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10 de Fevereiro de 2006 às 13:59

A teoria Pavlov!

O físico russo Ivan Petrovitsj Pavlov (1849-1936), estudante de farmácia e psicologia, deixou a sua marca na história com os seus estudos sobre o condicionamento humano, tendo recebido o Prémio Nobel em Medicina no ano 1904 pelo seu contributo para a área

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Mais concretamente, a curiosidade de Pavlov pelo comportamento dos seres humanos e dos animais fez com que ele classificasse o cérebro como uma caixa negra que não pode ser aberta, tendo chegado à conclusão de que só podemos analisar o que entra e sai do cérebro. Em suma, o enfoque da tese de Pavlov é o comportamento visível, já que o comportamento pode ser medido, ao contrário do pensamento.

Pavlov deu assim início à sua análise sobre o comportamento humano com uma ênfase nos reflexos, que são nada mais do que a resposta automática aos estímulos do ambiente que nos rodeia. Um piscar de olhos quando algo estranho entra no mesmo, ar por exemplo, ou mesmo a reacção de suco de um bebé quando algo é introduzido na sua boca, um biberão ou uma chucha, são todas reacções automáticas. Porém, Pavlov conclui que estes reflexos, estas reacções «humanas» e automáticas, podem ser manipuladas. Este processo de condicionamento passa por «dar» um estímulo não condicionado a uma pessoa, que por seu turno causa um reflexo peculiar. O próximo passo é «dar» um estímulo não condicionado juntamente com um estímulo condicionado que por si próprio não tem um reflexo. Deste modo, o reflexo é somente causado pela presença do estímulo não condicionado. Este processo de estímulo-resposta é repetido uma série de vezes. Depois de algum tempo, o estímulo não condicionado é retirado, mantendo somente o estímulo condicionado. Por causa da repetição da associação entre o estímulo não condicionado e o condicionado, o estímulo condicionado irá causar o reflexo por si próprio, alcançando assim o condicionamento comportamental clássico.

De modo a testar a sua teoria de condicionamento clássico, Pavlov passou a sua tese à prática utilizando cães. Aqui, e tendo como base a sua experiência mais famosa, oferece-se comida a dois cães (estímulo não condicionado), com o reflexo a ser a salivação. Contudo, ao mesmo tempo que Pavlov dava comida aos seus cães, ele tocava um sino (estímulo condicionado). Repetindo este processo de estímulo-resposta várias vezes, Pavlov depois limitou-se somente a tocar o sino, não dando comida aos cães. Qual foi a resposta – o reflexo – dos cães? Só o toque do sino produziu a salivação nos animais.

Mas porquê esta divagação sobre a teoria de Pavlov? Simplesmente, queria analisar a sua aplicação à sociedade moderna portuguesa e tentar descrever melhor as suas idiossincrasias. Porque vamos todos para a fila do supermercado por volta do 12:30? Porque temos uma hora de ponta mais tarde que em qualquer outra parte do mundo desenvolvido? Porque vamos todos para o Algarve a 31 de Julho? Porque temos engarrafamentos na ponte sobre o Tejo às 18:00 todos os domingos?

Obviamente que a evolução de uma sociedade moderna a exemplo do que pelos vistos queremos para a nossa, nos condiciona em todos os aspectos das nossas vidas diárias. Por isso, estamos cada vez «mais eficientes» nos nossos comportamentos. Tentamos tomar as nossas refeições a horas certas, se não talvez não tenhamos tempo para nos alimentar, tentamos ter tempo para estar com a nossa família e amigos no pouco tempo que nos sobra nos fins-de-semana, etc.

Porém, onde talvez seja ainda mais rudimentar a aplicação do condicionamento clássico na nossa sociedade é no mundo empresarial. Porquê existe tanto medo de fazer algo de diferente? Porquê existe uma cultura de que «o que eles fazem lá fora é melhor?» Porquê  «a galinha da vizinha é sempre melhor que a minha?» Porquê o horário de trabalho, ou seja, as horas que passamos no local de trabalho, continua a ser dos «mais longos» da Europa? Porquê começamos o nosso dia de trabalho mais tarde que a média Europeia?

Existe uma barreira à inovação, à criatividade nacional que infelizmente parece estar demasiado enraizado na cultura portuguesa e que não nos permite ser líderes, em vez de ser seguidores. Existem inúmeros exemplos no nosso mundo empresarial, demasiados para descrever aqui, de qualidade que não é aproveitada, de mérito que não é dado, de esforço que não é reconhecido. A falta de confiança própria ainda não nos permite reconhecer o valor dos «outros,« dos nossos empregados, dos nossos colegas, dos nossos patrões.

Ao contrário de alguns «líderes» de empresas nacionais, que felizmente são poucos, não subscrevo a tese derrotista de que não temos a dimensão para ser líderes, que temos que nos limitar a seguir, e às vezes até copiar, os outros para dar um passo em frente. Porém, como Pavlov nos ensinou, tudo pode ser conseguido através do condicionamento clássico. Mas em Portugal existe uma forte condicionante –  tem de haver alguém para «tocar o sino!» É difícil condicionar as massas se aqueles que supostamente deveriam de «tocar o sino,« eles próprios, não estão presentes.

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