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A reforma dos patrões

O movimento empresarial envelheceu e fechou-se sobre si próprio. Diogo Vaz Guedes tem o enorme mérito de quebrar este tabu bafiento. Mesmo sem querer, está condenado a liderar a renovação.

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Os partidos falam da renovação, mas nunca a praticam. Os governos comprometem-se com reformas, mas o Estado está hoje mais degradado do que há vinte anos. E os empresários?

Bem, os empresários ajudam a financiar os primeiros, recebem subsídios e amizades dos segundos e ainda têm tempo para o seu desporto favorito: atacar todos, desprezando políticos e culpando persistentemente ministros. Na realidade, a classe empresarial tem muitas razões de queixa. E que é nas empresas, pelo menos numa parte significativa do mundo empresarial, onde o país mais pulsa e onde o país é mais dinâmico.

Mas também é verdade que, pior que as organizações partidárias, tanto ou mais que as administrações públicas, o associativismo empresarial se transformou num autêntico hino ao imobilismo nacional.

A culpa principal nem sequer é dos eternos dirigentes. Não é do comendador Rocha de Matos, que está há quase vinte anos à frente da AIP. Não é do engenheiro Ludgero Marques, que há pelo menos dois mandatos anuncia que é o último, mas o facto é que ainda lá está.

Seja por vontade própria ou pelo desinteresse colectivo, a crua realidade é que os protagonistas são os mesmos de sempre, a sua forma de intervenção está gasta e a visão que têm do mundo ultrapassada. Numa frase: o movimento empresarial envelheceu e fechou-se sobre si próprio.

Não admira, portanto, ver gente nova, da última geração, que na última década se afirmou na comunidade de negócios, jovens empresários como Diogo Vaz Guedes e Filipe de Bottom, como António Amorim e Paulo Azevedo, como João Pereira Coutinho ou Paulo Fernandes, gestores como António Carrapatoso, António Mexia ou Luís Palha, gente que já atingiu o topo, não admira vê-los a manifestar a necessidade da mudança.

Manifestar não é bem o termo, porque a maioria não manifesta. É um segredo de polichinelo, toda a gente fala na renovação nos bastidores, mas o facto é que ninguém o diz publicamente, nem dá o passo em frente.

Ninguém diz, ninguém dá? O tempo verbal está, a partir de agora, incorrecto: é ninguém “dava” ou “dizia”. Porque, ontem, um deles disse o que toda a gente pensa. Nas confederações patronais, nas estruturas de cúpula das federações, associações regionais, sectoriais, nas associações de associações, é urgente fazer uma ruptura.

Não é nada contra os actuais dirigentes. É só por ser necessário outros dirigentes. Não é possível, ao fim de anos, de décadas, que as mesmas cabeças de sempre produzam outras ideias, tenham a capacidade de romper o circuito fechado que eles próprios criaram.

Diogo Vaz Guedes tem o enorme mérito de quebrar este tabu bafiento. Não quer dizer que, com isso, seja ele a avançar. Mesmo que involuntariamente, ao assumir a causa, é ele quem está condenado a liderar o movimento. Pois que o faça. A renovação é necessária. A responsabilidade das CIP, CCP, AIP e AEP é, obviamente, para com os respectivos associados. Mas o compromisso que têm de assumir é para com o país.

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