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A tropa fandanga

Os militares estão indignados com os cortes anunciados. Têm razão. Vão perder regalias. Na assistência à doença, no regime de segurança social. Não importa que o comum dos mortais não tenha a possibilidade de ser “especial”. Vendo também o Estado cobrir p

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Os militares estão indignados com os cortes anunciados. Têm razão. Vão perder regalias. Na assistência à doença, no regime de segurança social. Não importa que o comum dos mortais não tenha a possibilidade de ser "especial". Vendo também o Estado cobrir praticamente a totalidade das despesas de saúde. A sua e a do agregado familiar.

Nem interessa agora lembrar que a nossa tropa é a única dos países civilizados que consome quase dois terços do Orçamento da Defesa em salários e pensões.

Nem reabrir a discussão em torno das opções de investimento em equipamento militar. E agora, quando voltamos a ver o país a consumir-se em incêndios, impotente, sem meios aéreos, para quê voltar às perguntas de sempre "os submarinos eram mesmo necessários? os chaimites estavam velhos, mas os novos tanques servem para quê?"

Ok, as Forças Armadas são um sector sensível, devem ser tratadas à parte. Também isso está certo. São as Forças Armadas que protegem o nosso território. Mais os professores que ajudam os nossos filhos a tornarem-se cidadãos. Mais os médicos que nos mantêm vivos. Os enfermeiros que assistem os médicos nessa nobre tarefa.

E ainda os polícias que garantem a nossa segurança e a dos nossos pertences. Os juízes que asseguram o cumprimento das leis. Os trabalhadores da Carris, do Metro e da CP, que se responsabilizam pela nossa mobilidade.

É toda esta massa humana que, legitimamente, está inconformada. E são os sindicatos que os representam que, de uma forma ou de outra, já anunciaram manifestações da sua revolta com o "assalto" deste Governo aos direitos adquiridos.

O país, sem se aperceber, criou uma sociedade dual. Uma parte que não sofre as pressões do mercado, que não é discriminada em função do que produz, e que recebe "privilégios" que, efectivamente, são vedados à outra parte da sociedade.

Dito de outra forma, perdeu-se o sentido de nação. Perdeu-se, inclusivé, o sentido do equilíbrio. As corporações invadiram o espaço do poder a partir deste vazio. Instalaram-se no dogma do "direito adquirido". Quem fala dos deveres é acusado de reaccionário. Ou de coisas bem piores, se forem ditas pelo senhor Alberto João.

Só assim, com toda a naturalidade, um professor explicará ao pai de um aluno do 9º, que provavelmente o seu filho não vai ter exames no fim do mês, porque esse professor quer continuar a reformar-se cinco anos antes desse pai.

E só assim, em vez de incredulidade, esse pai reage ao professor, dizendo que concorda e que também quer reformar-se mais cedo. De outra forma: ninguém quer enfrentar a realidade.

Ninguém aceita os sacrifícios, porque ninguém os quis explicar. Deliberadamente. E, aqui, não há dualidades. O país está unido na santa ignorância. Não percebeu que o enriquecimento foi súbito e que os estímulos eram efémeros: a queda dos juros e os fundos europeus. Destes, dois terços acabaram em consumo. Vivemos os reflexos na disciplina de gestores, políticos e empresários e no esforço de trabalhadores.

E assim continuamos.

Alguém conhece um atalho mais rápido para o populismo?

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