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15 de Maio de 2006 às 13:59

«O negócio não era selos»

Como os selos ficavam supostamente nas sedes das empresas, resta verificar se lá estão, ou se isso não passou de um embuste.

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O negócio do investimento filatélico, através de «fundos», há muito que era encarado com alguma suspeita pela comunidade dos coleccionadores de selos e filatelistas. Na verdade, a presença destes «fundos» não era sentida no mercado filatélico, pelo menos nos grandes leilões organizados por empresas reputadas, como a Leilões Paulo Dias em Lisboa e o Núcleo Filatélico do Ateneu Comercial do Porto e os preços dos lotes não reflectiam compras ou vendas por parte dessas entidades, que pura e simplesmente não estavam presentes nesse mercado. Com excepção de umas emissões denominadas Europa CEPT – porque emitidas sob o patrocínio da União Europeia dos Correios – o preço das melhores peças filatélicas tem-se mantido imune a qualquer especulação particular, tirando o pessoal interesse deste ou daquele coleccionador, interessado em enriquecer a sua colecção com a aquisição de determinado selo, carta circulada ou outro material filatélico. Imagino que o negócio desses «fundos» pouco teria que ver, verdadeiramente com selos. Como os selos ficavam supostamente depositados nas sedes das empresas que comercializavam esses produtos, resta agora verificar se eles lá estão efectivamente ou se isso não passou de um embuste.

 Em consequência das últimas notícias, muitos investidores em «fundos» filatélicos terão tendência para se desfazer dos (poucos) selos que eventualmente guardarão consigo. Isso e alguma psicologia de massas poderão prejudicar, no curto prazo, as cotações de alguns selos, especialmente selos novos, emitidos nos últimos 20 ou 30 anos. Mas os items mais preciosos, como selos do século XIX, cartas circuladas, selos das ex-colónias Portuguesas continuarão sólidos valores de investimento, porque são efectivamente raros e precisos e porque há uma comunidade de algumas centenas de coleccionadores, tanto em Portugal, como na Europa e nos Estados Unidos da América que rapidamente adquire tudo o que de bom chega ao mercado. Na filatelia, o problema não é a procura mas a oferta, que é escassa para encher os álbuns dos coleccionadores mais especializados e persistentes.

Uma palavra ainda sobre Albertino de Figueiredo: o presidente honorário da Afinsa é um efectivo apaixonado por selos, que levantou ao longo dos últimos anos a melhor colecção de selos de Portugal que hoje existe no mundo. Para além disso, Albertino de Figueiredo e a Afinsa têm funcionado como mecenas no mundo da filatelia, patrocinando muitos eventos e edições de literatura filatélica. Os problemas que agora enfrenta não lhe deixarão tempo para continuar a funcionar como um dos maiores coleccionadores modernos de selos portugueses e quiçá, terá de liquidar a sua colecção, devolvendo ao mercado muitos dos items preciosos que conseguiu adquirir nos últimos anos. Nesse sentido, pelo menos, a filatelia portuguesa perdeu no dia 9 um dos seus maiores divulgadores e coleccionadores de sempre.

José Diogo Madeira - Coleccionador de selos

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