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Nicolau do Vale Pais 12 de Outubro de 2012 às 11:59

A última notícia do "Público"? (o Caso Tecnoforma, ou que deve Passos a Relvas)

A história conta-se em duas penadas; a importância do jornalismo de investigação, essa, já não é tão fácil de proteger - uma coisa é andarmos aos "flashes" com números, deficits, estatísticas, orçamentos e sondagens, outra, bem diferente, é procurarmos o cerne das questões

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A história conta-se em duas penadas; a importância do jornalismo de investigação, essa, já não é tão fácil de proteger - uma coisa é andarmos aos "flashes" com números, deficits, estatísticas, orçamentos e sondagens, outra, bem diferente, é procurarmos o cerne das questões, a génese e motivação do mal, antes que ele se generalize de tal forma que precisemos de nos encolher para, famintos, o conseguirmos albergar à nossa mesa. O "caso Tecnoforma" que o jornal "Público" descobriu e acompanhou ao longo destes últimos dias, é paradigma da lucidez informativa centrada no resgate do pensamento liberal, contraposta ao obscurantismo de massas, venal e parasitário, das ligações partidárias ao tecido económico.

A Tecnoforma é uma empresa da área da formação profissional. Está hoje liminarmente falida, tendo sido já alvo de execuções fiscais de valor superior a 500.000€. Passos Coelho foi seu consultor, gestor e, finalmente, administrador. O programa Foral - lançado com dinheiros do Estado e do Fundo Social Europeu por António Guterres em 2001 - destinava-se sobretudo aos Municípios do Continente, sendo "dirigido às necessidades de formação profissional da administração local". Às Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (vulgo CCDRs) cabia, precisamente, a coordenação deste programa. A fatia maior coube às autarquias, juntas de freguesia etc... mas havia parte a distribuir pelo sector privado.

Miguel Relvas foi secretário de Estado da Administração Local de Durão Barroso (2002-2004); Paulo Pereira Coelho era seu gestor na CCDR - Centro. Passos era consultor na dita Tecnoforma, onde João Luís Gonçalves era sócio e administrador. António Silva era seu director comercial e também vereador na Câmara Municipal de Mangualde. Todos foram destacados dirigentes da JSD e, parte deles, deputados do PSD.

E agora os números: 82% do valor das candidaturas apresentadas ao FORAL na Região Centro coube à Tecnoforma. Entre 2002 e 2004, 63% do número de projectos aprovados (para o sector privado) pelos responsáveis do programa pertenciam à mesma empresa. E, como projectava o "Público" no passado dia 7 de Outubro, se extrapolarmos ao nível nacional, concluimos que a dita Tecnoforma subscreveu 26% (um quarto, se preferirem) de todas as candidaturas privadas viabilizadas. O "Público" descobriu que Passos Coelho - que assegura nunca ter sido accionista da empresa - omite dos seus currículos o facto de ter sido administrador da Tecnoforma entre 2005 e 2007, para além de seu consultor entre 2002 e 2004. As ligações de Paulo Pereira Coelho e Miguel Relvas à liderança do actual primeiro-ministro da Juventude Social Democrata são públicas. E notórias.

Confrontado com os factos, Pedro Passos Coelho rejeitou qualquer ideia de favorecimento. "Absurdo", exclamou. E tem razão. O deboche atingiu tal ponto que nem é preciso ilícitos para que a promiscuidade e o dolo funcionem em todo o seu esplendor. Já no dia 10, as notícias sucediam-se: Relvas, mais uma vez enquanto secretário de Estado da Administração Local, conseguiu que a Tecnoforma obtivesse um contrato de 1.2 milhões de euros para a formação de técnicos para aeródromos. Esta candidatura foi a mais cara de todas as aprovadas do dito programa.

A classe política, medrosa, escondeu-se para comemorar o útlimo 5 de Outubro; o Sr. primeiro-ministro foi para o Leste, concerteza empreender algo de muito importante para a nação. Nós agradecemos penhoradamente o trabalho dos colegas do "Público" e a forma como nos mostrou com quem estamos, de facto, a lidar. E não é preciso ser iluminado para perceber que a sociedade onde Passos governa é exactamente a mesma onde um jornal como o "Público" definha.

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