Arriscar é sempre um desafio. Mas só correndo esse risco é que se concretizam as ideias projectadas e se ousa pôr em prática o que se pensou e decidiu. No entanto, às vezes a palavra "arriscar" é mal entendida e mal aplicada. De facto, "arriscar" não é saltar para o vazio e às cegas. Não significa avançar sem direcção, expondo-se a perigos para os quais não houve preparação. Arriscar não é ser ingénuo ou ridículo.

Arriscar pressupõe reflexão. Ao longo da vida adquire-se experiência através das diversas situações que se atravessam. Isso faz crescer e amadurece a pessoa. É essa experiência de vida, a partir de tudo aquilo que se vive, conhece, ouve, lê, analisa, decide e se realiza, que se vai formando um "depósito" de um "saber de experiência feito".

Assim, perante novas situações ou dificuldades, a solução para as superar está em aplicar o saber adquirido a essas novas vicissitudes. As competências e conhecimentos desenvolvidos numa determinada actividade podem ser um motor potenciador de outras iniciativas que se revelarão um sucesso precisamente porque já sabe que atitudes correctas se devem fomentar e quais os erros a evitar. A inovação e a criatividade surgem com mais abundância da interligação de ideias já existentes do que a partir de uma ideia vinda do nada. Uma mente aberta vai assimilando os dados que obtém- relacionando-os e avaliando-os entre si - para os saber aplicar bem ao enfrentar novas questões.

Nestes dois filmes as várias personagens deparam com situações difíceis. Para as superar terão em conta a experiência adquirida. Correm riscos, mas cada passo que dão tem por base ideias autênticas e concretas, muito longe de sonhos irreais.

"As voltas da vida"

Clint Eastwood tinha anunciado que não actuaria em mais filmes mas quis participar na estreia como realizador daquele que foi o seu grande colaborador ao longo dos anos. Além disso, a temática gira em torno das questões reais da natureza humana, como as relações pessoais, a família, o trabalho e o sentido da vida.

Um pai já idoso mal se relaciona com a filha. Ambos são profissionalmente muito bons. Ele é "olheiro" de uma equipa de beisebol e apesar da falta de visão e dos achaques próprios da velhice, continua a desempenhar as suas funções. A rapariga é uma advogada bem sucedida e com hipótese de ser promovida no seu escritório.

De repente tudo se altera. O pai é enviado para outra cidade analisar um jogador mas os seus chefes não confiam nas suas capacidades. A filha aceita então desligar-se do escritório por uns dias e acompanhar o pai. Acabam por falar e não se entender. Discutem, mas trabalham e cumprem o seu dever. Ela ouve os conselhos de quem sabe e relembra o que aprendera em pequena. Quando se preparam para regressar, as chefias de ambos põe em causa as suas decisões e a rapariga reflecte. Olha para a sua vida passada e presente. Resolve lançar-se à acção e aplicar o que aprendera à uma nova situação. Arrisca uma "jogada" e a vitória ver-se-á só no fim.

"As flores da guerra"

Um filme violento e cru retratando a invasão da China pelas tropas japonesas na conquista de Nanquim em 1937. As raparigas de um convento católico refugiam-se no interior do seu edifício. Fica com elas apenas um rapaz, o auxiliar do padre que entretanto falecera. Surge de surpresa um americano que fora até lá para enterrar o sacerdote. Também ele se vê encurralado no convento, onde chegam depois umas prostitutas carregadas de objectos e vestidos preciosos. Todas as refugiadas olham para o americano como seu salvador. A situação piora quando os japoneses exigem que as jovens raparigas se desloquem para alegrar uma festa dos militares.

Sem tempo a perder traçam um plano: as prostitutas apesar de caprichosas, oferecem-se para ir em vez delas, planeando usar a sua "arte de sedução" como perdição dos soldados. O americano consegue arranjar um camião e esconder as raparigas no meio de caixotes de bebidas. Como bom amante de álcool, sabe corromper os japoneses com garrafas e assim ultrapassar todas as barreiras. No dia combinado todos cumprem o seu papel, recordando antigos gestos e hábitos que agora adquirem outro valor. As experiências passadas ganham nova força e utilidade.

É de realçar a estética visual e sonora criadora de uma rara beleza emotiva.