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Pedro Borges Graça bgraca@iscsp.utl.pt 24 de Setembro de 2007 às 13:59

Os correspondentes de honra dos serviços secretos

Um dos lados mais secretos da actividade dos serviços de informações externas é o do recrutamento de fontes especiais. Nesta classificação cabem cidadãos nacionais que viajam frequentemente para países definidos como alvos no que respeita à recolha de inf

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Entre esses cidadãos contam-se homens de negócios, industriais, cientistas ou técnicos das mais variedades especialidades, ligados tanto a instituições públicas como privadas, inclusivamente a organizações não governamentais. São os chamados “correspondentes de honra” na gíria dos serviços secretos, expressão que traduz a noção ideal de probidade e motivação patriótica deste género de fontes.

Os correspondentes de honra são tão antigos como a história das relações entre Estados. O método varia de acordo com as culturas nacionais e o “modus operandi” dos respectivos serviços, mas existe um conjunto de técnicas de recrutamento que se tornaram comuns por via da experiência. Os serviços mais poderosos são obviamente os que detêm mais recursos e se encontram melhor organizados, possuindo um departamento de “contactos” cuja actividade difere do tradicional departamento de fontes no qual são enquadrados os chamados agentes duplos e toupeiras. A principal diferença reside na função do “especialista de contactos”, o qual tem de lidar com uma fonte que não é controlada económica e institucionalmente, sendo a colaboração voluntária e livre de qualquer tipo de coacção.

O especialista de contactos, para além da sua qualificação específica no campo das informações, tem pois de possuir um conjunto plurifacetado de características: é um bom vendedor, porque tem de convencer a outra parte da importância da actividade dos serviços de informações; é um bom psicólogo, porque tem de lidar com naturalidade e destreza com uma série de personalidades diferentes; é um bom repórter, porque tem de transpor para um relatório de informações conciso e claro a profusão de dados que o correspondente de honra lhe fornece.

A agenda de um especialista de contactos não deve porém exceder as suas próprias capacidades, ou seja, não pode por exemplo ser alargada na ordem das dezenas ou centenas de indivíduos. Com efeito, um serviço não pode ficar dependente da avaliação de um só técnico, sob pena de o sistema se anquilosar e também ser objecto de manipulações por parte de lóbis externos. Por outro lado, como os serviços têm vindo a abrir a categoria dos correspondentes de honra a exilados políticos e membros da oposição descontentes ou perseguidos por certos regimes,  existe o elevado risco de tráficos de influências, desinformação ou jogos não controlados que só servem os interesses dos próprios, como aconteceu por exemplo no caso do Iraque relativamente à (in)existência de armas de destruição em massa.

É neste tipo de teia que os serviços secretos, inclusivamente os mais poderosos, se deixam por vezes apanhar. Em regra, o sistema entra em disfunção quando ocorrem conluios entre estrangeiros e nacionais, traindo estes o interesse nacional, em nome do qual abusivamente se movimentam, para benefício dos interesses próprios.

No caso português, parece não existir um sistema destes organizado, mas existem seguramente casos pontuais de correspondentes de honra. Ao contrário dos Estados Unidos, onde são legalmente puníveis os comportamento dos cidadãos nacionais no estrangeiro lesivos dos interesses americanos, entre nós essa situação não está prevista. Isto constitui uma vulnerabilidade quanto às possíveis ameaças à projecção económica internacional de Portugal, por exemplo nos países africanos onde os serviços de segurança interna possuem departamentos de acompanhamento das actividades das empresas estrangeiras no seu território. Neste cenário, sócios estrangeiros poderão ser favorecidos em detrimento do interesse nacional dos seus países de origem.

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