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06 de Maio de 2002 às 17:12

Hugo van Wijk: Relações bancárias: cartões de Natal em demasia?

Qual o valor de proveitos bancários que uma empresa deve gerar para cada banco por forma a que se possa falar de uma «massa crítica»? No nível inferior do mercado corporativo, aproximadamente 100.000 euros anualmente.

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Banco Borges & Irmão, Banco Pinto & Sotto Mayor, Banco Mello, Banco Atlântico, Generale Bank, Banque Bruxelles Lambert, Amro Bank, Algemene Bank Nederland, Nederlandse Middenstandsbank, Bank Austria, Fuji Bank, Dai-Ichi Kangyo Bank, Bank of Tokyo Mitsubishi, Sumitomo Bank, Manufacturers Hanover, JP Morgan, Banque Paribas, CCF, Midland Bank, BHF Bank, Schweizirische Bankgesellschaft, e por aí fora. O mais óbvio relativamente aos bancos acima mencionados é o facto de todos terem deixado de existir, pelo menos como bancos independentes.

A consolidação no sector financeiro não é novidade, a não ser o rápido aceleramento deste processo na última década. As economias de escala são um dos principais benefícios que se espera vir a obter, para além da internacionalização (se bem que, de facto, tenham ocorrido poucas fusões internacionais no sector bancário) e do desenvolvimento de oportunidades de «cross selling».

Obviamente, os responsáveis pela Concorrência, sejam nacionais ou de Bruxelas, apenas autorizam o crescimento da concentração se e quando um nível mínimo de factores competitivos estejam assegurados. Neste contexto, os responsáveis tentam, entre outros, definir os mercados relevantes que irão ser afectados por cada fusão planeada. Os mercados relevantes não são necessariamente definidos por critérios fronteiriços. Cada vez mais, pós-euro e pós-Internet, o mercado relevante é na maioria dos casos a totalidade da zona euro. Assim, apesar do número de bancos num determinado país se reduzir em consequência de fusões, isto não significa necessariamente uma redução automática na escolha qualitativa para os clientes.

Por outro lado, quantos bancos é que são efectivamente necessários? Temos abordado temas tais como os desenvolvimentos no sector bancário que afectam as relações com as empresas e os benefícios de proceder a uma análise das relações bancárias, tendo em consideração de igual modo o posicionamento dos bancos.

Uma abordagem possível passa por «divide et impera», a qual, efectuada por responsáveis financeiros menos sofisticados, muitas vezes é executado «à letra» e resulta em p.ex. empresas com vendas inferiores a 100 milhões de euros terem cinco ou mais bancos como parceiros. No entanto, esta estratégia produz benefícios financeiros reduzidos tanto para a empresa como para os cinco bancos, mas origina com certeza alguns cartões de Natal adicionais e um sem número de reuniões importantes para agendar.

Uma abordagem mais efectiva e com maior probabilidade de sucesso pode ser descrita como «unita et impera», em reconhecimento do facto de «menos poder representar mais». Seguindo semelhante estratégia, a assunção básica é a de que a empresa pode perfeitamente trabalhar com dois bancos, a não ser que exista argumentação indiscutível para a necessidade de serem três bancos, quatro, etc.

E o que poderá ser essa «argumentação indiscutível»? Por exemplo, linhas de crédito, capacidades ao nível de produtos bancários e cobertura geográfica. Caso uma empresa seja confrontada com estes argumentos, poderá procurar um banco adicional que lhe preencha o «gap» específico. Também se poderá argumentar que, num caso destes, terá chegado a altura de interromper o «casamento» com o banco actual, dado fazer sentido cada uma das partes seguir o seu caminho em virtude de as necessidades da empresa terem crescido para além das capacidades do seu banco. Em consequência, o banco poderá libertar recursos para captar clientes mais adequados às suas capacidades, e por seu lado, o cliente irá concentrar o seu tempo e negócio com um banco que possua mais força ao nível de capitais próprios/balanço, rede e oferta de produtos, i.e. que se adequem às necessidades da empresa. Por outras palavras, a empresa irá investir numa parceria que possa suportar o seu crescimento.

Adicionalmente à abordagem qualitativa do número de relações bancárias, é possível quantificar esta questão. Ou seja, qual o valor de proveitos bancários que uma empresa deve gerar para cada banco por forma a que se possa falar de uma «massa crítica»? No nível inferior do mercado corporativo (e não contando com os denominados bancos globais e respectivos relacionamentos globais), aproximadamente 100.000 euros anualmente, líquido de custos de «funding» para crédito. Este valor não é excepcionalmente elevado e uma empresa com um perfil razoável de «mix» de produtos bancários e vendas aproximadas de 15-20 milhões de euros, poderá facilmente alcançar o nível referido. No entanto, o leitor ficaria bastante surpreendido caso soubesse o número de cartões de Natal que tais empresas de dimensão «reduzida» recebem dos seus bancos...


Hugo van Wijk

Vallstein

Comentários para o autor para vallstein@clix.pt

Artigo publicado no Jornal de Negócios – suplemento Negócios & Estratégia

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