Opinião
Do “inferno” aeroportuário à experiência relaxante – uma indústria em mudança
No fim do período de férias, são muitos os que têm alguma experiência relevante e até caricata para contar sobre o sector da aviação e os negócios que o rodeiam. A olho nu todos percebem que o número de voos não pára de aumentar, que as companhias aéreas
A inovação nos modelos de negócio das companhias aéreas tem tido enormes repercussões nos principais negócios que suportam a aviação. O negócio das infra-estruturas aeroportuárias é um dos negócios que têm visto crescer radicalmente os seus clientes mas também os seus concorrentes. Hoje, na Europa, os aeroportos fazem parte de uma indústria competitiva na qual os diferentes players se digladiam por um novo cliente (companhias aéreas). O conceito de aeroporto como uma infra-estrutura pública de carácter estratégico para o Estado foi ultrapassado pela lógica de mercado.
Portugal não é excepção, o número de voos e passageiros cresceu (aumento de 10,6% no primeiro semestre de 2007 face ao homólogo de 2006, dados do Airports Council e ANA) e a competitividade da indústria está bem evidente no exemplo de Faro, em que a disputa com aeroportos da vizinha Espanha, justifica a existência de um ponto de atendimento aos turistas que vão para resorts espanhóis através de uma ligação terrestre Faro – Sul de Espanha.
O cenário competitivo da indústria tem contribuído para algumas inovações interessantes: a criação de zonas de entretenimento (SPA, casinos, centros de meditação e relaxamento, centros de vídeo jogos, etc?) e serviços diferentes (Babycare, centros de negócios, espaços para duche, Playgrounds para crianças, etc?) têm sido a face mais visível da inovação.
Algumas inovações mais radicais, ao nível do modelo de negócio, estão a surgir. Veja-se o caso de Marselha que criou um terminal Low Cost (mp2) caracterizado pela minimização de serviços e transferência de tarefas dos funcionários aeroportuários para os passageiros. Também o aeroporto de Munique tem uma estratégia pouco convencional, abriu-se à comunidade em volta da infra-estrutura e hoje é um centro de diversão (pasme-se, inclui uma discoteca!) e de compras orientado a outro segmento de clientes. Munique quebrou algumas das ortodoxias da indústria e viu a receita dos negócios não aviação crescer 500% nos últimos 15 anos.
Contudo, o ritmo das inovações no modelo de negócio dos aeroportos não acompanha a evolução da inovação nas companhias aéreas e do nível de necessidades dos milhões de passageiros que por ano passam por um qualquer aeroporto. Os utilizadores têm numa grande parte dos casos más experiências nos períodos em que esperam no aeroporto e o potencial de receitas está aquém do que se pode explorar num espaço onde todos têm que passar.
O facto de se entender melhor as necessidades não atendidas dos clientes, que passaram várias horas das suas férias num aeroporto, o facto de desafiar algumas ortodoxias da indústria e interpretar algumas das tendências nos comportamentos, pode permitir um salto revolucionário na indústria. A inovação pode resultar da melhor compreensão e da simples combinação destes três inputs.
As mudanças que o sector tem sofrido demonstram um imperativo para a inovação. Não só inovação incremental e/ou pontual, mas a inovação disruptiva, ao nível do modelo de negócio. A primeira permitirá melhorar a “Airport experience” e a segunda poderá contribuir para a própria redefinição/refundação do negócio.