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Faz 10 anos que foram anunciadas as condições de arranque do euro, nomeadamente as taxas de câmbio irrevogáveis entre as moedas dos Estados-membros. Numa fase inicial, “problemas de dentição”, “euro-esclerose”, “limbo institucional” foram algumas das crít

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Também a economia portuguesa tem evidenciado alguma dificuldade de adaptação ao novo regime, com reflexo em alguma frustração das expectativas iniciais de um processo acelerado de convergência. Não obstante, a percepção é de que nestes anos tem havido benefícios com a moeda única. A inflação encontra-se mais estabilizada, as taxas de juro nominais são menos elevadas e evidenciam oscilações menos pronunciadas, os mercados financeiros encontram-se mais desenvolvidos e com maior profundidade. Este último factor, aliás, foi particularmente sentido em Portugal nos anos mais recentes, ao atenuar os efeitos da recessão de 2003, fruto da facilidade de financiamento da economia portuguesa junto de investidores não residentes o que suavizou o ajustamento no consumo e no investimento. Imagine-se, também, o que poderia ter sido o comportamento dos nossos mercados financeiros ao longo dos últimos meses perante o clima de forte incerteza e posição externa deficitária. A importação da estabilidade cambial e a credibilidade da política monetária tiveram assim uma repercussão favorável na estabilização da nossa economia. Tal, contudo, foi insuficiente para assegurar uma convergência económica acelerada. A fixação dos câmbios torna mais próximas as alterações na competitividade-preço de uma região do respectivo desempenho económico, uma vez que elimina a “intermediação” da variação do câmbio enquanto elemento de amortecimento e confere, em contrapartida, uma importância acrescida à evolução dos preços relativos entre as regiões, medidos pelos diferenciais de inflação, pelos custos unitários de trabalho ou medidas similares relacionadas com competitividade.

Tomando como referência os indicadores harmonizados de competitividade elaborados pelo BCE constata-se que desde meados desta década a área do euro tem vindo a perder alguma da sua competitividade-preço, mas os Estados-membros apresentaram desempenhos distintos entre si, ou seja, verificou-se alterações na competitividade relativa, em alguns casos até com maior expressão do que no período anterior ao euro. Avaliada pelo mesmo indicador, a competitividade da economia portuguesa tem diminuído ao longo dos últimos anos em termos absolutos, mas, desde 2003, o índice harmonizado de competitividade tem apresentado um crescimento inferior ao da área do euro e muito semelhante ao do indicador alemão, país referenciado em diversos estudos como o Estado-membro que nos últimos anos se tem tornado mais competitivo. Um factor que terá contribuído para a (tímida) recuperação de quota de mercado das exportações de produtos e serviços portugueses que se verificou em 2007.

Os desenvolvimentos recentes sugerem prudência redobrada. O processo de convergência nominal que impulsionou a nossa economia no período 1993-2000 está concluído; a concorrência pelos fundos comunitários e pelo interesse dos investidores institucionais tem-se intensificado; o ciclo de crédito favorável que nos acompanhou no período posterior a 2003 dificilmente se retomará a breve prazo; o enquadramento global de estabilidade macroeconómica vigente nos últimos anos – crescimento robusto e inflação moderada – também evidencia uma deterioração que, por sua vez, poderá contribuir para uma maior instabilidade económica e institucional. Um contexto que realça a estabilidade conferida pela participação na moeda única mas que eleva o grau de exigência na gestão da nossa competitividade.

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