Opinião
3x7=21
É um teste muito simples para verificar da qualidade matemática da geração que veio a esta terra depois da minha – mas quase nenhum miúdo abaixo dos 30 anos sabe responder rápida e intuitivamente a um «quanto é três vezes sete?».
Façam o teste por vocês mesmos e verificarão que a capacidade de cálculo mental é inexistente naqueles que vivem entre SMS, Messengers, Playstations e afins. É um paradoxo, mas ao mesmo tempo que se elevou a capacidade computacional para níveis inimagináveis, reduziu-se a capacidade de raciocínio matemático da geração mais nova a um estado confrangedor. É que, se três vezes sete já emudece muitos putos, um «quanto são 20% de 120» remete qualquer miúdo com menos de 25 anos para o mais confrangedor dos olhares embaraçados. E é pena. Porque quem não tem elasticidade mental para calcular uma simples percentagem, não tem cabeça para fazer grande coisa da vida. Acontece, porém, que esta história de não fazer contas é um exclusivo dos «youngsters». O drama dos orçamentos, dos défices, das tangas e dos fios dentais é só um sinal de que ninguém sabe fazer contas neste País. Andamos nisto há anos e daqui não saímos. Não temos inteligência colectiva para agarrar o problema e resolvê-lo de uma vez, fazendo o que é mesmo preciso fazer: cortar em direitos adquiridos e atirando para baixo o nível de vida dos portugueses. É aborrecido e não é bom para ninguém, mas não há outro caminho.
Mas nem só os portugueses sofrem desta inépcia de cálculo. No último domingo, os franceses votaram «não» à nova Constituição europeia, se calhar não tanto pelo que ela é em si, mas pelo medo de coisas mais terríveis como o desemprego ou a perda de privilégios adquiridos, que a globalização provoca. Coisa que muitos, erradamente, confundem com um espaço europeu mais forte e arrumado. O processo de abertura do comércio internacional a que assistimos, provoca a inevitável deslocalização de fábricas e escritórios para países onde a mão de obra é mais barata. Teoricamente, este movimento é justo: o trabalho e a riqueza distribuem-se de forma mais equilibrada pelo mundo, dando mais oportunidades aos romenos, chineses ou marroquinos que pouco ou nada têm, mas tirando direitos e privilégios adquiridos aos franceses, alemães e mesmo aos pobres dos portugueses. Por isso, quando se referenda a Constituição europeia – coisa que, cá pelo burgo, ninguém sabe muito bem de que se trata – referenda-se, na verdade, outra coisa. Quem vota «não», vota no sentido da defesa do modelo social europeu, aquele que protege os direitos de quem trabalha e as reformas de quem trabalhou. Mas isso é apenas uma falta de visão aritmética. Porque esse modelo se tornou insustentável, porque a globalização e a deslocalização existem mesmo – e são impossíveis de travar – e porque o declínio demográfico da Europa é irreversível. E só se combate com uma política séria de natalidade, coadjuvada com uma política de imigração activa. Que não se vislumbram. A Europa, a velha Europa como os franceses ainda a imaginam, está francamente condenada. O mundo avança em direcção a um modelo semi-selvagem de capitalismo sem protecção social, numa «norte-americanização» económica global.
Como matematicamente não se pode negar o envelhecimento da pirâmide demográfica europeia e a concorrência das economias emergentes, a Europa tem de saber fazer contas e reinventar-se com base nestas premissas e adaptar-se à realidade. Começar a educar-se para um mundo mais competitivo, em que a solidariedade social só é possível em função da riqueza gerada. E em que a capacidade e a iniciativa pessoal são determinantes para o sucesso e bem-estar de cada um. Cada vez mais, o homem será o resultado do seu mérito e não de uma rede social que lhe concede benefícios automáticos. E, se é para ser assim, seria óptimo que cada um aprendesse rapidamente a fazer contas de cabeça. Porque sem saber que três vezes sete é vinte e um, ninguém vai a lado nenhum. Da mesma forma que sem olhar de frente a realidade – mesmo quando a realidade dói e exige atitude para lá da força humana – não se resolve nada. Apenas se caminha aparvalhadamente para o abismo.