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Opinião
07 de Outubro de 2010 às 11:22

A ganância não faz bem...

Para "ser" é preciso trabalhar. Para "ter" basta comprar e assim cresce a avidez em ter mais dinheiro. Tudo vale desde que se possa mostrar que se "possui". Só o "eu" conta

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Quando rebenta mais um escândalo financeiro ou se descobrem medidas decididas incorrectamente, encontra-se de um modo ou de outro a ganância. Mais do que procurar "culpas" em abstracto para a actual crise, é importante notar que ela resulta de decisões económicas tomadas por indivíduos concretos e responsáveis. No centro da economia e da gestão estão pessoas, não o dinheiro.

O objectivo económico, para alguns, é o de saciar a sua ganância, o que é fatal para qualquer "sistema"
Como se verá nos dois filmes analisados, o objectivo económico, para alguns, é o de saciar a sua ganância, o que é fatal para qualquer "sistema". O que interessa é ter sempre mais, custe o que custar. O essencial é a aparência, a ostentação, o poder "ter mais" em vez do "ser mais" ou do "ser melhor".

De facto, para "ser" é preciso trabalhar, esforçar-se pessoalmente para atingir uma meta ou desenvolver uma capacidade que se possui. Para "ter", basta comprar e assim cresce a avidez em ter mais dinheiro que possibilite alcançar rapidamente o que não se está disposto a obter por meios correctos. Tudo vale, desde que se possa mostrar que se "possui". Não há confiança. Só o "eu" conta. É o reino da superficialidade que cai depois pela base com estrondo.

Conceitos como "honestidade" ou "honra" já não são tão valorizados, pois a sua visibilidade é menor. O interior conta pouca numa época que privilegia a exterioridade. Por isso, a ânsia em "ter" e "aparecer" cada vez com mais frequência, torna-se esgotante, obsessiva e perigosa. Afecta o equilíbrio pessoal e profissional e a própria capacidade de tomar decisões acertadas, exteriorizando-se por fim… numa crise.



"Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme"





Título original:
“Wall Street:Money Never Sleeps”
Realizador: Oliver Stone
Actores: Michael Douglas; Shia LaBeouf
Música: Craig Armstrong
Duração: 133min.
Ano: 2010





O filme pretende explicar de uma forma breve e apelativa o motivo pelo qual se chegou à presente situação económica. Começa com a libertação de um "guru" da bolsa de Nova Iorque, Gordon Gekko, depois de oito anos na prisão por actos financeiros ilícitos. Durante a sua detenção escrevera o livro "Greed is not good", ou seja, "A ganância não é boa". Aparece agora como um homem arrependido, empenhado em construir um mundo mais justo e em reconquistar a filha que o via como um mau pai.

O noivo dessa rapariga, corretor de uma casa de investimento típica de Wall Street, vê a sua empresa entrar em crise, num turbilhão de queda de acções. Por entre rumores e jogadas de bastidores tudo se desfaz. O seu chefe suicida-se e o rapaz planeia a vingança. Aceita trabalhar para a empresa causadora do colapso da sua firma, aconselhando-se com o "guru" recém libertado, que via assim uma oportunidade de se aproximar da filha.

Quando tudo parecia encaminhado para um final feliz, eis que Gekko dá um golpe e monta a sua empresa, sem hesitar em sacrificar novamente a filha e o futuro genro. Sacia a sua ganância e sede de vingança mas reencontra também a solidão e o vazio das aparências ilusórias tão bem encenadas num banquete de beneficência. O mundo da desconfiança. Mas no fim, surge algo que pode fazer a diferença… é que o dinheiro não é mesmo tudo!



Tópicos de análise



Repetir as mesmas acções falhadas, esperando obter outros resultados, é um erro.
A ganância cega e conduz à tomada de decisões baseadas na razão de um só.
A queda pode servir de aprendizagem e de recomeço de uma nova carreira.









"O Delator"





Título original:
“The Informant”
Realizador: Steven Soderbergh
Actores: Matt Damon; Eddie Jemison
Música: Marvin Hamlisch
Duração: 108min.
Ano: 2009





Uma história baseada em factos reais possui sempre o interesse de revelar aspectos da natureza humana em toda a sua autenticidade. Neste caso, veremos como uma empresa norte-americana é acusada e condenada por políticas especulativas de fixação de preços com as suas congéneres internacionais, obtendo lucros injustificados e fugindo aos impostos. No entanto, o filme vai muito mais para além das questões meramente económicas. O que aparece retratado é como um dos responsáveis da empresa, organizou e implementou um "esquema" que lhe permitia a si e aos outros administradores, desviarem fundos e recursos para as suas contas pessoais.

Qualquer fraude tem origem na mentira. Uma vez que a "jogada" comece, é muito difícil parar. A ambição cresce e reconhecer um erro é encarado como uma derrota e não como uma oportunidade de melhoria. Quando se vive para a"fachada", só se podem apresentar êxitos. Para manter esse ritmo frenético de sucessos, tomam-se medidas sem ponderação, pois não há tempo a perder. É preciso estar sempre aparecer. Até o que parecem atitudes correctas, começam a revelar-se como gestos para defender apenas a sua posição. Perde-se assim a confiança na pessoa que vive do engano. Mesmo no final, o nosso personagem vai revelando o quanto a ganância faz mal ao próprio e aos outros em seu redor… alguns aproveitam-se dele, mas o preço a pagar não compensa. Quando o "esquema" cai, são os próprios que se destroem.



Tópicos de análise



A mentira descredibiliza e destrói a integridade pessoal.
A incapacidade em admitir um erro revela uma personalidade imatura.
A falta de confiança torna inútil qualquer negócio, seja a que nível for.







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