Opinião
[402.] RTP, Volkswagen e marketing de guerrilha
A confusão entre o golfe e o Volkswagen Golf numa notícia do Jornal da Tarde da RTP1 motivou uma resposta da marca automóvel ao género do marketing de guerrilha, mas os materiais criados são tão incompetentes como o erro dos jornalistas da estação pública.
Numa promoção a uma notícia sobre a decisão do Governo de manter o IVA a 6% para a prática de golfe, o Jornal da Tarde de 15 de Março mostrava imagens de um VW Golf rolando na estrada. Na promoção seguinte, 23 minutos depois, e na própria notícia, apresentada depois das 14h00, o erro foi corrigido.
A falha da redacção e editoria do noticiário da RTP pode acontecer a qualquer um, mas vale a pena sublinhar a razão: muitos profissionais da informação televisiva em Portugal pouco ligam à relação entre imagens e textos escritos. São pensados separadamente, e não em conjunto. As imagens servem para encher chouriços, pelo que quaisquer servem. No caso, quem procurou as imagens não conhecia a notícia, originando a pequena catástrofe cómica do golfe transformado em Golf.
A marca automóvel aproveitou para fazer uma acção de marketing de guerrilha. Colocou no Facebook umas imagens de "billboards" alusivos à troca da RTP, entretanto muito "falada" pela internet adentro. Neste caso, marketing de guerrilha quer mesmo dizer sem as regras e a farda aprumada da publicidade. Colocar os materiais no Facebook significa não assumir por completo a paternidade do aproveitamento da incompetência visual do noticiário da RTP. O Facebook não é exactamente um lugar institucional da empresa, as mensagens que lá se colocam não são exactamente publicidade (a empresa, se quiser, pode distanciar-se). A VW não assumiu por completo esta acção de "guerrilha".
Não tem mal, é apenas o medozinho à portuguesa ou das empresas grandes quando têm de responder de imediato a uma situação, mesmo que lhes possa ser útil. Pior esteve a concretização dos materiais do marketing.
Primeiro, os "billboards" das imagens são uma falsificação gráfica. Em vez de terem apenas criado os materiais rectangulares, os publicitários puseram-nas num falso suporte de "billboards" à beira-rio em três "fotografias" diferentes. A falsificação é realmente fraca e feia. Os "criativos" sentiram a necessidade de fingir que os materiais se destinavam aos suportes exteriores, como se existissem realmente nas ruas, de modo a transferir a legitimidade da publicidade exterior para os seus fracos "cartazes" digitais.
Segundo, os anúncios nos falsos "billboards" são realmente maus. Tendo a RTP proporcionado de mão beijada uma oportunidade para fazerem conteúdos divertidos, os publicitários saíram-se com umas frases sem a mínima piada ou ousadia. Também nisso tiveram medo de libertar-se de constrangimentos. Ao lado de um fotograma da gafe da RTP, em que se vê um VW Golf com a frase "Bem essencial? Golf com IVA de 6%", o anúncio no Facebook diz "Informamos que continuamos a fazer 23% de IVA nos nossos 'golfes'". Não poderia haver frase mais desenxabida e desgraçada.
As frases dos outros dois "billboards" virtuais não são melhores: "Mas podemos oferecer +6% de prazer de condução". "Até ao fim deste mês pode ainda receber um taco de golfe e uma bola com o logo VW".
Se é isto o máximo que os nossos guerrilheiros de marketing conseguem... vou ali e já venho. Libertem-se, homens e mulheres da publicidade e do marketing! Libertem-se, senhoras e senhores das empresas! A liberdade é para se usar, quanto mais se usa menos ela se gasta e mais gosto dá à vida!
ect@netcabo.pt
A falha da redacção e editoria do noticiário da RTP pode acontecer a qualquer um, mas vale a pena sublinhar a razão: muitos profissionais da informação televisiva em Portugal pouco ligam à relação entre imagens e textos escritos. São pensados separadamente, e não em conjunto. As imagens servem para encher chouriços, pelo que quaisquer servem. No caso, quem procurou as imagens não conhecia a notícia, originando a pequena catástrofe cómica do golfe transformado em Golf.
Não tem mal, é apenas o medozinho à portuguesa ou das empresas grandes quando têm de responder de imediato a uma situação, mesmo que lhes possa ser útil. Pior esteve a concretização dos materiais do marketing.
Primeiro, os "billboards" das imagens são uma falsificação gráfica. Em vez de terem apenas criado os materiais rectangulares, os publicitários puseram-nas num falso suporte de "billboards" à beira-rio em três "fotografias" diferentes. A falsificação é realmente fraca e feia. Os "criativos" sentiram a necessidade de fingir que os materiais se destinavam aos suportes exteriores, como se existissem realmente nas ruas, de modo a transferir a legitimidade da publicidade exterior para os seus fracos "cartazes" digitais.
Segundo, os anúncios nos falsos "billboards" são realmente maus. Tendo a RTP proporcionado de mão beijada uma oportunidade para fazerem conteúdos divertidos, os publicitários saíram-se com umas frases sem a mínima piada ou ousadia. Também nisso tiveram medo de libertar-se de constrangimentos. Ao lado de um fotograma da gafe da RTP, em que se vê um VW Golf com a frase "Bem essencial? Golf com IVA de 6%", o anúncio no Facebook diz "Informamos que continuamos a fazer 23% de IVA nos nossos 'golfes'". Não poderia haver frase mais desenxabida e desgraçada.
As frases dos outros dois "billboards" virtuais não são melhores: "Mas podemos oferecer +6% de prazer de condução". "Até ao fim deste mês pode ainda receber um taco de golfe e uma bola com o logo VW".
Se é isto o máximo que os nossos guerrilheiros de marketing conseguem... vou ali e já venho. Libertem-se, homens e mulheres da publicidade e do marketing! Libertem-se, senhoras e senhores das empresas! A liberdade é para se usar, quanto mais se usa menos ela se gasta e mais gosto dá à vida!
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