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A piada da semana

Ao que parece uns jovens de extrema-direita convidaram Jaime Nogueira Pinto a dar uma conferência e outros jovens de extrema-esquerda conseguiram impedir a coisa. O país da opinião, das televisões e das redes sociais indignou-se por tamanha e monstruosa censura.

A coisa foi de tanta monta que meteu o Presidente da República, ainda que bem vistas as coisas ele mete-se em tudo, e até alguns políticos de esquerda reivindicando o tempo do fascismo, vá-se lá saber porquê, acharam que deviam apoiar o homem pela afronta. Não entendo o tumulto.

 

Primeiro, porque os jovens, dos dois extremos ideológicos, exageraram claramente na expectativa. Os da direita pensaram, na sua ingenuidade, que Jaime Nogueira Pinto iria dizer alguma coisa de mobilizador para a causa da portugalidade, essa condição indefinida que para lá do gosto pela tradição, pelo futebol e pelo chouriço pouco mais representa; os outros, imaginaram que poderia ser perigoso deixá-lo falar. A realidade é que Jaime Nogueira Pinto não diz coisa com coisa desde que a sua visão do mundo e da política entrou em colapsou com o 25 de Abril. Recorde-se, a título de anedota, que no seu tempo ele achava que Salazar era um perigoso esquerdista. Desde então sempre se pensou como um intelectual de um tipo de fascismo, que teve o seu momento e a sua erudição, mas se tornou obsoleto. Não é intelectual quem quer, mas quem realmente diz algo de consistente. Em boa verdade, o homem dá sono. Alimenta-se de um discurso ambíguo, redondo, subliminar, profundamente chato e que só as televisões apreciam porque preenche horário e dá aquele ar de coisa séria que há muito se perdeu na comunicação mediática. O exercício é fastidioso, sobretudo para a vasta maioria dos jovens que não percebem nada do que ele diz e anda ocupada com assuntos mais prementes. A começar por saber se têm algum futuro. Já para não falar de todos os outros que estão no século XXI e vivem a ansiedade tecnológica.

 

Segundo, o caricato da história, é que Jaime Nogueira Pinto fala todos os dias, em todo o lugar, a todo o momento. Definitivamente não lhe falta palco, mesmo se este é chato e comprido. Aliás, a dita censura a que aparentemente foi sujeito, concedeu-lhe mais algum tempo de antena. Que ele aproveitou não só para se fazer passar por vítima de uma ação política que defende em muito mais radical, mas até, pasme-se, para dar conselhos de tolerância democrática, isto por parte de alguém que não acredita na democracia e muito menos na tolerância.

 

Em suma, o assunto não tem qualquer interesse. Não só pela pessoa em causa, mas sobretudo porque remete para ideias velhas totalmente desajustadas da nossa época. Convenhamos. A direita radical e intelectual existe mesmo. Diria mesmo que é hegemónica. Mas não diretamente nos partidos PSD e PP, que tratam sobretudo da vidinha, ainda menos nestas iminências que nasceram noutra era e dela nunca saíram. A direita radical e intelectual está em todo o lado, na publicidade, no marketing empresarial, no desenho de modos de vida que privilegiam o consumo, a posse de bens exibicionistas, a riqueza material como maior, e tanta vez, único objetivo da existência.

 

Não assenta em nada de novo, mas renova-se a cada dia, a cada geração, pela força da organização social vigente e da sua dinâmica, tremenda, de alienação e condicionamento. Confunde a função e o destino do humano. Vivemos para produzir? Ou para nos realizarmos, enquanto seres conscientes das nossas capacidade e limitações?

 

Artista Plástico

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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