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Pedro Borges Graça bgraca@iscsp.utl.pt 10 de Agosto de 2007 às 13:59

A complexidade crescente

Perante a conjuntura internacional, as informações estratégicas são um instrumento vital de defesa e de protecção de qualquer Estado e respectivo interesse nacional no seio desse extraordinário movimento de internacionalização em curso a que chamamos glob

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Perante a conjuntura internacional, as informações estratégicas são um instrumento vital de defesa e de protecção de qualquer Estado e respectivo interesse nacional no seio desse extraordinário movimento de internacionalização em curso a que chamamos globalização, e que tanto afecta o nosso destino, porque este passou a ser não só próprio e exclusivamente nosso, mas também comum ao de muitos outros.

Num mundo caracterizado pela complexidade crescente (como observa amiúde Adriano Moreira), as relações internacionais são antes de mais relações entre poderes nacionais, onde os mais fortes influenciam e condicionam o comportamento dos mais fracos. A função de produzir informações estratégicas neste ambiente a partir de fontes abertas, nomeadamente nas empresas, não é de modo algum fácil, mas é um desafio estimulante que deve ser deixado ao cuidado de profissionais. Com efeito, diariamente são processadas milhões de informações no meio das quais os profissionais das informações estratégicas devem procurar identificar e seleccionar aquelas que digam mais directamente respeito aos interesses que servem, de modo a produzirem análises que contribuam eficientemente para a tomada de decisão eficaz dos gestores de topo.

Neste contexto, é, pois, essencial desenvolverem e aperfeiçoarem continuamente a capacidade de percepção realista, de maneira a não serem iludidos pelas sombras geralmente projectadas tanto por actores como acontecimentos, por mais verosímeis que se apresentem. Nas relações entre poderes nacionais, e concretamente entre empresas em competição no ambiente internacional, o que parece tanto pode ser como não ser, e o que é tanto pode parecer como não parecer. Os profissionais das informações estratégicas devem ser, assim, primeiramente demolidores do irreal, porque essa precaução lhes permite chegar com mais segurança à realidade dos factos. O método, o caminho a seguir para a obtenção das informações, deve ser, portanto, uma preocupação constante no dia-a-dia, mas uma preocupação controlada, nem maior nem menor que aquela que a ciência aplicada requer. Tanto a reflexão desproporcionada, filosofante, à qual nenhum desses profissionais está imune pela natureza intelectual da função, como a descrição ou simples ou exagerada, meramente expositiva ou quantitativa, devem, desde logo, ser controladas.

O critério científico e metodológico é, pois, o da objectividade, permanentemente construída e melhorada, uma vez que a realidade é complexa demais para poder ser totalmente abarcada. Mas o desafio maior, o que se lhes exige, o que é esperado de investigadores e produtores de informações estratégicas, é a excelência. Os fundamentos que lhes permitem aproximarem-se o mais possível dessa excelência, para além da regra de ouro da fiabilidade das informações, encontram-se nos seguintes pontos: uma correcta definição e delimitação dos objectos das investigações para minimizar a subjectividade; e um apuramento contínuo da redacção dos relatórios de modo a tornar clara e concisa a transmissão da informação e precisa a sua leitura, sem equívocos semânticos e sintácticos nem tempos verbais condicionais.

A percepção prospectiva da complexidade crescente é um objectivo prioritário. Numa dinâmica e cultura institucional de inquestionável confiança hierárquica, em espírito de dedicação profissional constante, com um método que de maneira nenhuma exclui a intuição e a criatividade, desde que submetida ao critério científico, a função é eficientemente desempenhada.

A acção dos profissionais é discreta, não se compadece de notariedades nem protagonismos, e portanto deve obedecer a um acordo de confidencialidade tendo em vista os interesses da empresa. Isto porque, na verdade, quem conhecer o simples trajecto de uma investigação, conhecerá a estratégia que a norteia e assim obterá vantagem competitiva.

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