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Pedro Vassalo 30 de Agosto de 2007 às 13:59

Notas de Agosto

O mês de Agosto confirmou-se, mais uma vez. Não é que fosse absolutamente necessário transforma-lo na “silly season” por excelência, mas, por aquilo que se percebe, neste caso a tradição ainda é o que era.

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Esta espécie de estupidez colectiva percebe-se em impressões soltas de casos mais ou menos graves, de comportamentos inexplicáveis ou de atitudes surpreendentes. Em Portugal (eventualmente também no Burkina Fasso) o calor parece que torra a matéria cinzenta, e para quem anda pelo país, e vai lendo e ouvindo as notícias, nada parece fazer sentido.

E a insensatez toca muitos e em várias áreas. Tomemos o exemplo da saúde. Soube-se da dispensa de enfermeiros em vários hospitais, conhecem-se controles de custos rigorosos, falou-se, pela enésima vez, da lista de doentes à espera de cirurgias, casos dramáticos que deveriam fazer corar de vergonha o país. Mas conheceu-se, simultaneamente, o número de abortos praticados (só 500 no primeiro mês da Lei) e aventou-se a hipótese de pagar viagens de avião às madeirenses que não o podiam abortar na região. O fantástico é que ninguém parece incomodar-se, nem indagar sobre os abortos já praticados, das suas razões e necessidades. Na educação soube-se que ainda não é desta que a parafernália de material que os estudantes precisam (2º e 3º ciclos) vão ser acessíveis a todos os alunos. Vai haver, como habitualmente, quem tenha dinheiro para comprar a loucura de livros e manuais que os professores querem, e quem não tenha, sendo que os últimos são superiores aos primeiros.

Em contrapartida, o governo recusa aumentar as propinas aos universitários, que aproveitando a boleia da generosidade do Estado se entretêm a torrar a poupança em tudo o que é festival e noites de coparia. Estou mesmo disponível para apostar que não há país como Portugal onde a noite se arraste até tão tarde. Mas ninguém parece com vontade de maçar os nossos jovens que, já agora e segunda rezam as estatísticas, são os que menos trabalham em toda a Europa. Mas, claro está, os noruegueses, os franceses, os alemães, os ingleses e os restantes jovens europeus são pobres, e os portugueses ricos.

Aliás devemos ser, a atentar pelos preços que se pagam pelo Algarve. Basta ler os preços das casas algarvias para se perceber que são mais caras do que as do sul de Espanha ou da Itália. Num país onde ainda há trabalho infantil, existe a maior concentração de milionários por metro quadrado. Mas deve ser sol de pouca dura, porque o nosso Sócrates, nas suas férias, ainda teve tempo para explicar ao país que se vai construir, no Algarve e na costa alentejana como nunca se viu. Há projectos imobiliários / turísticos para todos os gostos e feitios e, conhecendo-se o zelo ambiental dos nosso empresários turísticos, sabe-se que qualquer palmo de terra é bom para levar com um hotel em cima e os inefáveis apartamentos em banda.

Aliás em matéria ambiental eu atrever-me-ia a dar um conselho ao ministro da tutela: pense o que julga ser o melhor, faça o contrário que dá certo com certeza.

Mas a irracionalidade toca tudo e todos. Até no BCP, uma instituição com um percurso invejável a nível nacional, estalou uma confusão que ninguém percebe nem entende. O desaguisado até se poderia aceitar, o já ninguém descortina é o tempo que leva a resolver o assunto.

Mas nem tudo é mau. Ainda vai havendo praias fabulosas, limpas e com gente simpática. Ainda há sítios recatados, e sem as tais festas onde aparece “gente bonita” (como escrevem as revistas cor de rosa). Ainda se descobrem restaurantes com bom peixe, e serviço razoável onde o preço não é um assalto.

E até se descobrem (enormes) praias desertas, onde não há palhinhas, nem bares new wave, nem jogos de futebol. Só areia, ondas, silêncio, e meia dúzia de pessoas equilibradas.

Estou tentado a dizer onde, mas não digo. Porque os nossos hoteleiros (como escreveu Óscar Wild) resistem a tudo, menos à tentação.

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