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02 de Fevereiro de 2004 às 13:53

O enigma do crescimento

Há mais de duas décadas que a economia mundial (sempre com a excepção da China) vem desacelerando o crescimento económico e a retoma continua a tardar.

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Há mais de duas décadas que a economia mundial (sempre com a excepção da China) vem desacelerando o crescimento económico e a retoma continua a tardar.

Continuamos em pleno paradoxo. E quando falo em "nós" não me refiro aos Portugueses mas a toda a Humanidade – com a excepção da China.

Há mais de duas décadas que a economia mundial (sempre com a excepção da China) vem desacelerando o crescimento económico e a retoma continua a tardar. Há sem dúvida, neste momento, alguns sintomas de optimismo e pode ser que o Mundo venha a apresentar em breve novos ritmos de crescimento económico mais razoáveis.

Esperemos que sim. Mas, por enquanto, são só esperanças e, seja como for, ficará sempre por explicar o paradoxo das últimas décadas em que muito se fez para acelerar o crescimento e muito pouco se obteve. Que dizem os economistas sobre isto?

A teoria do crescimento vem tentando, desde há quase setenta anos, explicar porque é que existem países que crescem mais rapidamente que outros. Ao princípio, a explicação parecia óbvia. Há países que têm um crescimento económico mais rápido porque acumulam mais equipamento, ou seja investem mais.

Foi a explicação favorita dos anos cinquenta e de grande parte dos anos sessenta. E parecia estar certa, De facto, naqueles anos o crescimento da economia mundial foi rápido (o mais rápido de sempre) e ia de par com uma também rápida acumulação de equipamento. Tudo parecia conjugar-se.

Mas eis que começa a verificar-se que países que investiam muito, afinal, não conseguiam atingir ritmos de crescimento satisfatório e desperdiçavam, portanto, equipamento. E as dívidas sobre se a explicação era a correcta tornaram-se certezas negativas quando, ainda nos anos sessenta, estudos empíricos muito completos começaram a detectar que o que fundamentalmente explicava o crescimento económico não era o crescimento do equipamento ou da mão de obra empregue mas, antes, um factor residual que os economistas não sabiam verdadeiramente o que era!

Alguns consideravam esse factor residual como sendo o progresso técnico, bem como a melhoria da formação da mão de obra, ou seja o capital humano. Outros, preferiam interpretar o "resíduo" (que afinal não o era) como estando determinado pelo funcionamento das instituições, tanto a nível das empresas como dos países e da economia mundial em geral.

Desta forma, a teoria do crescimento, apoiada nos primeiros, começou a recomendar grandes investimentos no capital humano (educação e formação profissional) e no progresso técnico, ou seja, na investigação e desenvolvimento e na inovação.

Apoiada nos segundos, recomendou uma melhor organização institucional a nível mundial, em particular apoiando a liberalização do comércio internacional e dos movimentos de capitais e, a nível nacional, propôs melhorias institucionais de forma a evitar o desperdício de dinheiros públicos, a permitir um melhor funcionamento dos mercados e a incentivar a melhoria de gestão das empresas.

Seguindo estas recomendações, muito se tem feito neste sentido desde os anos oitenta - e os resultado são paupérrimos. Ou seja, apesar dos grandes investimentos em capital físico e humano, apesar do extraordinário progresso técnico, apesar das supostas melhorias institucionais, apesar de se continuar a delapidar o capital ambiental, a verdade é que a performance da economia mundial está muito aquém do que seria razoável prever.

E isto sem esquecer que o ambiente político internacional se desanuviou (é verdade que por pouco tempo) com o fim dos blocos, o que também deveria ter contribuído para o crescimento.

A China escapa a este panorama, e é o exemplo mais espectacular de crescimento neste período. No seu caso, as reformas realizadas e os grandes investimentos feitos são explicação bastante do crescimento. Mas o caso chinês (e poucos mais) não são suficientes para evitar a conclusão pouco encorajadora de que, afinal, passados setenta anos, ainda se sabe pouco sobre este fenómeno.

Nós, economistas, temos muito trabalho à nossa frente até conseguirmos apresentar explicações convincentes do que determina o crescimento. E é urgente que o façamos, já que se aproximam rapidamente condicionantes sérias e inevitáveis devidas ao aquecimento da atmosfera.

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