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João Ferreira do Amaral 21 de Novembro de 2007 às 13:59

Incerteza

Paira uma grande incerteza sobre a evolução, no curto prazo, da economia mundial e da economia europeia. Vários factores acentuam essa incerteza. Em primeiro lugar, o aumento do preço do petróleo, que pode ser temporário e voltar a reduzir-se ou pelo cont

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Em segundo lugar, ainda as consequências da crise financeira americana e das enormes perdas que tem causado no sistema financeiro e não apenas no americano. Em terceiro lugar, a depreciação do dólar em relação ao euro, que tanto pode agora estancar como pode perfeitamente aprofundar-se face aos ainda desequilibrados fundamentos da economia americana.

A incerteza é sempre fonte de custos adicionais e, pela perplexidade que causa nos agentes económicos – em particular no que respeita às decisões de investimento –, esses custos para a economia no seu conjunto podem fazer-se sentir ainda antes de sabermos o que vai efectivamente suceder.

O impacto dessa incerteza e desses custos adicionais será maior ou menor consoante a maior ou menor debilidade da economia que os sofre.

No caso da economia portuguesa essa debilidade é comparativamente grande. Por virtude das nossas consabidas e seculares deficiências estruturais, sem dúvida. Mas principalmente por dois outros factores que têm a ver com fenómenos mais próximos de nós no tempo.

Um desses factores deriva do facto de que o crescimento da nossa economia ainda é débil, embora estivesse a decorrer de forma sustentável. Ou seja, o crescimento estava a ser impulsionado pelas exportações, o que se deve considerar muito positivo, uma vez que é a única forma de podermos crescer de forma sustentável. Efectivamente, dado o nosso grande endividamento em relação ao exterior, um crescimento que não seja induzido pelas exportações levará rapidamente a esgotar as possibilidades de endividamento dos agentes económicos portugueses e portanto à interrupção desse mesmo crescimento. Ora, as incertezas da economia mundial e em particular a taxa de câmbio euro – dólar põem em sério risco a continuação do papel das exportações enquanto motor do crescimento. Não é certo que assim vá suceder, mas pelo menos é uma incerteza grande que se abate sobre o nosso crescimento.

Um segundo facto é o do endividamento, agora não em relação ao exterior mas o endividamento interno das famílias e empresas em relação aos bancos. Em minha opinião, este endividamento já é neste momento excessivo face às condições normais de funcionamento da economia portuguesa. O problema é que continua a aumentar a ritmos ainda elevados, pese embora a atitude mais prudente dos bancos (em resposta à crise financeira americana) que é certamente de louvar. Mas o facto é que uma economia mais endividada sofre mais com as dificuldades de crédito que uma crise financeira faz surgir. Portanto, também aqui temos de contar com um potencial negativo de influências sobre o nosso crescimento económico.

Se estas eventualidades se vierem infelizmente a confirmar, teremos em 2008 um crescimento inferior ao previsto. Se tal suceder será com certeza um factor negativo a ter em conta, mas não nos deve fazer desviar das acções estruturais necessárias para pôr o País em situação de voltar a ganhar a competitividade que perdeu desde o início dos anos noventa. Acções que passam prioritariamente pelo prosseguimento e intensificação dos esforços de qualificação dos recursos humanos e de investimento na inovação e na economia do conhecimento. Esforços que não devem ser descontinuados suceda o que suceder, custe o que custar. Só assim teremos futuro.

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