Opinião
Artur Fernandes: «Desemprego: drama ou oportunidade?»
Saia para a rua a distribuir CV, marcar entrevistas, chatear todos os amigos, conhecidos, amigos dos amigos, conhecidos dos conhecidos e afins. Afinal esta país não é uma selva de cunhas?
O célebre consultor norte americano Dale Carnegie ensinava uma máxima que me tem ajudado bastante ao longo da vida: «Se te derem um limão, não o comas, faz uma limonada». Queria ele significar com esta figura, que se tivermos um problema não deveremos consumi-lo ou deixar que ele nos consuma, mas aproveiitar o que ele tem de bom e transformá-lo em algo de bom e de positivo.
Esta máxima pode ser aplicada mesmo a um problema com a gravidade do desemprego.
A maior parte das pessoas não faz aquilo que sonhou quando jovem. E essas mesmas pessoas não estavam verdadeiramente empenhadas naquilo que faziam no emprego que perderam. A maioria trabalhava no primeiro emprego que arranjou e onde se adaptou sem gostar, vivendo uma rotina a maior parte das vezes infeliz.
Os intervalos eram passados a dizer mal da vida e do patrão, desportos com mais adeptos do que o futebol. Mas, em contrapartida, a almejada estabilidade justificava tudo. Até o arrastar a vida pela infelicidade.
De repente, e sem para isso estar preparado, fica-se no desemprego. A primeira sensação é de profunda revolta. Afinal estavam a roubar-nos aquilo que nos fizera sacrificar tudo. Não gostava do trabalho, detestava o chefe, considerava-se mal pago, mas tinha estabilidade concretizada no milagre mensal do reforço da conta bancária.
Agora até isso ia faltar. Grande injustiça!
Porque não ver o problema ao contrário? Só o ordenado ao fim do mês é que vai faltar. Acabaram-se os trabalhos chatos e não desejados e o mau chefe. Uma vida nova pode começar. Esta é uma oportunidade única de reconstruir uma carreira que estava destinada a acabar da pior forma,como se viu.
Às vezes são precisos uns abanões fortes para nos fazer acordar do doce sono da rotina e nos fazer de novo ter prazer na vida. Porque se pode ter prazer a trabalhar!
Mas mesmo que, e sei que há muitos casos, fosse feliz a fazer o que fazia e gostasse do chefe e da empresa, o desemprego deve ser sempre visto como uma oportunidade de melhoria, de evolução, de mudança para melhor. Apenas com uma diferença: há recordações boas para guardar, enquanto na situação anterior há apenas uma vida estragada para esquecer.
<+>Mas está no desemprego. Esta é a verdade nua e crua. Pois bem, tem duas alternativas. Ou fica em casa a curtir a desgraça e a preocupar toda a gente e, neste caso, não lhe dou mais de um mês para estar na bicha do Centro de Saúde, feliz por ter alguma coisa que fazer e por lhe darem atenção, ou parte para a luta determinado a vencê-la. Sabe que o mercado está difícil e que há mais desempregados do que empregos, mas está determinado a conseguir um para si.Se vestir esta determinação, parte logo em vantagem, porque marcará a diferença. E como é que vai marcar essa diferença? Em primeiro lugar deverá definir como objectivo de vida conseguir um trabalho que se adapte a si. Não vai querer repetir os erros do passado, em que dançou conforme a música tocou em vez de ser o maestro da sua vida, pois não? Depois de definido o objectivo, deverá traçar o caminho para lá chegar. Seja o estratega da sua vida, não fique sentado no sofá à espera que algo aconteça.
Faça um CV bem feito onde deve realçar todas as suas competências, mesmo aquelas que já se tinha esquecido. Já sabe a história do chefe de cozinha que era contabilista e só descobriu que podia ser um grande cozinheiro e atingir a felicidade quando a consultora onde trabalhava faliu?
E sabe a história do empresário de manutenção de jardins que tinha como «hobby» a jardinagem e hoje ganha a vida a fazê-lo, depois de perder o emprego de chefe de turno de uma empresa metalúrgica em crise? Ou a do director de recursos humanos de uma empresa industrial que hoje tem uma próspera empresa de compotas?
Os exemplos são muitos de pessoas que descobriram a felicidade e a riqueza depois da oportunidade do desemprego.
Saia para a rua a distribuir CV, marcar entrevistas, chatear todos os amigos, conhecidos, amigos dos amigos, conhecidos dos conhecidos e afins. Afinal esta país não é uma selva de cunhas? Então ponha as suas a funcionar, não se deixe ultrapassar pelos cunhados dos outros.
Atenção a uma regra muito importante: saia de casa todos os dias entre as 8 e as 9 da manhã, com uma agenda bem cheia de contactos, empresas a visitar, entrevistas para marcar, contactos para fazer e acompanhamento de contactos anteriores para fazer. Os seus objectivos agora são mesmo seus, não são da empresa que lhe pagava o salário.
Agora já não é a brincar. Se não atingir os objectivos que se propôs já não está em causa um simples bónus, está sim a sua felicidade. Por isso empenhe-se, vá à luta e, acima de tudo, não se deixe cair na comiseração. Ninguém dá emprego a infelizes, desgraçadinhos e vencidos.
Apresenta-se com as costas bem direitas, um sorriso nos lábios e ar determinado. As hipóteses de sucesso serão bem mais garantidas. Não se esqueça que o desemprego é uma oportunidade de ouro para passar a ter uma vida mais feliz. Aproveite-a.
Artur Fernandes
Artigo publicado no Jornal de Negócios