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13 de Julho de 2010 às 12:57

O impacto das alterações na moeda chinesa

O fim da indexação só deverá, por conseguinte, ter um impacto mudo na mais alargada economia global a curto prazo e não se espera que tenha qualquer impacto significativo nas previsões macroeconómicas para a China (nem mesmo para o resto da Ásia) nos próximos 12 a 18 meses.

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A China surpreendeu os mercados ao pôr fim à indexação do Renminbi (RMB) ao dólar dos EUA, uma política que tinha sido reintroduzida em Julho de 2008, durante a crise financeira mundial. Na nossa opinião, o anúncio do Banco Central da China representa uma mudança na política de Pequim, ainda que qualquer apreciação inicial do RMB se revele bastante modesta. O RMB ficará restringido a uma subida ou a uma queda não superior a 0,5% face ao dólar dos EUA num único dia.


O fim da indexação só deverá, por conseguinte, ter um impacto mudo na mais alargada economia global a curto prazo e não se espera que tenha qualquer impacto significativo nas previsões macroeconómicas para a China (nem mesmo para o resto da Ásia) nos próximos 12 a 18 meses.

Não obstante, a decisão de passar para um regime cambial mais flexível é um anúncio importante e continuará a atrair a atenção dos meios de comunicação social, quanto mais não seja porque o fim da indexação ao dólar pode ter consequências maiores para a China e para o resto do mundo a longo prazo.

Embora a data exacta para a decisão de pôr fim à indexação tenha sido uma grande surpresa para os investidores, a decisão de permitir uma apreciação gradual do RMB face ao dólar dos EUA era algo que a maioria dos observadores da China esperava que ocorresse a meio deste ano.

A decisão foi, provavelmente, um "negócio fechado" após a visita do Secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, a Pequim, no final de Maio, para as reuniões bilaterais de "Diálogo Estratégico e Económico" com os líderes chineses. A administração norte-americana apercebeu-se que é mais provável que a China implemente reformas monetárias na ausência de uma forte pressão pública por parte de Washington do que se estiver sob coação ou sob a ameaça de sanções comerciais, conforme defendido por alguns políticos dos EUA.

A Administração Obama manteve-se sabiamente afastada das críticas à China e foi recompensada com a decisão chinesa de pôr fim à indexação ao dólar. A reavaliação inicial do RMB, embora modesta, pode ser o primeiro passo incremental no caminho para uma mais significativa reavaliação. Isto também ajudará a dissipar alguma da pressão proteccionista no Congresso dos EUA a curto prazo.

Qual será o impacto para a economia?

Num primeiro nível, a revalorização da moeda é um voto de confiança das autoridades numa recuperação sustentada para a economia chinesa. Por outro lado, o anúncio do Banco Central da China pode ser visto mais como um gesto de boa vontade para com a América. Contudo, a expectativa é a de que a revalorização dê origem apenas a uma apreciação gradual do RMB, pelo menos a curto prazo.

Uma apreciação gradual do RMB terá apenas um modesto impacto na economia chinesa, na nossa opinião. Aliado a um aumento dos salários, um RMB mais forte deve melhorar os rendimentos das famílias e, de certo modo, acelerar a reequilibrar a estrutura económica chinesa de um modelo de crescimento impulsionado pelo investimento para um modelo cada vez mais impulsionado pelo consumo.

Ao decidir autorizar uma maior flexibilidade do RMB no futuro, o anúncio do Banco Central da China deixa claro que é improvável que venham a ocorrer alterações dramáticas no regime monetário a curto prazo. Como tal, os intervalos de flutuação diária do RMB permanecerão os mesmos.

O Banco Central da China também sublinhou que, com o comércio externo chinês a aproximar-se de um equilíbrio (o excedente da conta corrente enquanto percentagem do PIB está em declínio desde o início de 2010), não há qualquer base para uma reavaliação em larga escala da moeda nesta altura.

Todavia, os objectivos macroeconómicos a mais longo prazo, definidos no último parágrafo do anúncio, são, talvez, mais ambiciosos. Estes objectivos incluem um compromisso em "permitir que o mercado desempenhe um papel mais fundamental na atribuição de recursos, promover uma mais equilibrada balança de pagamentos, manter a taxa de câmbio do RMB praticamente estável a um nível de adaptação e equilíbrio e alcançar estabilidade macroeconómica e financeira na China".

Na nossa opinião, estes objectivos irão, ao longo do tempo, requerer mais do que apenas uma apreciação gradual do RMB para serem atingidos.

Qual será o impacto para os mercados?

É provável que o anúncio do Banco Central da China seja visto pelos mercados como positivo e possa, por conseguinte, ajudar a melhorar o sentimento de mercado, que começa claramente a recuperar do colapso de Maio. Contudo, um regime monetário ligeiramente mais flexível aliado a uma apreciação gradual do RMB face ao USD é, desde há muito, um cenário macroeconómico central para a China. Em virtude disso, o anúncio não traz grandes implicações para as estratégias de investimento chinesas.

Todavia, os títulos da banca e do imobiliário oferecem um bom valor e um rácio risco/recompensa em melhoria. Estas acções deverão recuperar acentuadamente assim que os receios quanto à "restrição política" se dissipem perante os sinais de uma descida nos preços imobiliários e à medida que a economia abrandar gradualmente para uma mais sustentável taxa de crescimento.

Um RMB mais forte permitirá, também, que outras moedas asiáticas, como o dólar de Singapura, o ringgit da Malásia e o won da Coreia, se apreciem moderadamente face ao dólar dos EUA e ao euro nos próximos meses.

De um ponto de vista macroeconómico, o anúncio deve contribuir para o reequilíbrio económico e promover um afastamento necessário do crescimento impulsionado pelas exportações para um crescimento liderado pela procura. Em suma, o anúncio sobre a moeda chinesa é positivo e deve reforçar o recente desempenho positivo dos mercados accionistas chinês e asiático a curto prazo.

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