Opinião
Remoto total? Não venhas. "No hard feelings"
Sou por uma cultura híbrida entre escritório e remoto. Não sou, nem posso ser, pelo remoto absoluto. Seria apenas e só - minha opinião - um disparate.
Brian Elliot publicou um texto na Sloan Management Review no passado dia 20 de março sobre as políticas de retorno ao escritório ("return to office" - RTO) dando como exemplo empresas como UPS e Boeing, alegando que este movimento de chamada aos escritórios revela uma profunda desconexão entre práticas de gestão (tradicionais) e necessidades e expectativas dos trabalhadores hoje.
O texto argumenta vigorosamente contra a eficácia das imposições de RTO, apontando para uma série de repercussões negativas, incluindo a diminuição do "engagement" dos colaboradores, o aumento da rotatividade, especialmente entre os que apresentam alto desempenho e os que têm responsabilidades de liderança, e a inexistência de uma correlação direta entre essas políticas e o desempenho financeiro das empresas.
Elliot critica a abordagem de gestão baseada na supervisão direta - "gestão por vigilância" - como ultrapassada e ineficaz num ambiente de trabalho cada vez mais distribuído e global. Destaca-se a importância de uma cultura organizacional que valorize a confiança, a flexibilidade e os resultados em vez da presença física no escritório. O autor sublinha, ainda, a resistência dos colaboradores a essas políticas, muitas vezes justificada pela falta de evidências de que o trabalho remoto prejudique a produtividade.
Em contrapartida, o autor propõe um modelo de gestão focado em resultados, que confere confiança e flexibilidade aos colaboradores sobre quando e onde trabalham. Esse modelo, a que chama de "círculo virtuoso", alinha a performance aos resultados desejados pela liderança e promove um ambiente de trabalho baseado na confiança mútua, que, segundo algumas pesquisas, leva a uma melhor satisfação no trabalho, retenção de talentos e desempenho financeiro.
Pessoalmente, não sou tão radical ao ponto de dizer que há um desalinhamento completo entre RTO ("not full" RTO) e expetativas dos colaboradores. Julgo que no meio ficará a virtude.
Sou, porém, radical ao ponto de dizer que:
1. Está por descobrir uma cultura distribuída e global de empresa, cultura essa que funcione como cola de qualquer empresa;
2. Está longe de ser uma realidade a empresa totalmente digital e, quando com bens tangíveis e serviços que envolvam pessoas, tal torna-se praticamente impossível;
3. Está ainda por demonstrar que seja possível ter uma estratégia sem que haja uma cultura empresarial sólida, i.e., sem valores, raízes, práticas, rituais, histórias, heróis, pressupostos e crenças alinhadas, entre outros;
4. Está longe a era da inovação distribuída e sem o corredor do escritório e a zona de café ou a informalidade que se requer à emergência inovadora;
5. Estão a crescer por todo o lado os problemas psíquicos que criam estas culturas distribuídas e autocentradas, isoladas, e que despromovem a socialização das pessoas.
Se há ou não rendibilidade das empresas? Parece-me cedo para o afirmar. Se há ou não possibilidade de ter resultados? Parece-me cedo para o afirmar. Todos os estudos carecem de tempo, porque os resultados sustentados das empresas, como em tudo na vida, requerem tempo e um horizonte temporal para lá dos 2-3 anos. Ora tudo isso está longe de ser uma realidade.
Sou por uma cultura híbrida entre escritório e remoto. Não sou, nem posso ser, pelo remoto absoluto. Seria apenas e só - minha opinião - um disparate. Mais uma modernice que se iria voltar contra os próprios colaboradores até ao dia em que descobrissem que não haveria dinheiro para lhes pagar. E dar-se-iam conta disso quando fossem substituídos por máquinas, deixassem de ter vencimento e fossem totalmente inibidos na sua criatividade.
