Opinião
O crème de la crème!
Durante a sua breve visita a Portugal, numa entrevista televisiva, o sr. Jack Welch definiu em poucas palavras o porquê do seu sucesso profissional: «Sempre contratei as melhores pessoas».
Resumindo a sua já mítica carreira como gestor, o sr. Jack Welch disse que, durante cerca de quarenta anos em posições de liderança, procurou contratar pessoas mais inteligentes do que ele de modo a criar as melhores equipas possíveis. Esta é a política de gestão de recursos humanos de um gestor que tem a perfeita noção de que o seu próprio valor será mais acentuado se os seus colaboradores tiverem mais qualidade, mais ambição e, por conseguinte, mais sucesso. Obviamente que o «bom paga-se caro,« e talvez por esta mesma razão, e a falta de querer melhor dividir o pequeno bolo que nos resta, é que o conceito de gestão adoptado por «algumas» empresas nacionais, ou melhor pelos seus gestores, seja menos altruísta do que deveria ser para o alcançar de objectivos que deveriam ser comuns.
Parece ser consensual que o português, quando «motivado,« consegue superar todas as expectativas que lhe são atribuídas. Por isso, e discordando do sr. Jack Welch, não considero que os portugueses «deveriam ter vergonha de como são vistos no estrangeiro.» Pelo contrário, deveríamos ter orgulho em todos os portugueses espalhados pelo mundo fora que, com muito esforço e dedicação, conseguiram fazer do «português» uma «pessoa honesta, humilde e trabalhadora.» Deste modo, parece que o estigma a que se referia o sr. Jack Welch foi criado e alimentado «cá dentro», por nos próprios.
De facto, despendemos demasiado tempo e energia a contemplar como as coisas são feitas lá fora, «que lá fora não é assim,« ou «se fosse lá fora...», que esquecemos que somos capazes de qualquer feito, seja colectivamente ou individualmente. É claro que é preciso um objectivo, uma ambição clara, comum e/ou individual, e particularmente uma maior motivação. A primeira fonte de inspiração deveria ser o facto de que, em termos económicos, estamos inegavelmente melhores do que estávamos há 25-30 anos, não podendo medir o sucesso de uma economia no curto prazo. Hoje em Portugal existe uma nova classe, uma classe média, que não existia há 30 anos. Apesar de haver sinais evidentes do grande distanciamento da classe alta, a classe média em Portugal é cada vez mais numerosa.
Injustiças sociais existem em toda parte, e às vezes mais acentuadas nos países ditos desenvolvidos. Porém, o que existe nos países mais desenvolvidos, ou melhor, numa cultura mais equitativa, é a capacidade demonstrada por pessoas como o sr. Jack Welch. Será que o sr. Bill Gates, por exemplo, com toda a sua inteligência, ambição, e persistência, seria o homem mais rico do mundo, tornando-se multibilionário, se no decorrer do seu «projecto de vida» não tornasse inúmeros colaboradores em multimilionários? Será que o sr. Bill Gates seria tão respeitado se não se tivesse rodeado de pessoas tão competentes, tão inteligentes ou mais que ele, tais como os srs. Steve Ballmer e Paul Allen, por exemplo? Com certeza que seria uma tarefa muito mais difícil de alcançar.
É claro que para tornarmos Portugal num país mais produtivo, mais respeitado, e mais rico, os nossos gestores irão ter que valorizar mais os nossos recursos humanos. A valorização pessoal não passa simplesmente por um pacote salarial maior e mais confortável, mas sim pelo reconhecimento de um trabalho bem feito, de exigir cada vez mais de um trabalhador em termos de inovação e formação. Enquanto a nossa força de trabalho for pouco dinâmica, enquanto existir pouca mobilidade e inovação dos nossos recursos humanos, e enquanto subsistir a prática de que todos os empregados são substituíveis, o nosso povo irá continuar a contribuir para o enriquecimento cultural e económico de outros países e não o nosso.