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Opinião
05 de Maio de 2006 às 13:59

O dia depois de amanhã!

A sustentabilidade do nosso mercado tem de ter por base as PME que têm de ser apresentadas ao mercado de capitais, que tem de ser encarado como uma forma alternativa para financiar o seu crescimento.

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Apesar do forte volume que ainda se faz sentir na bolsa nacional, parece que já estamos em Agosto! A excitação do início do ano, com um anormal movimento corporate, fez com que o PSI-20 já tivesse registado uma valorização acumulada de 16,6%. Para além das OPA e teorias de OPA concorrentes, parece também haver algo de fundamental por detrás desta boa performance. Por um lado, temos empresas que aproveitaram os anos difíceis do início do século para se tornarem mais eficientes, mais produtivas, e por conseguinte aumentarem a sua rentabilidade.

Mais do que os lucros recordes em muitas empresas nacionais e da melhoria da economia mundial, o aumento generalizado da confiança dos consumidores/investidores portugueses também tem sido uma peça-chave nesta performance do mercado accionista. Com base numa estabilidade política e taxas de juros ainda historicamente baixas, temos vivido um elevado nível de optimismo. Contudo, a continuação de medidas de austeridade necessárias para regularizar as contas públicas, bem como o tempo que leva para os lucros das empresas se traduzirem num aumento do emprego, é uma condicionante significativa do nosso bem-estar comum.

Por isso, e havendo consenso sobre quais as razões para a boa performance do mercado de acções nacional nos primeiros quatro meses do ano, com algumas das mesmas a serem aqui descritas, as razões para a sustentabilidade da mesma talvez não sejam tão óbvias. Obviamente que a actividade corporate, ou seja fusões e aquisições, são um alimento necessário para o mercado de capitais, mas existem outros factores que podem prolongar esta performance. O mais importante talvez seja a existência de Operações Públicas de Venda (OPV) ou Initial Public Offer (IPO) em inglês. Tem-se falado muito em Ofertas Públicas de Aquisições (OPA), quando uma empresa tem a intenção de adquirir uma outra, mas pouco se tem escrito sobre novas empresas a serem cotadas no nosso mercado. Porquê?

Talvez o cepticismo gerado no início do século após uns anos de mercado eufóricos fizesse com que muitas empresas tivessem receio de ver os seus títulos cotados no mercado que muitos erradamente deram por «moribundo.» Possivelmente por falta de cultura de mercado, agravada por um excesso de proteccionismo, faz com que os nossos empresários queiram manter as suas respectivas empresas nas «suas mãos.» Provavelmente por uma «banca de investimento» pouco madura, ou pouco expedita a explorar este segmento de negócio.

Mais uma vez, e infelizmente para o mercado, para um sector que se exige cada vez menos intervenção do Estado, muito provavelmente vamos ter que aguardar pelas privatizações agendadas para o final deste ano e 2007 para trazer mais dinamismo ao mercado accionista nacional. Num mercado por si já pouco representativo da nossa economia, faltando um representante do sector com maior expressão, nomeadamente o do turismo, os investidores estão ansiosos por uma oportunidade para melhor diversificar as suas carteiras. Obviamente que as entradas da Galp Energia e da REN no nosso mercado de capitais implicam uma maior liquidez à partida, mas esta não é suficiente para garantir a sustentabilidade do nosso mercado, especialmente quando confrontado com o fenómeno da consolidação.

A sustentabilidade do nosso mercado tem de ter por base as PME que têm de ser apresentadas ao mercado de capitais, que tem de ser encarado como uma forma alternativa para financiar o seu crescimento. Por outro lado, tem de haver uma redução do proteccionismo que faz com que muitas das nossas empresas cotadas tenham um free-float muito baixo, que reduz a liquidez das mesmas. Deste modo, e se queremos uma maior democratização, ao contrário de um maior populismo do nosso mercado accionista, temos que aumentar a oferta do mesmo. Não chega facilitar o acesso dos pequenos investidores por via de um preço de participação mais acessível, já que este segmento de investidor pode e deve optar por um investimento indirecto por via de fundos, tendo também a possibilidade de investir via Internet a custos reduzidos. Deste modo, é errado considerar somente os custos como um entrave ao investimento, o mais relevante é a falta de escolhas existente.

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