Opinião
A pobreza não é razão para poluir
Enquanto esperava para entrar no recinto da Conferência de Copenhaga, (na fatídica segunda-feira em que os que entraram só o conseguiram fazer ao fim de 7 horas de espera), ouvi uma conversa entre um chinês e um brasileiro que me fez...
Enquanto esperava para entrar no recinto da Conferência de Copenhaga, (na fatídica segunda-feira em que os que entraram só o conseguiram fazer ao fim de 7 horas de espera), ouvi uma conversa entre um chinês e um brasileiro que me fez pensar. O último não sei, mas o primeiro era um homem de negócios que vinha à Conferência apresentar o negócio de biocombustíveis da sua empresa.
O que me atraiu na conversa entre ambos foi a seguinte afirmação categórica por parte do chinês: "a emissão de carbono é um direito humano, é um direito de desenvolvimento; não pode negar-se aos pobres o direito de poluir como os ricos poluem."
À partida não podia estar mais de acordo. O nível de conforto a que chegámos nos países ricos deveu-se a anos e anos de abuso dos recursos energéticos fósseis a preços extremamente baixos. Agora que somos ricos, obesos e super consumistas queremos reduzir as nossas emissões e impor aos outros, que ainda vivem muito abaixo dos padrões da nossa qualidade de vida, o mesmo tipo de restrições à utilização daquela que parece ser a única energia verdadeiramente viável: a fóssil.
Mas a verdade é que quanto mais os países mais pobres poluírem, mais as pessoas mais pobres dos países mais pobres irão sofrer. É certo que foram os pobres que mais rapidamente sentiram os efeitos das alterações climáticas e é nesses países que esses impactes se farão sentir com mais gravidade. Sendo certo que, tendo em conta o quanto os países pobres já emitem (50% das emissões globais, sendo que a China emite 25% dessas mesmas emissões - o mesmo valor que os EUA), as reduções dos países ricos já não são suficientes para mitigar as alterações climáticas. Assim, quanto mais os países pobres emitirem mais as suas populações sofrem.
Bem vistas as coisas, o "direito fundamental" que o homem de negócios chinês clama para os pobres não é mais, afinal, do que o seu carrasco. A poluição não é um direito de ninguém e nem sequer é um garante de riqueza e conforto. A poluição é em qualquer parte do Mundo causa de grandes males e de grandes injustiças. É na injustiça que reside a raiz do problema. Como em qualquer outro problema ambiental, há uns, muito poucos, que ganham com a poluição e muitos outros que sofrem com ela.
Na minha opinião, parece-me que o homem de negócios chinês devia estar a pedir outra coisa para o seu país e, aliás, para todos os países: energia limpa. Ainda não há, nem se vislumbra um mundo sem energia, mas já se vislumbra um mundo com energia limpa, já se vislumbra um mundo em que todos reconhecem que a energia é um bem escasso e que deve ser usado com a maior eficiência possível. Há uma transição a fazer para esse Mundo e essa transição tem um custo. É do custo desta transição para um mundo de baixo carbono que se trata a Conferência de Copenhaga.
Quem paga os custos da transição para a economia de baixo carbono? De que forma são suportados esses custos? É restringindo o crescimento dos países mais pobres? É à custa de cheques em branco passados pelos países ricos aos países pobres? É à custa da competitividade das empresas localizadas nos países desenvolvidos? É à custa das pessoas? É à custa dos pobres?
A partilha do esforço e do custo pelo salvamento do planeta é o cerne de Copenhaga. E ninguém tem a chave para este dilema. Uma coisa é certa. Sem um acordo global, equitativo e justo de redução de emissões, todos sofrem. Em particular, os que mais clamam pelo direito de poluir.
Director da Ecoprogresso, consultora de Alterações Climáticas, Gestão de Carbono e Gestão de Energia
Consultor da Comissão Europeia
O que me atraiu na conversa entre ambos foi a seguinte afirmação categórica por parte do chinês: "a emissão de carbono é um direito humano, é um direito de desenvolvimento; não pode negar-se aos pobres o direito de poluir como os ricos poluem."
Mas a verdade é que quanto mais os países mais pobres poluírem, mais as pessoas mais pobres dos países mais pobres irão sofrer. É certo que foram os pobres que mais rapidamente sentiram os efeitos das alterações climáticas e é nesses países que esses impactes se farão sentir com mais gravidade. Sendo certo que, tendo em conta o quanto os países pobres já emitem (50% das emissões globais, sendo que a China emite 25% dessas mesmas emissões - o mesmo valor que os EUA), as reduções dos países ricos já não são suficientes para mitigar as alterações climáticas. Assim, quanto mais os países pobres emitirem mais as suas populações sofrem.
Bem vistas as coisas, o "direito fundamental" que o homem de negócios chinês clama para os pobres não é mais, afinal, do que o seu carrasco. A poluição não é um direito de ninguém e nem sequer é um garante de riqueza e conforto. A poluição é em qualquer parte do Mundo causa de grandes males e de grandes injustiças. É na injustiça que reside a raiz do problema. Como em qualquer outro problema ambiental, há uns, muito poucos, que ganham com a poluição e muitos outros que sofrem com ela.
Na minha opinião, parece-me que o homem de negócios chinês devia estar a pedir outra coisa para o seu país e, aliás, para todos os países: energia limpa. Ainda não há, nem se vislumbra um mundo sem energia, mas já se vislumbra um mundo com energia limpa, já se vislumbra um mundo em que todos reconhecem que a energia é um bem escasso e que deve ser usado com a maior eficiência possível. Há uma transição a fazer para esse Mundo e essa transição tem um custo. É do custo desta transição para um mundo de baixo carbono que se trata a Conferência de Copenhaga.
Quem paga os custos da transição para a economia de baixo carbono? De que forma são suportados esses custos? É restringindo o crescimento dos países mais pobres? É à custa de cheques em branco passados pelos países ricos aos países pobres? É à custa da competitividade das empresas localizadas nos países desenvolvidos? É à custa das pessoas? É à custa dos pobres?
A partilha do esforço e do custo pelo salvamento do planeta é o cerne de Copenhaga. E ninguém tem a chave para este dilema. Uma coisa é certa. Sem um acordo global, equitativo e justo de redução de emissões, todos sofrem. Em particular, os que mais clamam pelo direito de poluir.
Director da Ecoprogresso, consultora de Alterações Climáticas, Gestão de Carbono e Gestão de Energia
Consultor da Comissão Europeia