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15 de Janeiro de 2007 às 13:59

Índia: a sedução de um mercado específico

A actual visita do Presidente da República à Índia leva-me a considerar algumas das especificidades de um mercado que é, para os negócios, muito atraente.

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Com um défice de contactos a nível político e económico, Portugal apresta-se a fortalecer o seu relacionamento com uma das maiores potências económicas mundiais. Além do mais, esta viagem oficial de Cavaco Silva à Índia servirá também para – na presidência da União Europeia (UE) no segundo semestre do ano – preparar a Cimeira UE-Índia, a realizar em Nova Deli, em que a delegação da UE será liderada por José Sócrates e, ainda, a Cimeira UE-África.

A organização destas duas Cimeiras confere grande protagonismo internacional a Portugal e a escolha do nosso país – quer para aprofundar o relacionamento entre a UE e a Índia, quer entre a Índia a UE e África – não parece ter sido um acaso. Portugal tem muitos temas em comum com a Índia e uma longa relação histórica de conhecimento cultural recíproco.

Hoje a Índia tem um papel crescente na economia e na política mundial. Com o PIB próximo dos 9% ao longo de 2006, assente, mormente, na procura interna e no investimento público, este gigante asiático – o segundo país mais populoso do mundo com cerca de 1100 milhões de habitantes – é também o segundo país do mundo que mais prospera, logo a seguir à China (com um crescimento médio superior a 10%). A verdade é que, embora sujeita a diversos condicionalismos, a economia indiana prossegue a um ritmo assinalável e o Governo indiano fixou já um objectivo ambicioso de crescimento de 10% ao ano até 2011, transformando assim o país numa potência económica.

Para muitos, a Índia encontra-se actualmente na fase ascendente de um ciclo que começou em 2001. Com efeito, em consequência dos lucros cada vez mais elevados – nomeadamente oriundos do sector industrial – o conjunto da economia, em particular o sector dos serviços, tem beneficiado muito. Por exemplo, os grandes grupos indianos não hesitam em aventurar-se no estrangeiro e – como aconteceu de forma inédita em 2006 – em adquirir sociedades estrangeiras. Contudo, subsistem incertezas que pairam na economia indiana. A sua "excelente saúde" pode conhecer a qualquer momento um volt face na medida em que – e à semelhança do que acontece na China – também aqui o risco de inflação não deixa os dirigentes políticos tranquilos.

Acresce que – a par da "Índia económica" – há que olhar para a "Índia social". Paralelamente a uma economia vibrante coexiste um Estado-Providência que funciona mal, afastando um grande número de pessoas – sobretudo os rurais e a grande massa dos pouco qualificados – da sociedade do consumo (um quarto da população urbana é pobre). Ou seja, não sendo um país pobre é, sem dúvida, um país muito desigual e a verdade é que reúne as características de um país emergente: muita riqueza coabita com grande pobreza.

Para alguns, no conjunto dos países emergentes, a Índia é um exemplo de adaptabilidade ao movimento da "globalização". Outrora fonte de inspiração para a cultura ocidental, em particular para a literatura inglesa – veja-se a famosa Passagem para a Índia de E. M. Forster – ou portuguesa – através, entre outros, de Gil Vicente, de Camões, do Padre António Vieira; ou de Fernando Pessoa –, a Índia é hoje, acima de tudo, fonte de inspiração para os negócios.

Neste século XXI, a percepção tradicional que a Europa tem da Índia – e vice-versa – mudou muito. Dotados de uma visão estratégica a longo prazo, os dirigentes políticos indianos conseguiram que o país beneficiasse, além-fronteiras, de uma imagem muito positiva no plano dos negócios. O país atrai empresas de envergadura mundial que conseguem localmente recrutar técnicos altamente qualificados – muitos diplomados no MIT e/ou em Harvard mas também em universidades indianas – para todas as áreas de negócio. A atractividade do mercado indiano – de produção e de consumo, com uma classe média superior a 250 milhões de pessoas – é tal que levou já à instalação de milhares de investimentos ocidentais, entre os quais se destacam os da norte-americana General Motors, da alemã Volkswagen, da anglo-holandesa, Royal Dutch Shell, das francesas Renault (com a Mahindra) e Capgemini (que adquiriu a Kanbay), do grupo espanhol Cortefiel (com a Landmark), ou da finlandesa Nokia.

A estratégia das empresas estrangeiras parece ser a de saber adaptar-se a um mercado muito específico e a uma clientela muito heterogénea. Ao invés do que acontece na China, o desenvolvimento indiano, sem grande interferência das autoridades governamentais, tem-se virado para as indústrias baseadas no conhecimento, em particular a informática e os serviços associados às tecnologias de informação, e para a indústria farmacêutica. Contudo, estes sectores não são os únicos responsáveis pela expansão económica indiana: a indústria manufactureira é cada vez mais importante para o crescimento do país, nomeadamente o vestuário e a siderurgia (que serve o sector automóvel), assim como a construção civil.

A Índia é o 8º produtor mundial de aço, mas sob a pressão de gigantes como a Mittal prevê-se que a siderurgia indiana cresça ainda mais nos próximos anos. Também a indústria da construção civil parece em franco desenvolvimento, pois, nas ruas e nos media, abundam slogans que evocam a realização de um sonho da classe média: ter uma casa própria.

O século XXI será o "século asiático". Países como a Índia ou a China serão os novos grandes líderes mundiais a nível económico e político, reconfigurando uma nova geoestratégia mundial. A UE – e Portugal em particular – devem olhar esta reconfiguração de forma pragmática. O peso demográfico e económico dos dois gigantes é, actualmente, imbatível e será fundamental reforçar, no plano diplomático, um conjunto de iniciativas que poderão ser decisivas para os países envolvidos num futuro próximo.

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