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17 de Maio de 2007 às 13:29

A Era do GPS

A inovação tecnológica parece conseguir acompanhar as necessidades do mercado, de uma forma que nos parece impossível de suster. No entanto, não parece abrandar de forma nenhuma.

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Um PDA, adquirido no início deste ano, topo de gama, poderá estar ultrapassado em seis meses. A razão? Porque não tem GPS, ou WiFi, ou outras funcionalidades altamente inovadoras. Os produtos têm ciclos de vida de cerca de um ano e há uma verdadeira obsessão pela chamada “funcionalidade”.

Toda esta situação provoca um paradoxo interessante: num mundo em que as empresas tentam colocar o máximo de características nos seus aparelhos, há um desejo tão grande por simplicidade. Exemplo disso é o muito conhecido iPod da Apple ou o RAZR da Motorola. São aparelhos que apostaram num design diferente, num aspecto sofisticado e na simplicidade de operação para as razões do seu sucesso.

Quem é então o verdadeiro condutor das características destes aparelhos: o consumidor ou as empresas que os fabricam?

As estratégias que estão a ser usadas, pelos fabricantes, para moldar os padrões de utilização dos consumidores são baseadas em dois vectores contraditórios. Ou o fabricante adopta uma postura de ter tecnologia proprietária, não partilhada, ou adopta uma plataforma que é conhecida publicamente e explorada por vários intervenientes.

A primeira opção significa que os conteúdos e o funcionamento são exclusivos do fabricante. O exemplo óbvio é o iPod. Tecnologia proprietária e exclusiva, quer no aparelho em si, quer na interface com o computador.

Esta estratégia só funciona porque aparelhos como o iPod têm um apelativo emocional que ultrapassa a questão da funcionalidade do aparelho. Desafia o senso comum, porque é que um gadget com tão poucos atributos e funcionalidades tem tanto sucesso? Quem tem um iPod, acredita que o iPod é o melhor... não por causa da quantidade e diversidade de características técnicas, mas por ser muito bom no que faz. O iPod faz agora mais coisas, mas teve a sua fase de maior crescimento quando só tocava música, nada mais.

Completamente oposta é a estratégia dos fabricantes de PDAs baseados em Windows Mobile. Mesmo a quantidade de fabricantes diferentes que produzem aparelhos que são compatíveis em termos de software. O apelativo é baseado numa premissa completamente oposta. É a própria abertura da plataforma que constitui o maior apelativo. Neste caso, as características do PDA são cruciais para a proposição de valores, porque são a única coisa que permite uma diferenciação. Nestes casos, são raras as situações em que a simplicidade de utilização seja um dos valores a que se apela.

Os consumidores têm, actualmente, imenso poder sobre o desenho de novos produtos, especialmente os consumidores online. São verdadeiros “lobos com pele de cordeiro”, que podem fazer ou desfazer um produto. As características dos aparelhos são discutidas até à exaustão em forums, por meses a fio, muito antes do produto estrear.

Blogs, YouTube, MySpace... tudo contribui para a imagem global de um produto. Tudo é permitido online.

Hoje em dia, o feedback do consumidor é obtido ainda antes do produto ser lançado no mercado. Desta forma, todas as dúvidas e receios dos consumidores podem ser respondidas no produto final. Características técnicas podem ser adicionadas, outras podem ser removidas. Os fabricantes usam a Internet como uma ferramenta criativa de marketing. A Internet é utilizada como uma vantagem competitiva de maior importância.

Claro que a grande questão é que o produto tem de sair para o mercado, eventualmente. Há um perigo real de ficar demasiado tempo em desenvolvimento, e de se transformar na next big thing que nunca ninguém vai utilizar. A PS3 sofreu este efeito, com uma panóplia inicial de características que foi sendo reduzida até o seu estado actual, mas com um ano de atraso.

Outra variável complexa do desenvolvimento prende-se com a globalização, e com os mercados emergentes vs. mercados mais maduros. É surpreendente ver o nível de sofisticação dos telemóveis e PDA nesses mercados. Especialmente, quando a decisão de comprar um telemóvel envolve um nível de compromisso financeiro elevado.

Nos mercados mais maduros há uma tal saturação da oferta, que a diferenciação pelas características técnicas é mesmo a única hipótese de um produto se tornar diferente. Ou isso, ou o hype que criam.

No entanto, há duas funcionalidades emergentes que poderão dar a volta a estas questões, e se podem tornar centrais: a localização e o contexto.

Dependendo da localização do aparelho e do contexto em que se encontra, as aplicações e serviços propostos ao cliente podem ser diferentes. Teoricamente, até a própria forma como o utilizador interage com o telefone, pode ser diferente.

Ecrãs muito grandes e interfaces complexos são difíceis de utilizar num contexto móvel. A localização e o contexto podem resolver muitos dos problemas que se criam aos utilizadores e aos fabricantes.

A localização pode ser estabelecida por GPS, ou pela infra-estrutura de comunicações. A localização é a pedra basilar do contexto. O histórico de interacções, ou o método de transporte do utilizador, podem também ser inputs importantes.

O “gadget” faz parte das nossas vidas. Acompanha-nos em todos os momentos do dia. Assim sendo, a informação e os serviços disponíveis deviam variar consoante a hora do dia e o local onde nos encontramos. Este é o próximo caminho da personalização: aliar o contexto à utilização. Não temos as mesmas necessidades quando estamos no trabalho, no ginásio, na praia. O “gadget” tem de reflectir essa realidade.

Onde estamos, se temos bilhetes para o teatro, se estamos para atender alguns ou não estamos para ninguém.

Receber as mensagens de trabalho quando não estamos de férias, ou quando acabámos de chegar ao escritório, são exemplos de como o contexto pode afectar a funcionalidade.

Porque não aproveitar esta vaga para inovar? Afinal, inovar é algo que os portugueses fazem tão bem!

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