Opinião
Há um novo “cluster” em Portugal: o do ensino superior de gestão
Colocar cinco escolas entre as 100 melhores, num universo tão vasto e competitivo, é, sem dúvida, um marco no setor que teima em fazer história e constitui-se como de grande relevo para um país que, tradicionalmente, é reconhecido mundialmente por outros motivos, como a segurança, o futebol ou a sua hospitalidade.
A competitividade entre escolas de gestão no mundo é extremamente intensa. A cada ano, as instituições de ensino de excelência competem por um lugar nos cobiçados “rankings” internacionais e nos top 100 do mundo, nomeadamente no Financial Times, onde a qualidade do ensino, a inovação e a empregabilidade dos seus graduados, bem como os salários e os deltas salariais entre o antes e o depois são escrutinadas com rigor.
Neste contexto global, de concorrência feroz, Portugal tem demonstrado um desempenho notável, com cinco das suas escolas de gestão a figurarem consistentemente entre as 100 melhores do mundo nos referidos “rankings” do Financial Times. Estes “rankings”, e outros como o QS, que incluem programas de mestrado, MBA e formação de executivos, são uma referência mundial para estudantes e empresas que buscam o melhor em educação em “business management”.
O facto de termos, consistentemente, cinco escolas portuguesas nestes “rankings” não deve ser subestimado. Para termos uma noção da sua dimensão, estima-se que existam mais de 13.000 escolas de gestão em todo o mundo (número retirado de uma questão ao ChatGPT). Este número impressionante faz sobressair ainda mais a presença de Portugal neste cenário. Colocar cinco escolas entre as 100 melhores, num universo tão vasto e competitivo, é, sem dúvida, um marco no setor que teima em fazer história e constitui-se como de grande relevo para um país que, tradicionalmente, é reconhecido mundialmente por outros motivos, como a segurança, o futebol ou a sua hospitalidade. Mas não por muito mais.
De facto, Portugal (e o Pedro Oliveira da NOVA SBE já o tinha postado e feito esta comparação), embora pequeno em dimensão territorial, tem provado ser uma nação capaz de competir ao mais alto nível em várias áreas. Em segurança, por exemplo, o país tem sido consistentemente classificado entre os mais seguros do mundo. No Global Peace Index de 2023, Portugal ocupou o 6.º lugar, consolidando-se como um dos destinos mais pacíficos e seguros do planeta. No futebol, a supremacia de Portugal é inegável, com títulos internacionais tanto a nível de seleções, como o Campeonato Europeu de 2016, e a nível de clubes, com várias conquistas nas competições da UEFA. Cristiano Ronaldo, um dos melhores jogadores de todos os tempos, é o rosto de uma nação que respira futebol e que se mantém no topo deste desporto há décadas. E no ensino superior é incontestável a supremacia de Portugal mesmo se comparado com outros países com muito mais recursos, com ou sem dimensão.
Hoje, Portugal é visto como um destino de referência para estudantes e profissionais de todo o mundo que procuram formação de qualidade na área dos negócios. As cinco escolas portuguesas presentes no top 100 dos “rankings” do Financial Times são prova do compromisso contínuo do país com a excelência educativa e com a preparação de líderes globais: licenciaturas, mestrados, MBA, EMBA e formação de executivos são o comprovativo real disto mesmo.
A questão que se impõe é só uma: está na altura de considerar o ensino superior em gestão e as suas formações de executivos um dos “clusters”, que outrora não se qualificavam como tal – como “cluster” a trabalhar no futuro? Para além dos óbvios cortiça, vinho, têxtil, calçado, turismo, entre vários outros que vêm do estudo já do outro século e milénio da Monitor Company (Michael Porter).
Porque não é considerado um “cluster” que sustenta a competitividade de Portugal e porque é muitas vezes secundarizado face aos resultados alcançados? Porque não se facilita a exportação e não se dá atenção, de uma vez por todas, a tantos e tantos entraves que temos para exportar? Isto faz parte da nossa Balança Comercial.
Finalmente, uma outra questão. Se formos falar de marcas, será que não temos marcas para competir a nível global? Neste capítulo desconheço muitas mais para além das do futebol. Agora – desde há uns tempos – temos as do ensino superior. Por isso não me admira nada que a geração mais bem preparada de sempre de sempre vá e não volte. É que as organizações internacionais já perceberam. Perceberam que as nossas escolas de gestão estão a produzir muito e muito bem. E essa é uma outra face da moeda do êxodo dos mais jovens que parece termos cerimónia em ver, apoiar e até aplaudir.