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24 de Setembro de 2007 às 13:59

Os dias da semana de Sócrates

Há dias, Gilberto Madaíl, presidente de Federação Portuguesa de Futebol, dizia que se os futebolistas portugueses cantassem o hino como os seus pares da selecção de rugby, o problema da qualificação para o “Europeu” estaria resolvido. Assim, nem mais!

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E Madaíl tem razão. Os Lobos, como são conhecidos os jogadores da selecção de rugby, perderam os jogos em que participaram (presume-se que perderam ontem), mas até os All Blacks, em primeiríssimo lugar no ranking, afirmaram que Portugal mostrou garra, vontade de vencer, coragem e inteligência.  

Ora, o que os Lobos têm demonstrado não é só amor à camisola, a que Madaíl se referia. É muito mais do que isso. Nos últimos anos a selecção de rugby tem tido uma estratégia, tem escolhido os desafios, tem descoberto as suas desvantagens e procurado corrigi-las, tem tido um rumo e nunca se furtou a jogar contra os melhores que lhe cairiam em sorte. Só porque sabe o que quer, como se chega lá e é determinada, é que a selecção de rugby têm tido sucesso. Nem mais!

Ora, se José Sócrates gosta tanto de fazer o seu jogging, e pelos vistos tem tempo para isso (o que até pode ser bom), melhor seria se perdesse alguns minutos a reflectir no que tem feito a selecção de rugby. E aí talvez o nosso homem percebesse que ninguém descortina um átomo de estratégia do que anda a fazer, ele e o Governo, e que sem essa tal estratégia o país navega solto, e sem rumo.

E porque não há estratégia, as medidas são ziguezagueantes, sem nexo entre si e perdidas no mar da actividade política.

Veja-se o caso da Educação: quem tem filhos sabe que neste princípio do ano ou larga uns 150 euros por cada criança, ou os meninos e meninas ficam sem as toneladas de manuais escolares que têm de comprar obrigatoriamente. Ora, aumentar o nível de qualidade de ensino, e o número de crianças e jovens a estudar, obrigaria a que os materiais de estudo não custassem um terço do salário mínimo nacional, como é o caso. Como implicaria, obviamente, premiar as melhores escolas, as que ensinam melhor, as mais exigentes e com melhores resultados. Isto consegue-se, toda a gente sabe, com a liberdade de ensino: Mas o governo tem uma crise de nervos sempre que se fala disso. 

Mas se há incómodo com a liberalização do ensino, já a mesma preocupação não existe em outras actividades. O professor Campos e Cunha perguntava há semanas pelas razões que levam a entregar a privados a distribuição de energia, caso da REN. E percebe-se a preocupação porque se falha a REN, ninguém almoça, ou liga o computador. E, acrescento eu, se o critério é liberalizar, por que se haverá de tratar a CGD como uma vaca sagrada que não se vende nem pelo tesouro do Ali Bábá? Afinal é um banco como os outros. 

Não se sabe, por alma de quem, o Governo é liberal, às vezes, e Estalinista cinco minutos depois.
  
Atente-se ao Ensino Superior e à Saúde. Ofereço um doce a quem perceber porque se aumenta a comparticipação dos doentes nos remédios, e se mantém o preço das propinas universitárias. Este caso ainda é mais grave porque se os meninos e meninas têm agora empréstimos avalizados pelo Estado (25 mil euros / bico), e as propinas não aumentam, deduz-se que a rapaziada torre a massa sobrante em valentes noitadas.

Claro que o nosso homem se baba cada vez que lhe dizem que o deficit voltou a baixar, mas não pára um minuto a pensar que, calhando, acabamos como o cavalo do inglês.

No meio de tudo isto, só tenho pena que não exista alguém com um QI médio (já não é pedir muito) que não seja capaz de explicar ao povo a total incoerência desta política: liberal à ª2, 4ª e 6ª, e socialista à 3ª e 5ª e sábado.
Resta esperar pelo domingo, dia santo por excelência e propício ao milagre, e talvez o nosso homem entenda o óbvio. Não seria o primeiro.

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