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Pedro Borges Graça bgraca@iscsp.utl.pt 03 de Agosto de 2007 às 13:59

A ameaça terrorista na Argélia

A ameaça terrorista na Argélia interessa particularmente a Portugal pelo facto de que somos dependentes em grande medida, cerca de quarenta por cento, do gás natural daquele país do norte de África que nos chega por gasoduto. Qualquer turbulência ou alter

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Esta percepção não é alarmista, antes sendo prudente, na perspectiva das informações estratégicas, analisar o cenário de modo a estabelecer um certo nível de capacidade prospectiva e preventiva em relação a um possível efeito de surpresa. No mínimo, este exercício é útil às empresas potencialmente mais vulneráveis a um cenário negativo, de modo a definirem planos de contingência.

Nos últimos seis anos, a Argélia registou uma quebra acentuada de atentados terroristas dos movimentos radicais islâmicos e viu crescer a sensação de segurança no país. Esta situação foi fruto da política adoptada pelo presidente Bouteflika ao decretar uma amnistia geral em 1999 e, nos anos seguintes, ter ir afastando gradualmente os militares suspeitos de apoiarem aqueles movimentos.

A reeleição de Bouteflika em 2004 foi assim, em grande parte, devida à percepção de que era o grande responsável por ter praticamente desaparecido a ameaça terrorista na Argélia. Ao contrário dos milhares de terroristas existentes nos anos 90, restaram apenas algumas centenas agregados no Grupo Salafista para a Pregação e Combate (GSPC), escondidos e isolados nas áreas montanhosas.

Ora, esta situação de aparente acalmia tem vindo a ser perturbada desde o Outono passado, precisamente pelo GSPC que, agora, pelo menos no que respeita a uma facção, se intitula Al-Qaeda no Magrebe Islâmico (AQIM) e se assume como um braço da organização de Ossama bin Laden. Neste últimos meses, ocorreram de novo atentados terroristas, chegando mesmo outra vez à capital, Argel, e à sua respectiva área urbana. Explodiram bombas em frente a esquadras da polícia, foram atacados meios de transporte de trabalhadores das companhias petrolíferas estrangeiras e sucederam violentos confrontos armados com os militares, com baixas para ambos os lados. Mas o ponto alto ocorreu com o atentado, no centro de Argel, contra as instalações do gabinete do primeiro-ministro.

A ameaça terrorista na Argélia é portanto relevante para a Europa, na medida em que esta depende cada vez mais dos recursos energéticos argelinos, atingindo neste momento, mas em crescimento, 30% das necessidades de gás natural. Por enquanto, não obstante os recentes atentados, a segurança do sector energético argelino está sob controlo. As principais áreas de produção situam-se no sul do país, em zonas desérticas, e é preciso uma autorização especial do ministério do interior para viajar para essas áreas.

No entanto, nem os gasodutos estão imunes a sabotagens nem as instalações a atentados, inclusivamente suicídas, sobretudo se forem planeados a partir de dentro com operacionais infiltrados, sob a cobertura de trabalhadores, que tenham conseguido preencher os apertados requisitos de segurança na sua contratação. É por isso que as empresas estrangeiras têm vindo a privilegiar a contratação de trabalhadores estrangeiros. Por outro lado, existem ainda fortes vulnerabilidades passíveis de serem aproveitadas nos portos argelinos, a maioria dos quais se situam nas áreas urbanas.

Neste momento, existe a percepção de que estará em preparação um atentado de grande espectacularidade contra o sector energético. Contudo, a análise consensual é a de que, para já, o risco é baixo quanto à ocorrência de uma disrupção grave na produção e distribuição de petróleo ou gás natural.

Entretanto, interessa-nos também acompanhar nos próximos dias a visita do Presidente do Irão à Argélia e a proposta de criação de uma “OPEP” do gás natural.

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