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11 de Setembro de 2012 às 23:30

Le Golf de l’Empereur

No estado actual do mundo, a Europa, de Helsínquia a Atenas, de Dublin a Berlim, tem ainda muita gordura para perder de boa saúde. O declínio poderá ser ligeiro e suave se demagogos, nacionalistas ou federalistas, não tomarem conta dela. Ou se o susto que apanhámos fizer brotar chefes políticos de génio. Como às vezes faziam as guerras.

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Embora a sua tentativa de criar uma União Europeia tenha acabado nesta planície triste a 18 de Junho de 1815, Napoleão está presente em nomes de restaurantes, cafés, esplanadas, lojas, por tudo quanto é sítio cinco léguas em redondo. Wellington ganhou a batalha e mudou a história da Europa, mas não tem direito a mais do que um pequeno museu na vila de Waterloo. O resto das lembranças vão todas para o vencido: rabisco estas linhas no bar da Club House do Golfe do Imperador a 10 quilómetros do campo de batalha donde ele partiu para o exílio final de Santa Helena, enquanto Luís-Estanislau Capeto se sentava de novo no trono de França que a Revolução roubara ao mano Luís-Augusto antes de lhe cortar a cabeça.

Quase dois séculos depois batalha-se outra vez pela sobrevivência de uma União Europeia e neste nosso mundo de comunicação instantânea e políticos em bicos dos pés, de há três anos para cá vários mini-Waterloos foram sendo anunciados que afinal depois não o eram. (Em 1815 a notícia da derrota de Napoleão demorou 4 dias a chegar a Londres e 8 a Viena, onde estava reunido um Congresso para decidir o futuro da Europa. Era outra vida. Morria-se de doenças que já não matam, mas agora morre-se na mesma e há menos tempo para tudo).

A mini-Waterloo de hoje, quarta-feira, aconteceria se o Tribunal Constitucional de Karlsruhe decidisse que a participação alemã no novo Mecanismo de Estabilidade Europeu era inconstitucional. Sem a contribuição alemã o mecanismo dificilmente disporia de dinheiro que chegasse para exercer a sua função de bóia salva-vidas de economias nacionais. O euro e a própria União ficariam em causa.

Muita gente espera que tal não venha a acontecer. Não é a primeira vez que alemães eurocépticos recorrem ao tribunal com o fito de travar o passo à União. Precedentes sugerem que talvez o tribunal dê uma descompostura ao governo, mas deixe passar o mecanismo, embora até ao último momento nunca se saiba ao certo. Indiferente à pressa legítima de instituições e governos europeus, o tribunal já adiou a sua decisão, remetendo-a para depois das férias e, por fim, os alemães, juristas ou não juristas, têm estado ultimamente com sangue demais na guelra. Veremos mais logo.

Mesmo que a pseudo-Waterloo de hoje se suma sem deixar rasto, que corram o melhor possível as restantes escaramuças do combate levado a cabo contra a crise que nos aflige desde 2008 (os mercados duvidam da determinação europeia de salvar o euro - e apostam contra ele), que as economias nacionais se recomponham, que euro e União resistam bem, os europeus não poderão voltar à vida que levavam antes deste vendaval.

No estado actual do mundo, a Europa, de Helsínquia a Atenas, de Dublin a Berlim, tem ainda muita gordura para perder de boa saúde. O declínio poderá ser ligeiro e suave se demagogos, nacionalistas ou federalistas, não tomarem conta dela. Ou se o susto que apanhámos fizer brotar chefes políticos de génio. Como às vezes faziam as guerras.

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