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CoCos Chanel

Chegaram sem grande alarido a Portugal, devagarinho, foram-se entranhando nos jornais e nos memorandos da banca, provocando reacções tão distintas quanto a natureza das interpretações que a sua abreviação evoca.

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Chegaram sem grande alarido a Portugal, devagarinho, foram-se entranhando nos jornais e nos memorandos da banca, provocando reacções tão distintas quanto a natureza das interpretações que a sua abreviação evoca. Os instrumentos híbridos de capital contingente, os "CoCos", convidam ao sorriso fácil e despreocupado, mas podem desempenhar um papel absolutamente determinante na evolução de curto prazo da economia portuguesa.

Para começar, resolveram um embaraço. Estado dentro dos bancos é uma ideia que assusta. Não só aqueles com memória de décadas, mas sobretudo os que ainda pagam o preço das últimas intervenções públicas no sector. Os "CoCos" são um meio caminho para evitar que se repitam os processos traumáticos ou ruinosos do passado. Porque em vez de passar a deter acções dos bancos, o Estado pode ficar a deter títulos de dívida híbridos, que só são convertidos em capital em determinadas condições limite. No caso do BCP e BPI, há um prazo para pagar ao Estado e regras de financiamento da economia. Se falharem, o Estado fica com capital. E, pelo caminho, o Estado vai recolhendo um juro generoso de 8,5%.

Deverá dar algum conforto aos contribuintes saber que os "CoCos" têm na sua génese as ideias de Warren Buffett, cujas condições que impôs para investir, em 2008, no Goldman Sachs ou na General Electric (GE) passavam por ter acções preferenciais, sem direitos de voto, com um dividendo generoso por ano e uma garantia de poder comprar acções das instituições no futuro. O glorificado investidor pretendia, com estas condições, assegurar que o seu "apoio" a instituições em dificuldade – mas com um futuro credível – fosse bem pago durante e depois da sua intervenção.

Estes instrumentos que Buffett "criou" inspiraram os "CoCos" que, desde então, "explodiram" e atingiram tal nível de maturidade que já suscitaram alertas de reguladores dos EUA e Europa e um pequeno "confronto" sobre a sua diferente contabilização fiscal (que em Portugal está nas mãos do Banco de Portugal).

Os "CoCos" prometem, assim, assegurar que a economia portuguesa se liberta dos espartilhos da falta de crédito e assume vestes mais livres, à imagem da revolução na moda protagonizada pela criadora Coco Chanel no início do século passado. E que dá o mesmo conforto aos contribuintes que o seu clássico fato Chanel deu a milhares de mulheres em todo o mundo, até aos dias de hoje. Esperemos. O único problema é que nem o BCP nem o BPI são o Goldman Sachs ou a GE, nem a economia portuguesa tem o aspecto de uma silhueta feminina.

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