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15 de Janeiro de 2008 às 13:59

Regresso ao Futuro

Se estivéssemos num desses filmes em que o herói vagueia pela linha temporal da sua própria existência, o que iríamos encontrar no futuro? Temos a tendência de projectar uma visão positiva no futuro, quando todos os factos de que dispomos neste momento ap

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A natureza é um modelo que gosta e que busca incessantemente o equilíbrio. A espécie humana, pelo contrário, parece determinada a buscar os pontos de desequilíbrio e em explorá-los para seu próprio proveito. Julgamo-nos acima das leis universais. Desafiamos todos os princípios naturais e fazemo-lo a um ritmo, cada vez mais, alucinante.

Pedimos agilização e facilidades nos processos, até que o aproveitamento dessas facilidades mergulhe os sistemas numa crise profunda. Casos disso são demasiado comentados e repetidos na actualidade.

Vivemos num mundo de permanente ilusão de que há certas coisas que estão sempre asseguradas e que não terminarão. Um desses casos é a instituição bancária. Quem é que pensa que amanhã não terá o dinheiro na conta, ou que terá problemas em contrair um empréstimo para uma casa, para um carro, para o que seja? No entanto, essa situação não está ainda fora de questão, dadas as dificuldades que o sistema bancário mundial atravessa actualmente.

Analisando os factos friamente, podemos observar como são frágeis as nossas certezas. Como estamos a ser constantemente surpreendidos pela negativa de como a exploração é indevida, de como os mecanismos de regulação não funcionam. De como, no fundo, são tão frágeis e voláteis as nossas “certezas”.

A humanidade está sempre a tentar subverter o equilíbrio, desde que seja em benefício próprio. Queremos a facilidade, a pouca regulação, a imensidão e sobretudo os preços dos mercados emergentes, mas não queremos perder os empregos de manufactura com pouca qualificação, nem queremos as consequências para o aquecimento global.

Queremos viver numa segurança aparente de contrair empréstimos sobre empréstimos, os quais não temos realmente capacidade para pagar, sem que nos sejam recusados. O sistema bancário pode ter os problemas que quiserem, desde que não seja negada à humanidade o novo modelo LCD de 32”, ou as férias no Brasil.

Queremos ter os SAP e as urgências e as maternidades à porta de casa, mas não queremos pedir a factura ao canalizador para podermos fugir ao IVA. Se formos o canalizador então, o que queremos é declarar que ganhamos o mínimo possível. Depois, queremos ir às urgências para levar uns pontos num corte e não queremos pagar. 

Queremos ter energia barata, explorando os combustíveis fosseis, até que se acabem. Mas realisticamente, quem é que acredita que o petróleo pode estar a poucos anos de acabar? As consequências são tão assustadoramente dramáticas que não queremos sequer pensar nisso. “De certeza que há alguém a trabalhar nisso”, “os americanos não brincam”, “as coisas estão muito mais avançadas do que parecem”, ou podem inserir aqui uma qualquer mentira que funcione.

Para dar uma ideia da dimensão do problema, há quatro anos atrás a OCDE e o FMI vaticinaram um aumento do preço do barril de 25 para 35 dólares. Como parece ridículo esse preço, agora que está a mais de 90. E em 2012 (daqui a quatro anos), a que preço estará? 

Se fôssemos o tal personagem do filme, indo ao futuro seríamos confrontados com o nosso pior pesadelo: um mundo de devastação, de criminalidade galopante, de corrupção desmedida e de sobrevivência baseada numa aproximação dia-a-dia?

Se nada disto é verdade e se na realidade irá acontecer alguma coisa que mude este curso das coisas, temos de nos perguntar o que é que cada um de nós está a fazer para isso?

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