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Opinião
04 de Abril de 2008 às 13:59

Tempo de acordar

“E ainda lhe estou a fazer um favor, porque não sou obrigada a falar com os pais dos alunos!” Assim, sem mais, a professora avisava que não, aquele não era o modelo para discutir o assunto do desempenho escolar do aluno.

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Não investiguei a verdade sobre o dito da professora, até porque acredito plenamente que no meio da monstruosidade jurídica e administrativa que se montou em redor das escolas do Estado seja mais do que possível impedir os pais de falar, directamente, com os professores dos filhos. Para isso existem os enésimos conselhos pedagógicos, de acompanhamento, científicos e mais uns quantos, onde só se sentam os docentes, e que discutem entre eles como devem educar os filhos dos outros. Os pais, querendo, falam com os tais conselhos e é a partir daqui que os assuntos são tratados.

Há um nome pomposo para este “procedimento”: gestão democrática da escola. Traduzindo, isto quer dizer que na escola do Estado quem manda, quem gere, quem decide e quem avalia o que está bem e mal são os professores, e só eles, conversando em círculo fechado, disputando entre si os pequenos poderes, apoiando ou desfiando os seus pares conforme os respectivos interesses.

A esta espécie de sistema de auto gestão escolar que o Estado apadrinha e paga, junta-se uma outra mania: a de reformar, restruturar, ensaiar e imaginar todo o tipo de mudanças possíveis durante a vida escolar de uma criança/jovem.

Este regime experimental tem como limite o desagrado dos alunos e como pressuposto o seu conforto na escola.

Há aliás centenas de professores instaladinhos no ministério e nas escolas, a pensar diariamente como podem ensinar crianças e jovens sem os cansar, sem maçar muito as cabecinhas, sem dificultar, imaginando processos novos, mais interactivos e entusiasmantes. Se nada disto resultar, pois os meninos e meninas que passem de ano, para que o estigma do chumbo não os moleste para a vida, nem os marginalize.

Tratados como flores de estufa, quais seres frágeis e delicados, que convém não cansar nem contrariar, os nossos estudantes (até os universitários) são poupados a esforços e contrariedades, não vá acontecer que as mazelas psicológicas resultantes de um esforço desusado os impeçam de ser cidadãos de pleno direito.

A menina quer bater na professora e a turma ri-se? Bem, dirão os nossos génios do ministério, convém saber de onde vem tanta agressividade, que trauma esconde a nossa jovem, onde falhou o diálogo escolar. Será falta de afectividade do espaço escolar, ou uma rejeição ao processo de aprendizagem? A matéria será densa, ou desajustada ao ambiente social e económico da jovem? Em todo o caso, não deveria a professora respeitar a liberdade da jovem falar com quem lhe apetecer ao telemóvel enquanto decorre a aula?

É neste ambiente em que Portugal gasta em educação, comparativamente, mais do que os seus parceiros (incluindo nos honorários dos professores) que os alunos portugueses “insistem” em ocupar os últimos lugares no conhecimento da Matemática ou da Língua.

O País, que ainda sonha com a revolução democrática nas escolas, está a fabricar analfabetos em massa e, pior do que tudo, está a formar gente que vai apanhar um balde de água fria quando aterrar na vida adulta.

Aí vão perceber que afinal há regras a cumprir, ordens a respeitar, dias cinzentos e cansativos, que a concorrência existe mesmo, que quem não sabe tem de aprender, que nem sempre o chefe é boa pessoa e que a sorte dá muito trabalho.
O mundo adulto também se mede em resultados, em gente que faz acontecer, que usa a imaginação e a vontade e que percebe que por detrás de uma grande alegria há sempre sofrimento.

Tudo isto é chinês para os alunos portugueses e tudo isto vão aprender à bruta, em regra, com passagem pelo desemprego.

Portugal ainda não cresceu, ainda curte a nostalgia de 1974 e insiste em não aceitar que o campeonato que joga (globalização) tem regras certinhas e quem não sabe, ou não as aceita, perde. Tão simples quanto isto!

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