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Negócios negocios@negocios.pt 31 de Julho de 2000 às 12:35

Fernando Castro e Solla: «Confiança Descapitalizada»

A história de uma empresa em Bolsa não se constrói só com números e o valor das cotações não é feito só de euros. Há que dar atenção ao capital de confiança, que se reforça a cada momento, tal como as cotações que se formam em contínuo.

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A história de uma empresa em Bolsa não se constrói só com números e o valor das cotações não é feito só de euros. Há que dar atenção ao capital de confiança, que se reforça a cada momento, tal como as cotações que se formam em contínuo.

Os aumentos de capital provocam, naturalmente, ajustes técnicos nas cotações, seja porque incluem incorporação de reservas ou porque a subscrição se realiza a preços inferiores aos que se vão formando no mercado. Quando assim é, no dia em que as acções ficam «ex-rights», dá-se uma correcção nas cotações que mais não procura reflectir que o efeito de diluição que, quase sempre, os aumentos de capital acarretam. Porque são técnicas, estas correcções têm regras: regras matemáticas para o montante da correcção e regras de «timing» para a ocorrência das mesmas. Assim, estas correcções dão-se no momento em que se inicia efectivamente o aumento de capital e as acções cotadas ficam sem direitos.

No entanto, nem todas as correcções de cotações são técnicas e nem por isso deixam de ser justas. Qualquer facto relevante para o futuro da actividade da empresa e para o seu valor actual, provoca, justamente, alterações, por vezes significativas, do valor das cotações.

Um aumento de capital é um facto relevante na história de uma empresa cotada. Como tal, dependendo da avaliação que os mercados façam do valor desse facto relevante, o aumento de capital pode provocar alterações e movimentos nas cotações, independentes dos ajustes técnicos que tenham que vir a ser feitos.

Um aumento de capital tem sempre um qualquer propósito. Nas empresas com lideranças responsáveis, o propósito é sempre aumentar o valor da empresa e logo o valor para os accionistas actuais e futuros. Mas mais uma vez, o mercado é que é o juiz, o avaliador da eficácia desse propósito. Quando os investidores vêem valor nos projectos que o aumento de capital pretende financiar, o mercado premeia a intenção valorizando as acções mas quando não vêem valor nos projectos ou mesmo quando apenas não dispõem de dados para o avaliar correctamente ou ainda quando esses projectos são mal percepcionados, o mercado castiga, por vezes severamente, a gestão dessas empresas e logo as cotações em mercado.

De tudo isto resulta a enorme importância de que a comunicação do «management» com o mercado se reveste. Em mercados cada vez mais exigentes, é imperativo dar importância aos analistas, accionistas e investidores. Acompanhar a formação das suas percepções sobre os projectos da empresa é por vezes a única forma de evitar interpretações erradas ou precipitadas que conduzam a correcções desnecessárias.

A história de uma empresa em Bolsa não se constrói só com números e o valor das cotações não é feito só de euros. Há que dar atenção ao capital de confiança, que se reforça a cada momento, tal como as cotações que se formam em contínuo.

Assim, se evitariam desastres como o que sucedeu com a Portugal Telecom na passada sexta-feira. Neste caso, o capital de confiança no «management» da PT deve estar mesmo falido pois um simples anúncio, ainda que mal explicado nos seus propósitos, de um aumento de capital financeiro trouxe à superfície toda a profunda descapitalização de confiança na gestão daquela que se assume como a «blue chip» do mercado português.

fsolla@banco-privado.pt www.banco-privado.pt
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