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09 de Setembro de 2008 às 13:00

As preferências eleitorais dos diversos estratos demográficos

As eleições presidenciais americanas estão na fase crucial. É o momento de reflectir sobre o posicionamento actual dos principais grupos demográficos, com características de swing voters, enquanto as convenções e escolhas de candidatos a VP decorrem.

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Os hispânicos são um bloco preponderante. Representam 20% da população de alguns dos estados que estão em situação de empate técnico: Nevada, Colorado e Florida. Isto favoreceria Obama: o Pew Institute estimou em mais de 60% o apoio da comunidade hispânica ao democrata. O Novo México (NM), o Arizona e o Texas têm também uma percentagem elevada de hispânicos, mas demonstram sentido de voto previsível.

O problema de Obama é que o seu favoritismo entre os hispânicos está longe de garantir a vitória em qualquer dos três estados referenciados. No Nevada, a comunidade hispânica é muito diferente da que existe no NM. Enquanto neste último se trata de uma população estabelecida, e com índices apreciáveis de registo eleitoral, no Nevada os hispânicos são mais recentes, e não têm, em geral, níveis relevantes de recenseamento. Já na Florida, a comunidade hispânica tem tradição. Contudo, a percentagem de habitantes com mais de 65 anos é superior à média nacional. Em particular, em Palm Beach County, uma das áreas "must win" para os democratas, essa percentagem chega aos 21.3 %. Adicionalmente, o peso da comunidade judaica em Broward County é significativo. Sendo estes grupos demográficos tradicionalmente difíceis para Obama, a Florida pode ser uma utopia.

A situação do Colorado é distinta. Seria possível uma votação da comunidade hispânica em Obama. Contudo, o estado é marcado por um forte conservadorismo fiscal. Nesse sentido, o plano económico de McCain, ainda que pouco consistente, pode ter aqui particular adesão.

Quando consideramos a estratificação religiosa do eleitorado, percebemos as dificuldades de Obama no Oeste, particularmente na cintura mórmon. Se Romney tiver um papel activo na campanha, estima-se uma forte mobilização dos 7.41% de mórmons na população do Nevada, podendo dizer-se que o estado estaria definitivamente na coluna de McCain.

Quanto aos protestantes evangélicos, base tradicional do partido republicano, a vantagem de McCain é clara, sendo apenas ameaçada pela eventual presença de um candidato a VP demasiado liberal em termos sociais: Romney, ou mesmo Ridge (um defensor da liberalização do aborto). Os protestantes evangélicos têm um peso relevante em muitos "swing states" cruciais: no Ohio, Indiana e Pensilvânia, por exemplo.

A análise dos estratos demográficos e sociais impõe a clarificação de um mito importante. Diz-se que a população afro-americana de alguns estados do Sul, como a Georgia (30%), Carolina do Norte (21.7%) e Mississipi (37.1%) poderia gerar algumas vitórias para Obama. As sondagens não mostram isso: com excepção da Carolina do Norte, as margens de McCain são amplas. O problema foi analisado por Thomas Schaller em "How democrats can win without the South". Em primeira lugar, Schaller nota que é a percentagem de participação da comunidade afro-americana está próxima da percentagem desta comunidade no total dos eleitores destes estados. Obama não poderia assim aumentar significativamente a participação deste grupo. Por outro lado, Schaller nota que a história demonstra que em eleições em que há grande mobilização do eleitorado afro-americano nestes estados, tende a produzir-se uma reacção de sinal contrário, com o eleitorado branco a aumentar a sua participação.

Em síntese, Obama deveria ter como prioridade ganhar a confiança de protestantes evangélicos dos "rust belt states". McCain parte de uma situação de vantagem, já que apenas tem de defender a base de apoio do GOP ["Grand Old Party" ou Partido Republicano]. Mas deverá ter consciência que esta sempre o olhou com cepticismo, temendo que ele faça escolhas demasiado liberais.

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