É evidente que tudo está a mudar e que a preparação de futuros profissionais por formação de executivos/ensino superior tem de alinhar pelo diapasão do que será a empresa do futuro. Que presumo que continuará a ter cultura, estrutura e estratégia. E que incorporará inteligência artificial. Dito isto e aqui chegados, será bom começar a implementar regimes híbridos de ensino, nomeadamente nos produtos conferentes de grau, num "blend" entre remoto e presencial - tal qual como uma grande maioria antecipa que sejam as empresas. Isto dito, teremos desafios a vários níveis: ensino superior, formação de executivos e mercado de trabalho. Se não quisermos, como dizia Elon Musk por outras palavras, ser presa fácil da inteligência artificial que, na hipótese de nos encontrar pelo caminho, incautos e impreparados, sem cultura e sem estratégia, dará cabo de nós. Sem "feelings". Ou melhor, "no hard feelings".
O texto argumenta vigorosamente contra a eficácia das imposições de RTO, apontando para uma série de repercussões negativas, incluindo a diminuição do "engagement" dos colaboradores, o aumento da rotatividade, especialmente entre os que apresentam alto desempenho e os que têm responsabilidades de liderança, e a inexistência de uma correlação direta entre essas políticas e o desempenho financeiro das empresas.
Em contrapartida, o autor propõe um modelo de gestão focado em resultados, que confere confiança e flexibilidade aos colaboradores sobre quando e onde trabalham. Esse modelo, a que chama de "círculo virtuoso", alinha a performance aos resultados desejados pela liderança e promove um ambiente de trabalho baseado na confiança mútua, que, segundo algumas pesquisas, leva a uma melhor satisfação no trabalho, retenção de talentos e desempenho financeiro.
Pessoalmente, não sou tão radical ao ponto de dizer que há um desalinhamento completo entre RTO ("not full" RTO) e expetativas dos colaboradores. Julgo que no meio ficará a virtude.
Sou, porém, radical ao ponto de dizer que:
1. Está por descobrir uma cultura distribuída e global de empresa, cultura essa que funcione como cola de qualquer empresa;
2. Está longe de ser uma realidade a empresa totalmente digital e, quando com bens tangíveis e serviços que envolvam pessoas, tal torna-se praticamente impossível;
3. Está ainda por demonstrar que seja possível ter uma estratégia sem que haja uma cultura empresarial sólida, i.e., sem valores, raízes, práticas, rituais, histórias, heróis, pressupostos e crenças alinhadas, entre outros;
4. Está longe a era da inovação distribuída e sem o corredor do escritório e a zona de café ou a informalidade que se requer à emergência inovadora;
5. Estão a crescer por todo o lado os problemas psíquicos que criam estas culturas distribuídas e autocentradas, isoladas, e que despromovem a socialização das pessoas.
Se há ou não rendibilidade das empresas? Parece-me cedo para o afirmar. Se há ou não possibilidade de ter resultados? Parece-me cedo para o afirmar. Todos os estudos carecem de tempo, porque os resultados sustentados das empresas, como em tudo na vida, requerem tempo e um horizonte temporal para lá dos 2-3 anos. Ora tudo isso está longe de ser uma realidade.
Sou por uma cultura híbrida entre escritório e remoto. Não sou, nem posso ser, pelo remoto absoluto. Seria apenas e só - minha opinião - um disparate. Mais uma modernice que se iria voltar contra os próprios colaboradores até ao dia em que descobrissem que não haveria dinheiro para lhes pagar. E dar-se-iam conta disso quando fossem substituídos por máquinas, deixassem de ter vencimento e fossem totalmente inibidos na sua criatividade.
É evidente que tudo está a mudar e que a preparação de futuros profissionais por formação de executivos/ensino superior tem de alinhar pelo diapasão do que será a empresa do futuro. Que presumo que continuará a ter cultura, estrutura e estratégia. E que incorporará inteligência artificial. Dito isto e aqui chegados, será bom começar a implementar regimes híbridos de ensino, nomeadamente nos produtos conferentes de grau, num "blend" entre remoto e presencial - tal qual como uma grande maioria antecipa que sejam as empresas. Isto dito, teremos desafios a vários níveis: ensino superior, formação de executivos e mercado de trabalho. Se não quisermos, como dizia Elon Musk por outras palavras, ser presa fácil da inteligência artificial que, na hipótese de nos encontrar pelo caminho, incautos e impreparados, sem cultura e sem estratégia, dará cabo de nós. Sem "feelings". Ou melhor, "no hard feelings".
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