. Aquele homem, sem carisma que já esteve durante um mandato à frente de uma das mais poderosas instituições comunitárias, é um professor de economia, que contra todas as expectativas conseguiu o milagre da adesão da Itália ao euro, e que se prepara agora, enquanto líder da nova coligação União, para aquilo que melhor sabe fazer que é a arte do compromisso, enquanto valor político fundamental do seu país.

O seu oponente mais directo é apenas o homem mais rico de Itália, que conseguiu através de manobras políticas e legais pouco transparentes fugir a uma segunda edição da operação «Mãos Limpas» que, recorde-se, culminou, no início dos anos noventa, com o mediático assassinato à bomba do Procurador anti-máfia Giovanni Falcone, da sua mulher e de três guarda-costas.

De facto Berlusconi, oriundo de uma família pobre de Milão usou o seu encanto para vender, no inicio de carreira, todo o tipo de artigos e serviços até conseguir um vasto império que começou pela construção civil e se estendeu à alimentação, ao futebol do AC de Milão e, sobretudo, aos media. Por virtude do seu grupo Fininvest, que conta com cerca de 150 empresas, foi alvo de acusações graves por tentativa de corrupção de juízes para que decidissem favoravelmente a favor dos seus interesses empresariais.

Com a coligação Forza Italia o seu poder alargou-se à política, que usou e abusou, nomeadamente ao conseguir aprovar no Parlamento uma lei que conferiu imunidade a cinco titulares de cargos chave, incluindo o de Primeiro Ministro.

Este poder do seu grupo mediático tem sido usado abusivamente em todas as frentes. Berlusconi adiou mesmo o início da campanha política a ponto de o Chefe de Estado Carlo Azeglio Ciampi, ter chamado a atenção á televisão italiana RAI para a desproporção dos tempos de antena concedidos aos dois adversários.

Com efeito, Berlusconi conseguiu passar, nas três primeiras semanas de Janeiro, nos vários canais, 7 horas e 37 minutos, contra uma hora e nove minutos a favor de Prodi, tudo porque a RAI é controlada maioritariamente pelo poder e se recusou a aplicar as regras da paridade, alegando que ainda não se estava em período eleitoral.

Esta exposição mediática já produziu os seus frutos, dado que a diferença entre as duas coligações diminuiu e passou já de 7ª a 8% para 5 a 6%.

Berlusconi que já foi visto pelo cidadão comum italiano como um dos seus iguais e que conseguiu mesmo ser um ícone do sucesso ao demonstrar que poderia fazer pelo país o que fez por si próprio, digladia-se agora com um Prodi que, apesar do seu cinzentismo, conseguiu nunca ser tocado por escândalos de corrupção.

Em suma, comparativamente, temos que nos regozijar porque tudo vai bem em Portugal onde, apesar de tudo, o combate político não assume estas proporções inusitadamente escandalosas e indignas de um Estado de Direito.

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