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Lisboa

A direita não tem qualquer hipótese na eleição autárquica de Lisboa. E também não a teria se concorresse unida, o que não é o caso. A razão é simples. Fernando Medina tem feito um trabalho extraordinário, reconhecido pela maioria dos cidadãos.

Não é fácil derrotar quem faz bem. Ainda mais quando aquilo que a direita propõe assenta numa visão de uma cidade que já não existe e para a qual ninguém quer voltar. Lisboa evoluiu muito e depressa nos últimos anos. Com António Costa resolveu os problemas financeiros e preparou a verdadeira revolução que tem vindo a ser concretizada por Medina.

 

Diz-se por vezes, no registo crítico, que esse empreendimento tem sido suportado pelo turismo. É em parte verdade. No entanto, a questão não está na origem do dinheiro, mas no que se faz com ele.

 

Lisboa não está na moda porque uma parte do destino turístico se tornou inviável. Mas porque é em si mesmo uma revelação para a maioria daqueles que nos visitam. Combina o antigo, por vezes mesmo decadente, com a mais avançada das atualidades. Junta a Mouraria e o Web Summit. Poucas capitais, sobretudo as mais desenvolvidas que apagaram as suas ruínas, conseguem fazê-lo. Tem-se sabido preservar o que deve ser preservado e modernizado o resto. Veja-se o caso da Avenida da República ou do Cais do Sodré. Alguém ainda recorda o alarme a propósito da retirada da calçada portuguesa? A introdução de um pavimento acessível foi uma excelente opção. Porque uma cidade serve sobretudo quem nela vive e, sem que isso deva representar qualquer menosprezo, esta é uma cidade de idosos.

 

Lisboa é agora uma mais inclusiva, diversa e dinâmica. Comporta velhos e novos, gente de todos os lugares e saberes, visitantes temporários, velhos do Restelo e "geeks".

 

Apesar da falta de dinheiro no respetivo Ministério a oferta cultural da capital impressiona. Não tanto pelos grandes eventos, naturais na capital de um país, mas pela quantidade de pequenas e médias realizações, na sua maioria de iniciativa particular, sem recurso a qualquer apoio ou subsídio.

 

Lisboa é também uma referência no campo das novas tecnologias. É certo que muitas das start-ups que têm nascido como cogumelos irão desaparecer. Mas esse é o mecanismo da evolução. Os resultados começam a surgir.

 

Mas talvez aquilo que mais me tem surpreendido na gestão da cidade é o tratamento que tem sido dado ao automóvel. Em vez da submissão a regulação, atitude pouco popular e nada eleitoralista, diga-se de passagem.

 

A direita tem criticado a redução das vias de circulação rodoviária. Revela que pensa à antiga. Até há pouco existia um consenso sobre o inevitável aumento de carros nas cidades. As soluções passavam por criar portagens ou exorbitar no custo dos parquímetros para dissuadir as pessoas a levarem o seu carro para a cidade. Como sucede, por exemplo, em Amesterdão.

 

Hoje a ideia é bastante diferente. Todas as previsões apontam para uma diminuição substancial e sustentada do número de carros no futuro. A introdução de veículos sem condutor vai alterar radicalmente a noção de propriedade. Não mais seremos donos do nosso carro, mas chamamos um quando precisamos dele. A mobilidade irá aumentar, mas a quantidade de veículos vai baixar acentuadamente. A redução de vias para automóveis e a subsequente libertação do espaço de circulação e estacionamento particular irão marcar o desenvolvimento urbano a curto e médio prazo. Ainda que de forma cautelosa Lisboa está a iniciar esse caminho. É por essa visão também que Medina é imbatível.

 

Artista Plástico

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico  

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