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Avariou a nova máquina de fazer dinheiro

O ano de 2008 promete começar mal e terminar ainda pior por causa da crise gerada nos Estados Unidos. O problema do BCP nem existe quando se percebe (pouco) o que ainda está para acontecer no mercado de crédito à habitação no outro lado do Atlântico. Tal

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E tal como em 1929, há o risco de só se perceber tarde de mais o que fazer. Porque a crise que se vive pode ser semelhante nos seus efeitos mas é diferente nas suas causas. Em 1929 o valor dos activos cotados em bolsa caiu. Em 2006 parece ter avariado a máquina de fazer dinheiro inventada há poucas décadas. Como se de repente também deixasse de funcionar a velhinha máquina de transformar depósitos em crédito, como também aconteceu nos primeiros tempos em que começou a funcionar e acabou por ditar parte das regras de supervisão bancária que conhecemos.

Podemos estar a viver a primeira crise de um novo mundo do dinheiro. O banqueiro inventou há séculos o crédito a partir do depósito e revolucionou o universo da moeda. O engenheiro financeiro inventou crédito a partir de crédito, a partir de crédito, a partir de crédito... durante as últimas décadas do século XX. Um novo mundo que alguns analistas já afirmam que nos transportou de uma economia monetária para uma economia financeira.

É esta nova realidade que ninguém conhece bem. Nem os banqueiros e muito menos as autoridades que supervisionam os bancos. Foi essa a mensagem da confissão do responsável da Bear & Sterns quando revelou em Agosto do ano passado não ter noção de quanto estava a perder.

A incompreensão sobre os mecanismos que estão dentro da caixa deste novo mundo financeiro é ainda simbolicamente reflectida na dificuldade em classificar a crise: é de liquidez? É de confiança? É de crédito? Umas estão ligadas a outras, mas como se corta o mecanismo que se está a reflectir subitamente em muito menos crédito e, obviamente, em crédito bastante mais caro?

Parar um tsunami com... a mão

O primeiro semestre deste ano deverá ser marcado, nos EUA, por mais uma onda de incumprimentos no pagamento dos créditos concedidos a famílias com elevado risco. O tempo que os financiadores lhes deram sem pagamento de prestações – o período de carência - vai terminar. Olhando para o Verão, quando dia 9 de Agosto de 2007 se acordou definitivamente para a gravidade da crise conhecida como subprime, por via das cedências massivas de recursos às instituições financeiras por parte do BCE, Reserva Federal e Banco do Japão, verificamos que a conjuntura económica está hoje mais frágil.

Muitas pessoas já perderam emprego nos Estados e na Europa – no sector financeiro principalmente – por causa da crise. E não é de admitir que as financeiramente frágeis famílias que compraram casa com essas condições tenham prosperado.

Já se adoptaram entretanto medidas. A dúvida está na eficácia da actuação das autoridades governamentais e monetárias.

A administração norte-americana conseguiu levar por diante um programa de apoio a essas famílias filhas do subprime com recursos dos bancos que se meteram nesse negócio. Mas será isso suficiente para impedir a nova onda que se espera de incumprimento de prestações de crédito? Não se sabe.

No universo dos bancos centrais, o combate aos efeitos da "crise subprime" é a imagem de tentar parar um tsunami com a mão. As ferramentas que os banqueiros centrais têm hoje estão ajustadas ao combate de ondas – e não tsunamis – criadas pelos velhinhos bancos que recebiam depósitos e concediam crédito. Não têm instrumentos nem parecem saber muito bem como se batalha contra ondas criadas por crédito que gerou ainda mais crédito e mais crédito, através de titularizações e outros produtos que fizeram da intermediação bancária uma ciência oculta.

Receio que esteja em andamento uma crise económica de proporções relativamente graves, com semelhanças à de 1929. A crise que vai impor novas regras de funcionamento no sector financeiro. Tal como a crise de 1929.

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