Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião

Novos descobrimentos

O mundo está cada vez mais imprevisível. Agora, ao que parece, faltam alimentos e anuncia-se uma nova onda de fome negra através do globo. O preço do arroz e dos cereais subiu em flecha o que levou alguns países a impedir a sua exportação. Nos Estados Uni

  • ...

Por toda a parte anuncia-se uma alta generalizada de preços dos mais variados produtos. Mas, são evidentemente os pobres dos pobres que mais sofrem as consequências de mais esta disfunção do sistema. Estamos a falar dos produtos mais básicos da magra alimentação de milhões de habitantes deste planeta. Daquele mínimo que, embora não permitindo a vida, aguenta a sobrevivência. A falta do arroz e da farinha significa objectivamente a morte à fome para uma importante massa populacional. Esperam-se tumultos.

A origem desta nova crise é complexa. Ligeiramente mais ricos chineses e indianos também querem comer bifes. Sabendo-se que a “indústria” da carne é uma grande consumidora de cereais, sete quilos para um na carne de vaca, quatro para um no porco, está de ver onde nos leva este apetite. O aquecimento global, sempre ele, tem provocado secas e inundações devastando a agricultura em muitas regiões. O desvio dos cereais para a produção de biocombustíveis também é muito relevante e gera o paradoxo do bom estar invariavelmente associado ao mau. E, não menos importante, a chamada especulação bolsista que não é mais do que o jogo volátil dos capitais, também faz os seus estragos.

Mas para além das razões conjunturais este novo problema tem causas mais fundas e estruturais. Destaco duas. O funcionamento do capitalismo e o excesso de população.

O capitalismo é um gerador de catástrofes. Sendo essencialmente um sistema auto-organizado a partir da acção dispersa e incontrolada de múltiplos agentes, prospera mais na instabilidade do que na estabilidade. Tendo como única regra base um crescimento incessante, é um sistema que se pretende sempre em expansão mesmo quando esta conduz a situações extremas e potencialmente catastróficas. Veja-se, por exemplo, o problema do aquecimento global. Diminui-lo significaria encerrar muitas indústrias, baixar drasticamente o consumo e no essencial mudar de vida. O que não é de todo possível no actual quadro económico. Tudo o que se consegue, perante o alarme científico, são insignificantes paliativos de natureza política que não visam resolver o problema mas iludir as populações.

Por outro lado, o excesso populacional, cujas consequências dramáticas na diminuição da bio-diversidade e na destruição ambiental são conhecidas há décadas, também não tem nenhuma solução razoável. Exterminar metade da actual população humana, por meio de guerras ou induzida pandemia global, só no papel parece ser uma boa ideia mesmo para aqueles que o defendem. Desde logo porque a imprevisibilidade dos múltiplos efeitos colaterais dificilmente poderia garantir algum sucesso. Para além, claro está, da soberana questão ética.

Por isso vamos caminhando para situações em que qualquer solução razoável já não se consegue encontrar dentro do sistema. É preciso sair para fora dele para ver claro.

Neste campo há quem espere que uma revolução social, essencialmente anti-capitalista, possa resolver todos os problemas da humanidade. Mas tendo em conta a experiência histórica é duvidoso que uma revolução o pudesse fazer e acima de tudo é pouco provável que venha a suceder. A fuga para a frente apresenta-se como um recurso mais plausível.

Vários autores, entre visionários e cientistas, defendem a colonização do espaço como única saída para a humanidade. Ainda recentemente Stephen Hawking fez um apelo nesse sentido, propondo um aumento muito substancial dos fundos para os programas espaciais, mesmo se de pouco significado quando comparado com o que gastam os militares nas suas loucuras. Para o espaço e em força não resolveria a questão conjuntural do preço do arroz, nem acabaria com a fome, mas pelo menos daria à humanidade um novo objectivo civilizacional. Implicaria o desenvolvimento acelerado de muitas novas actividades e indústrias, desde as da energia às da sustentabilidade da vida em ambientes muito hostis. Praticamente todas as áreas tecnológicas sofreriam uma evolução ainda mais veloz do que a actual, com inúmeras aplicações imediatas e bem terrestres. A partir de um certo momento, com o estabelecimento de colónias em Marte e noutros planetas mais longínquos, o empreendimento seria auto-suficiente deixando de consumir recursos terrestres e pelo contrário podendo fornecer o nosso planeta de matérias-primas. O êxodo populacional, embora não tão significativo como se possa imaginar, também seria um contributo para o desanuviamento neste planeta.

Enfim, trata-se de uma daquelas ideias fortes que andam por aí à espera que aqui na Terra a vida se torne mesmo insuportável. E nem sequer é uma novidade absoluta. Já foi feito antes. Chamou-se Descobrimentos.

Ver comentários
Mais artigos do Autor
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio