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Iber sim, drola não

"A EDP ou alinha com a Iberdrola ou corre o risco de ser engolida." Quem disse isto? A quem pertence esta heresia? Ignácio Gálan, em Madrid? Joaquim Pina Moura, em Lisboa? Um editorialista do "Expansion" ou do "Cinco Días"?

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"A EDP ou alinha com a Iberdrola ou corre o risco de ser engolida." Quem disse isto? A quem pertence esta heresia? Ignácio Gálan, em Madrid? Joaquim Pina Moura, em Lisboa? Um editorialista do "Expansion" ou do "Cinco Días"?

Não. A afirmação é de Luís Mira Amaral e não podia ser mais politicamente incorrecta. Sucede que o ex-ministro da Indústria e Energia também dificilmente poderia dizer algo mais sensato. Por duas ordens de razão. A primeira parece óbvia. A segunda carece de uma explicação.

Parece óbvio que acabou o tempo em que a EDP podia decidir o seu futuro sozinha. Nem a posição do Estado, que é ainda o maior accionista, lhe permite ter uma estratégia autónoma. Pode adiar a questão, mas não a resolve.

A questão já não é "se" a EDP vai participar no movimento de fusões e aquisições na Europa, mas "quando". Assim sendo, o problema passa para um outro plano. O plano mais difícil, mas absolutamente incontornável, que é o da resposta ao "como".

É aqui que entra a opção Iberdrola. Não é uma opção nova, porque não foi ontem que a empresa espanhola se instalou confortavelmente no capital da EDP. E, além de não ser nova, pode deixar de ser opção. É esta parte que não está esclarecida.

Sócrates concordou que a Iberdrola fosse um parceiro activo da eléctrica nacional. E, nesse acordo, a Iberdrola aceitou sair do capital da Galp, que era a solução mais natural e mais adequada ao novo modelo que este Governo definiu para o sector.

O eng. Sócrates é o primeiro-ministro de Portugal. Ou seja, não foi a pessoa mas o Estado português a convidar um grupo estrangeiro a investir numa grande empresa nacional. E, tudo indica, com o consentimento dos privados portugueses. Foi aliás neste espírito de concórdia que o nome de António Mexia foi consensualizado.

Até aparecer o ex-Presidente Jorge Sampaio. Até aparecer o ex-candidato a Presidente, Aníbal Cavaco Silva. Até aparecer o presidente da Supervisão da EDP a confirmar, na semana passada, que os espanhóis foram travados pela pressão daqueles dois políticos e de outros que porventura não apareceram.

E, de repente, o parceiro "virou" adversário. E, subitamente, tudo aquilo que interessa à EDP deixou de ser do interesse da Iberdrola.

As eólicas, que a primeira vence e a segunda não deixa vencer. Com recursos hierárquicos, com queixas em tribunal e através de providências cautelares.

As centrais de ciclo combinado, que ambas disputam em consórcios concorrentes.

A central hídrica do Alqueva, que a EDP reivindica como sua e a Iberdrola disputa para si. E até em Espanha, onde existe uma guerra tarifária com o regulador, a EDP alinha com a Endesa... contra a Iberdrola.

Não foi Mira Amaral que ensandeceu. É esta relação que ficou completamente esquizofrénica. A Iberdrola tem praticamente 10% da EDP, é seu o maior accionista privado, não entra nos órgãos sociais e inferniza o mais que pode a gestão da empresa.

A EDP e o Governo – ou seja, António Mexia e Manuel Pinho – sabem perfeitamente que o mundo está perigoso, reconhecem que a empresa precisa urgentemente de parceiros, de preferência vários interessados, olham todos os possíveis e imaginários, menos para aquele que já está lá dentro.

A história das parcerias da EDP está repleta de oportunidades perdidas: a gigante Iberdrola teria sido, há meia dúzia de anos, uma fusão entre iguais; a pujante Fenosa foi antes uma aquisição à mercê e barata.

A EDP, se não alinha com a Iberdrola, pode ser engolida? Pode. Pela própria Iberdrola. E este é outro dado novo: o "pasito por pasito" de Gálan acabou. A partir de agora ou dá um passou atrás e vai embora, ou avança à bruta e sem pedir licença.

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