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Pedro Vassalo 03 de Janeiro de 2008 às 13:59

A agenda do avental

Que tal uma história de ficção neste princípio do ano? Não será perda de tempo imaginar o futuro, porque vivemos dele e para ele, e é actual porque, como dizia alguém, “o problema com o presente é que o futuro já não é o que era”. No caso em apreço, propo

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Antes de mais, percebe-se, ele gosta do que vê. Nada do que veste é ao acaso, nem a pose, com o casaco sempre aberto, nem o sapatinho de marca. Não se julgue que não importa, porque importa. O homem apresenta-se com aquele suposto ar moderno, urbano, lavadinho, a rebentar de saúde.

Tudo isto transmite segurança, pragmatismo e dá um arzinho de eficiência, agora tão na moda. Mas voltemos à casa de banho. Enquanto ataca a barba, revê os números do seu sucesso: o deficit fica abaixo dos 3%, e pensa: “cada vez que me falarem em promessas não cumpridas, eu, zás, nem os deixo respirar e atiro-lhes com o número”. Mais descansado escova os dentinhos mas?enerva-se. Lembra-se do desemprego! Aumenta as esfregadelas e enquanto lhe salta pasta pela boca, grita com a escova que a economia cresce, que há as novas oportunidades (para quem, pergunto eu) e que há reformas, que têm custos. Mesmo assim, resume, o desemprego até anda estável.

Segue-se um momento mais delicado. Sentadinho, relaxado, dá-lhe para pensar na presidência, e como se dá bem com aquela que parece ser a sua alma gémea: Cavaco Silva. Afinal, reflecte, “ele também quer a reeleição, precisamos um do outro e se não é tão porreiro como o Barroso, também não é ele que me vai dores de barriga”.

E é só depois do banho, enquanto veste o roupão, que lhe surge a imagem do avental. Percebe a associação, mas irrita-se. “Ainda ninguém se lembrou de me chatear com isto. Será que percebem e estão comigo, ou não percebem mesmo?”.

E num ápice recordou as tentativas, os sucessos e os falhanços, os ataques e os recuos. Enquanto escolhe um dos enésimos fatinhos de marca azuis, ri-se e lembra-se de Fevereiro, quando sem estragos “fez aprovar” a lei do aborto. “Caramba, até padres, poucos é certo, trouxe para o mau lado. Grande pedrada”. Mas quando escolhia a gravatinha cor-de-rosa, atirou-a ao chão quando pensou no desastrado ministro da saúde, e como ele conduziu mal a história dos capelães nos hospitais. “Era clarinho como água: falava-se no custo dos padres, deixava-se tudo à liberdade de cada um e não se proibia quem quisesse um padre. Irra, qual era a dificuldade? Bem, graças a Deus que lá compus as coisas com os bispos quando eles mostraram os dentes”. Mas, para compensar, lembrou-se em como passou bem a ideia de tornar os divórcios e as separações mais fáceis (”e ainda dizem que não mexo na Justiça”), para além de que o IRS é mais favorável para os separados. “É de facto porreiro que eles ainda não tenham percebido”.

Está o homem a vestir a camisinha branca quando toca o telemóvel. Não atende mas identifica o número: é o amigo Zapatero. E pôs-se a pensar no que ele lhe tem dito: a ideia é não querer fazer tudo de uma vez. “Lembra-te do Estaline: qualquer um come um salame, desde que seja cortadinho em fatias”.

“O Zapatero lá sabe. Põe aquela carinha de Mr. Bean, tipo: acham mesmo que eu faço mal a alguém? E avança. Agora não dá jeito, mas quando ganhar, em 2009, proponho o casamento entre homossexuais, e a hipótese de adopção, peço ao Louçã que avance com a educação sexual, hei-de arranjar maneira de taxar casamentos e baptizados e de caminho ainda acabo com uns feriados religiosos à conta da produtividade. E se me chatearam, falo nos 3%. Calhando anuncio tudo isto em Fátima”.

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