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Isto não está nada bonito

As notícias do início do fim da crise, que abala o mundo desenvolvido desde 2007, parecem ter sido manifestamente exageradas. Há dois dias, o governo austríaco teve de salvar um banco. Todas as semanas, neste final de ano, há uma nova, má, notícia financeira...

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As notícias do início do fim da crise, que abala o mundo desenvolvido desde 2007, parecem ter sido manifestamente exageradas. Há dois dias, o governo austríaco teve de salvar um banco.

Todas as semanas, neste final de ano, há uma nova, má, notícia financeira. Novos golpes para a frágil recuperação da actividade económica.

Uma nova onda de erupções financeiras recomenda que se regresse aos alertas vermelhos na avaliação da situação de bancos, empresas e países. Com as inevitáveis e graves consequências na actividade produtiva e no emprego.

O primeiro sinal de que ainda estamos longe da estabilidade veio do Dubai em finais de Novembro. O paraíso das ilhas artificiais revelou ter pés de barro, tal como muitos dos bancos desde o início desta crise.

Mais recentemente assistimos ao renovado agravamento da situação grega. Os avisos já vinham de trás. A decisão das agências de avaliação de risco de reduzir a classificação da dívida da Grécia reacendeu a preocupação com a sua situação financeira.

As medidas apresentadas pelo governo grego para enfrentar a escalada de endividamento em que o país entrou, em vez de acalmarem os credores ainda os enervaram mais. E ontem muitos foram os investidores que se tentaram ver livres de títulos de dívida gregos, aumentando assim a sua taxa de juro de mercado a dez anos.

A nacionalização do pequeno banco regional austríaco Hypo Group Alpe Adria decidida no fim-de-semana que passou, e sob pressão do próprio Banco Central Europeu, é o último episódio de uma instabilidade financeira que teve os seus primeiros sintomas no início de 2007.

Os banqueiros centrais e os governantes vivem aterrados com a perspectiva de um novo abalo financeiro. Tudo correrá bem, é a mensagem, se não existir mais nenhum episódio de colapso financeiro num grande banco - ou, diremos nós, num país, ou até empresa do género da Dubai World.

O problema é que ninguém consegue garantir que estamos livres de mais um abalo que, mesmo pequeno face ao que foi, por exemplo, o caso Lehman Brothers em 2008, destrua os limitados progressos a que vamos assistindo na actividade económica.

Um novo abalo, neste momento, teria repercussões muitíssimo mais graves que os terramotos de 2007 e 2008. Os governos já não podem ir muito mais longe nos apoios à economia sem passarem a ser, eles próprios, parte do problema face à subida das suas dívidas públicas. E os bancos centrais, com o nível que já têm as taxas de juro, pouco mais podem fazer do que continuarem a inundar as economias de dinheiro.

Os maiores riscos ainda estão nos bancos. Mas a eles juntaram-se países. A Grécia é o caso mais dramático. Porque ao problema financeiro e económico se soma o mais difícil de todos, o da instabilidade política e social. A Zona Euro pode confrontar-se perante a inevitabilidade de salvar um dos seus. Com o inevitável incentivo a que outros se portem mal, tal como acontece com os bancos salvos à borla.

A crise parece muito longe do seu fim. Os governos não têm poder (nem dinheiro) para evitar novos abalos financeiros. Isto não está bonito, nem vai ficar tão cedo.

helenagarrido@negocios.pt
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