Opinião
16 de Dezembro de 2009 às 11:41
Isto não está nada bonito
As notícias do início do fim da crise, que abala o mundo desenvolvido desde 2007, parecem ter sido manifestamente exageradas. Há dois dias, o governo austríaco teve de salvar um banco. Todas as semanas, neste final de ano, há uma nova, má, notícia financeira...
- 10
- ...
As notícias do início do fim da crise, que abala o mundo desenvolvido desde 2007, parecem ter sido manifestamente exageradas. Há dois dias, o governo austríaco teve de salvar um banco.
Todas as semanas, neste final de ano, há uma nova, má, notícia financeira. Novos golpes para a frágil recuperação da actividade económica.
Uma nova onda de erupções financeiras recomenda que se regresse aos alertas vermelhos na avaliação da situação de bancos, empresas e países. Com as inevitáveis e graves consequências na actividade produtiva e no emprego.
O primeiro sinal de que ainda estamos longe da estabilidade veio do Dubai em finais de Novembro. O paraíso das ilhas artificiais revelou ter pés de barro, tal como muitos dos bancos desde o início desta crise.
Mais recentemente assistimos ao renovado agravamento da situação grega. Os avisos já vinham de trás. A decisão das agências de avaliação de risco de reduzir a classificação da dívida da Grécia reacendeu a preocupação com a sua situação financeira.
As medidas apresentadas pelo governo grego para enfrentar a escalada de endividamento em que o país entrou, em vez de acalmarem os credores ainda os enervaram mais. E ontem muitos foram os investidores que se tentaram ver livres de títulos de dívida gregos, aumentando assim a sua taxa de juro de mercado a dez anos.
A nacionalização do pequeno banco regional austríaco Hypo Group Alpe Adria decidida no fim-de-semana que passou, e sob pressão do próprio Banco Central Europeu, é o último episódio de uma instabilidade financeira que teve os seus primeiros sintomas no início de 2007.
Os banqueiros centrais e os governantes vivem aterrados com a perspectiva de um novo abalo financeiro. Tudo correrá bem, é a mensagem, se não existir mais nenhum episódio de colapso financeiro num grande banco - ou, diremos nós, num país, ou até empresa do género da Dubai World.
O problema é que ninguém consegue garantir que estamos livres de mais um abalo que, mesmo pequeno face ao que foi, por exemplo, o caso Lehman Brothers em 2008, destrua os limitados progressos a que vamos assistindo na actividade económica.
Um novo abalo, neste momento, teria repercussões muitíssimo mais graves que os terramotos de 2007 e 2008. Os governos já não podem ir muito mais longe nos apoios à economia sem passarem a ser, eles próprios, parte do problema face à subida das suas dívidas públicas. E os bancos centrais, com o nível que já têm as taxas de juro, pouco mais podem fazer do que continuarem a inundar as economias de dinheiro.
Os maiores riscos ainda estão nos bancos. Mas a eles juntaram-se países. A Grécia é o caso mais dramático. Porque ao problema financeiro e económico se soma o mais difícil de todos, o da instabilidade política e social. A Zona Euro pode confrontar-se perante a inevitabilidade de salvar um dos seus. Com o inevitável incentivo a que outros se portem mal, tal como acontece com os bancos salvos à borla.
A crise parece muito longe do seu fim. Os governos não têm poder (nem dinheiro) para evitar novos abalos financeiros. Isto não está bonito, nem vai ficar tão cedo.
Todas as semanas, neste final de ano, há uma nova, má, notícia financeira. Novos golpes para a frágil recuperação da actividade económica.
O primeiro sinal de que ainda estamos longe da estabilidade veio do Dubai em finais de Novembro. O paraíso das ilhas artificiais revelou ter pés de barro, tal como muitos dos bancos desde o início desta crise.
Mais recentemente assistimos ao renovado agravamento da situação grega. Os avisos já vinham de trás. A decisão das agências de avaliação de risco de reduzir a classificação da dívida da Grécia reacendeu a preocupação com a sua situação financeira.
As medidas apresentadas pelo governo grego para enfrentar a escalada de endividamento em que o país entrou, em vez de acalmarem os credores ainda os enervaram mais. E ontem muitos foram os investidores que se tentaram ver livres de títulos de dívida gregos, aumentando assim a sua taxa de juro de mercado a dez anos.
A nacionalização do pequeno banco regional austríaco Hypo Group Alpe Adria decidida no fim-de-semana que passou, e sob pressão do próprio Banco Central Europeu, é o último episódio de uma instabilidade financeira que teve os seus primeiros sintomas no início de 2007.
Os banqueiros centrais e os governantes vivem aterrados com a perspectiva de um novo abalo financeiro. Tudo correrá bem, é a mensagem, se não existir mais nenhum episódio de colapso financeiro num grande banco - ou, diremos nós, num país, ou até empresa do género da Dubai World.
O problema é que ninguém consegue garantir que estamos livres de mais um abalo que, mesmo pequeno face ao que foi, por exemplo, o caso Lehman Brothers em 2008, destrua os limitados progressos a que vamos assistindo na actividade económica.
Um novo abalo, neste momento, teria repercussões muitíssimo mais graves que os terramotos de 2007 e 2008. Os governos já não podem ir muito mais longe nos apoios à economia sem passarem a ser, eles próprios, parte do problema face à subida das suas dívidas públicas. E os bancos centrais, com o nível que já têm as taxas de juro, pouco mais podem fazer do que continuarem a inundar as economias de dinheiro.
Os maiores riscos ainda estão nos bancos. Mas a eles juntaram-se países. A Grécia é o caso mais dramático. Porque ao problema financeiro e económico se soma o mais difícil de todos, o da instabilidade política e social. A Zona Euro pode confrontar-se perante a inevitabilidade de salvar um dos seus. Com o inevitável incentivo a que outros se portem mal, tal como acontece com os bancos salvos à borla.
A crise parece muito longe do seu fim. Os governos não têm poder (nem dinheiro) para evitar novos abalos financeiros. Isto não está bonito, nem vai ficar tão cedo.
helenagarrido@negocios.pt
Mais artigos do Autor
Até sempre
29.03.2016
O Orçamento segundo Marcelo
29.03.2016
Vencer o terror. 15 minutos de mais União
23.03.2016
No mundo dos sonhos de António Costa
21.03.2016
Como Lula e Sócrates criam Trumps
17.03.2016
O mistério do Banco de Portugal
14.03.2016