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13 de Agosto de 2009 às 11:43

Berlim, Cuba e o Bairro Alto

A 13 de Agosto de 1961 Berlim foi dividida por um muro. Pela primeira vez, um regime erguia uma vedação para impedir os seus cidadãos de fugir. Ainda hoje muitos tentam fugir de Cuba ou da Coreia do Norte, enquanto em Portugal os que defendem esses...

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A 13 de Agosto de 1961 Berlim foi dividida por um muro. Pela primeira vez, um regime erguia uma vedação para impedir os seus cidadãos de fugir. Ainda hoje muitos tentam fugir de Cuba ou da Coreia do Norte, enquanto em Portugal os que defendem esses regimes falam como se tivessem todas as soluções.

Em Novembro, a Europa vai festejar os 20 anos da queda do muro de Berlim, enquanto Cuba celebra os 50 anos de uma revolução que mantém o país parado no tempo. Cinco décadas que deixaram o país num estado de ruína e decadência. Havana era uma das mais ricas cidades da América Latina; hoje é uma capital cheia de pobreza, em que a maioria da população tem dificuldades em comprar os bens mais elementares.

Cuba hoje importa quase 80% dos alimentos que consome, apenas porque a nacionalização dos campos limita fortemente o seu forte potencial agrícola. O próprio Raul Castro recentemente reconheceu que há muitas terras ociosas, falando da necessidade de liberalizar o sector agrícola para tentar estimular a produção. Um reconhecimento de que as soluções do regime são as principais responsáveis pela triste situação a que o país chegou.

Durante muito tempo o embargo americano foi o álibi para todos os problemas. No entanto, Cuba sempre pôde exportar e importar bens para a Europa ou para a América Latina. O verdadeiro problema sempre foi não ter mais que exportar que charutos e cana de açúcar, não conseguindo divisas para importar o que necessitava. Hoje, Obama já mostrou sinais de abertura e a ilha mantém-se fechada.

Sem iniciativa privada, Cuba nunca desenvolveu indústria e mesmo o turismo só cresceu quando o Fidel se viu sem o petróleo oferecido pela União Soviética e teve de deixar entrar investimento estrangeiro no país. Até então o investimento estrangeiro era praticamente proibido por ser contra a revolução. Fidel era e ainda é o verdadeiro bloqueio de Cuba. Um bloqueio que mesmo moribundo continua a fazer do mar das Caraíbas um dos últimos pedaços de muro de Berlim.

Sempre me intrigou o apoio que este senhor tem em tantos sectores da sociedade portuguesa. Um ditador de barbas e charuto dá uma fotografia gira, mas não deixa de ser um ditador. Uma pessoa que faz discursos de sete ou oito horas é um chato, que só pode viver em regimes onde todos têm de lhe dizer que sim. Em Cuba faltou uma cadeira que apressasse a queda do Fidel.

Cuba partilhou com os outros diferentes modelos de comunismo real a mesma falta de liberdade, que inclui a existência de presos políticos, fronteiras fechadas, ausência de liberdade de impressa e de liberdade sindical, a vigilância permanente dos cidadãos e a delação como prática corrente. Foi assim na Alemanha, Rússia, Albânia e Roménia, é ainda assim em Cuba e na Coreia do Norte. A liberdade nunca existiu, a prosperidade e a riqueza nunca chegaram.

Em Portugal ainda vários partidos apoiam o ditador moribundo de Cuba e, tal como ele, consideram que nunca nada de bom poderá vir do investimento estrangeiro, da economia de mercado ou da liberdade de iniciativa. Muitos dos que apoiam estes partidos parecem ignorar que a liberdade de iniciativa é também a liberdade de abrir bares, livrarias, editoras, que gera a liberdade de viver numa sociedade onde teatros, escolas de música ou de circo nascem sem terem de ser promovidas por nenhum regime.

Fenómenos como o Bairro Alto ou a Baixa do Porto só podem surgir da iniciativa descentralizada de empreendedores e agentes culturais livres. Não é por acaso que os modelos centralizados tiveram tanta dificuldade em lidar com a cultura ou com o lazer. Nos regimes comunistas não existiam Bairros Altos. Este, com as suas lojas e bares, é também um produto da liberdade de iniciativa e da sociedade livre e de mercado que temos, mesmo que isso custe a reconhecer a alguns que o frequentam.

Quarenta e oito anos depois da noite em que foi construído o muro de Berlim é legítimo perguntar que credibilidade merecem as soluções de quem ainda vive atrás de uma cortina de ferro que já não existe? Qual a coerência de quem recorda os presos da PIDE ou de Guantanamo, enquanto aceita os presos de Fidel? Será que as condições de trabalho e os salários são melhores em Cuba do que no México? Porque é que partidos como o PCP ou o Bloco de Esquerda falam com a arrogância de quem é dono da verdade quando é tão clara a mentira que foi e ainda é o pesadelo comunista do qual nunca verdadeiramente se dissociaram?

Professor no Departamento de Economia da Universidade do Minho
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