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16 de Março de 2007 às 13:59

Depois de Chirac, as incógnitas dominam

Jacques Chirac esta semana tornou oficial aquilo que já se sabia: não irá procurar um terceiro mandato. Com alguma surpresa porém o Presidente francês traduziu as reservas dos franceses relativamente ao seu sucessor. Chirac após um longo discurso de despe

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O prémio de consolação para o candidato da UMP veio do primeiro-ministro, seu antigo rival, Dominique de Villepin, que se torna assim o terceiro Chefe de Governo de Chirac a alinhar no apoio ao continuador da mesma família política.

O prémio todavia ficou aquém do que Sarkozy poderia esperar numa corrida presidencial onde nenhum dos três candidatos principais se consegue destacar nas intenções de voto dos franceses.

François Bayrou, o centrista da UDF, continua a destacar-se aproximando-se da socialista Ségolène Royal que a custo mantém uma liderança insuficiente para lhe garantir a segunda volta. Sobretudo depois da "gaffe" socialista que abriu uma breve brecha no confronto aberto entre os socialistas e a direita de Sarkozy e centro-direita de Bayrou.

O eleitorado está pela primeira vez perante candidatos de uma nova geração diferente, à esquerda e à direita, dos antigos dinossauros que percorriam a política francesa desde a 2ª Guerra Mundial. Os franceses estão literalmente fartos, para usar a sua própria expressão "ils ont ras le bol". Sentem que a França orgulhosa perde a influência não só no Mundo mas na Europa que construiu. Sentem que a França, génese da revolução social, perde as regalias e as protecções sociais que reivindicou e conquistou ao longo de décadas. Sentem o projecto Airbus ameaçado.

Mesmo que a Airbus seja um consórcio de países os franceses vêem-no como "seu" e venderam-no desde o início como seu. Com o euro forte relativamente ao dólar começam a ver a posição de liderança obtida a muito custo face à Boeing americana ceder a bom ritmo. O eixo franco-alemão passou a ser um desapontamento e, depois de um entendimento frutuoso com antigos líderes alemãs, independentemente das cores políticas de cada lado, não existem estratégias comuns.

Ségolène Royal, François Bayrou e Nicolas Sarkozy apresentam programas políticos semelhantes apenas subtilmente divergentes. A socialista Ségolène Royal é, porém, dos três candidatos-estrelas o único que fala de uma revolução, da necessidade de revolucionar as relações laborais e empresariais. Uma revolução que deve ser escrita entre aspas. Os dois outros candidatos fazem aos franceses apelos que anteriormente fizeram e retribuem ataques sobre passado e presente de cada um. Seria de esperar que no meio destas contradições entre direita e centro-direita a candidata socialista singrasse.

Ségolène Royal, apesar do seu discurso, ainda não conseguiu estabelecer uma postura de Estado, muito cara aos franceses. Os seus adversários têm todavia problemas de credibilidade e de capacidade para governar. Os franceses estão confusos e indecisos. A esquerda continua a ser maioritária em França, no entanto algum eleitorado sente-se tentado a apostar numa moderação mais evidente marcada por François Bayrou.

Se à direita e ao centro-direita nada de substancialmente novo é oferecido à esquerda a candidata deixa antever uma "revolução" assente, pelo menos aparentemente, no primeiro mandato de Tony Blair. As questões sociais foram colocadas na agenda, e aqui Ségolène acabou por receber uma benesse na despedida de Jacques Chirac, que continuou aparentemente em temas caros à esquerda nos seus conselhos aos franceses. Chirac sublinhou a não discriminação, a França poderosa, a França social, a ecologia, a França da cultura mas da economia forte.

Um Chirac apoiante da candidata socialista é porém algo pouco credível e qualquer coisa que os próprios socialistas neste momento talvez nem sequer desejassem. Ségolène tem visto desfilar um por um os socialistas mais conotados à esquerda, dando-lhe não só o seu apoio como tecendo as mais variadas críticas aos seus opositores. Sem um Partido Comunista forte e com uma extrema-esquerda irrelevante, tal como a extrema-direita o está a ser, o PSF procurar marcar bem o seu território sem contudo esquecer que tem de ocupar o centro.

A luta é pela classe média, a que pagou a crise, como Chirac não deixou de recordar. Mas afinal foi Jacques Chirac quem apresentou a factura. Os benefícios das críticas entre direita e centro direita poderão dividir-se entre o PSF e a extrema-direita, um facto a que esta está atenta. Mas o caminho para a segunda volta para o Eliseu passa neste momento e nos próximos tempos pela capacidade de convencimento que Ségolène Royal vier a demonstrar sustendo a drenagem do eleitorado de esquerda para o centro-direita.

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